Erros, enganos e equívocos. Tudo aquilo que não queremos.
Errar ou não errar? Permitir que um filho erre? E depois de errar? São todas perguntas das quais queremos fugir, verdade? Sim. Mas deveria ser errado. Há verdadeiras e extraordinárias evidências da criatividade humana, que nos dizem que devemos errar. Que devemos ter a capacidade de não ter medo… de errar.
Há uns dias estive num pequeno ciclo de conferências organizado por um Colégio em Lisboa, onde o Manuel, aluno do 10º ano perguntou, se escolhendo ciências podia depois ir para artes, ou se estando em artes poderia depois enveredar por uma carreira em medicina.
A pergunta é: que espaço irão dar os pais do Manuel para ele errar?
Não foi a primeira vez que estive num colégio a falar para uma audiência de jovens estudantes. Mas talvez tenha sido o dia que realmente confirmei que a educação nos vai levar a um futuro que ainda não compreendemos. Que não conhecemos. Que temos que o ir construindo na base da incerteza.
O que me coloca, ou melhor… nos coloca, numa situação em que não fazemos ideia do que vai acontecer. Eu pelo menos não faço! E esta incerteza agrada-me. E muito.
Reparem: as crianças que vão começar a escola este ano irão licenciar-se em 2031 e terminar os seus mestrados em 2033. Melhor ainda, irão reformar-se em 2076! Alguém faz ideia de como será o mundo em 2076?
Não. Ninguém faz ideia certamente. Mas temos que os educar. Com base na indecisão, na imprevisibilidade.
E a imprevisibilidade é algo de extraordinário! O futuro, o talento, a capacidade desta e daquela criança. É evidente que todas elas, e nas suas variadas formas, têm capacidades e talentos extraordinários, já o disse Sir Ken Robinson, um dos melhores especialistas em educação.
Eu sou suspeito para referir isto, pois sou pai e sou professor, mas acredito que todas as crianças têm talentos tremendos, que nós estrangulamos impiedosamente! O mais valioso de todos eles é a criatividade! Tão valioso como a literacia. Diria mais até, tão valioso que deveríamos tratá-los, criatividade e literacia, exactamente da mesma forma. E não sou o único a dizê-lo!
A forma mais primária da revelação dessa criatividade é a propensão para o erro. Pura e simplesmente as crianças não têm medo de errar. E se não estivessem preparadas para errar, nunca mas nunca iriam conseguir nada original. Elas têm uma capacidade para errar que está ausente nos adultos.
E nós adultos? Nós limitamos e continuamos insistentemente a circunscrever essa capacidade.
Olhemos à nossa volta: quantos adultos conhecemos que tenham esta capacidade? Melhor, quantos de nós, adultos, procuram o erro para melhorar, para criar? E é assim que gerimos a nossa vida, a nossa família, o nosso emprego, a nossa empresa: estigmatizando os enganos, fugindo dos erros, fugindo da criatividade.
Sir Ken Robinson, diz e muito bem, que se não somos educados com a criatividade, somos educados para fora dela. Afastamo-nos dela. Desprezamo-la. Somos ensinados a duvidar dela e pior, ensinados a esquecê-la.
E agora Manuel? Em que vais arriscar?