Fui, juro que fui, ao site do PCP. Está lá o programa. É um mar de flores, bem escrito, mas por trás de cada rosa estão os espinhos todos. O planeamento da economia, o controlo dos meios de produção, enfim, a cartilha comunista, é certo que burilada e cromada mas está lá toda. E está bem. O PCP é realmente um partido com paredes de vidro. Diz ao que vem. Nunca se viu um comunista no activo renegar o comunismo sem sair (ou ser posto fora). As pessoas, e não são poucas, que acham que os comunistas não defendem a sua ideologia, são ingénuas. Não fui, admito, procurar o programa do Bloco, por uma questão de higiene ocular.

O esquerda.net, site oficial do Bloco, noticiou esta semana com grande destaque, que “intelectuais de direita” se manifestaram contra o acordo PSD/Chega nos Açores. Lendo este título, não pude deixar de recordar a frase premonitória do Alberto Gonçalves publicada no Observador, “A nossa ‘direita’, que não acha Trump civilizado, convive jovial e literalmente com socialistas, comunistas, bloquistas e vigaristas em geral, todos modelos de civilidade e sofisticação e verdade.”

Eu compreendo perfeitamente que se assinalem e evitem os movimentos extremistas. Um dos meus recentes passatempos tem sido o de ler sobre o percurso alemão nos aos 30, após a República de Weimar, e o que levou um povo moderno e culto a eleger os nacional-socialistas, repito, socialistas. Ora, um dos elementos centrais desta desgraça foi precisamente o esvaziamento do centro político: nos anos 30, a opção de muitos Alemães era entre o puro comunismo estalinista e a lei e ordem que Hitler prometia, tudo isto um clima de tremendo sacrifício económico e social. O desaparecimento do centro político/partidário foi desastroso.

Portanto, compreendo a rejeição dos extremos. Tivéssemos nós um PS que rejeitasse acordos com a extrema-esquerda, como Soares fez, e um PSD com algum sinal de vida e o país seria melhor, escrevo sem ironia.

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Porém a realidade é o que é.

Sendo assim, é admirável que um grupo de pessoas, na maior parte dos casos jovens profissionais de sucesso e todos ligados à direita, façam o triste serviço de subscrever o texto que apareceu no Público, cheios de pudor com o que classificam como deriva nacionalista, identitária e tribal e sem uma só referência ao seu exacto equivalente na esquerda radical. A esquerda que em Portugal, no Parlamento, nas ruas e directamente nos corredores do poder condena o país a ter resultados de miséria nos mais diversos índices da governação, do bem-estar, da saúde pública, enfim, you name it. A mesma esquerda que em Espanha está a fazer daquele país o péssimo exemplo da Europa a nível económico, de saúde pública e que tem o registo de liberdade de imprensa que vamos conhecendo. A mesma esquerda que se enamorou do frentismo de Chavez e que fugiu a sete pés quando se tornou claro que o país atingiu o ideal da igualdade: a pobreza extrema cobre toda a população. Não perceber que esta esquerda é precisamente a que causa o movimento oposto é não querer ver.

Tudo isto na semana em que se comemoram 31 anos da queda do Muro de Berlim, sobre a qual Pablo Iglésias, o líder do Podemos afirmou, há tempos, “La caída del Muro de Berlín fue una mala noticia para todos“.

O que os preocupa não é, pois, a rejeição dos extremismos. É mais a rejeição dos extremismos de direita. Ou talvez, mais prosaicamente, o que os motiva é a procura de reconhecimento no politicamente correcto sistema em que vivemos. Liberdade de expressão, tudo bem, mas convém não sair do corredor de opinião, o “åsiktskorridor” dos Suecos.

Colocando-se esta posição, não admira que o esquerda.net os chame ao palco. É o palco que escolheram.