Quando grande parte das pessoas faz uma descrição pessoal, utiliza um destes substantivos, ou até todos. Não é de todo original, o que por si só é preocupante: há cada vez mais gente que só vai para onde for a multidão, sem sequer refletir para onde, como e porquê. Não há quem tente pensar por si ou chegar às suas próprias conclusões. É mais fácil, cómodo e popular ir com o resto do rebanho do que arriscar as consequências de poder vir a ser uma ovelha negra. Mas o problema de pensar e refletir é que podemos chegar à conclusão, por exemplo, que estes cinco conceitos talvez sejam vazios.
Antifascista. O fascismo pressupõe um regime ditatorial, ultranacionalismo autoritário, desprezo pela democracia eleitoral, repressão da oposição pela força e cessação da liberdade. Como não há indícios de qualquer destas características nos países ocidentais desenvolvidos, como o nosso, então a expressão tem tanta validade como dizer que se é contra o costume antigo de os médicos perfurarem a cabeça dos pacientes para libertarem espíritos malignos. Qualquer pessoa de hoje com senso comum é contra isso, opõr-se não faz de ninguém diferente ou extrardinário.
Feminista. Tenho grande admiração pelas grandes feministas da História, mulheres que se destacaram pelo seu brilhantismo e elevaram a fasquia, num mundo onde não tinham o direito de propriedade, de estudo ou de participar na vida pública. Cristina de Pisano, Joana d’Arc, Teresa de Ávila, Mary Wollstonecraft, Marie Curie, só para mencionar meia-dúzia das mais conhecidas e a quem a nossa sociedade tem de estar eternamente grata. Comparar com as feministas ocidentais dos dias de hoje é, no mínimo, bastante anacrónico. Quando agora se fala em igualdade, é provável que se esteja a referir cargos de poder. Sim, porque não será com certeza em todos os trabalhos: pedreiro, lixeiro, pescador e militar, por exemplo, onde quase todos são homens, incluindo quem combate nas guerras. Convém salientar que a predisposição masculina para ser provedor vem desde sempre, o que deverá pressupor características genéticas, mas ao mesmo tempo são os homens que ocupam a grande maioria da população nas prisões, nos suicídios e nos sem-abrigo. Também as mulheres não devem querer perder o direito preferencial, em caso de divórcio, a ficar a morar com os filhos. Se vamos falar de igualdade e não de equidade, estamos a alterar toda a estrutura da sociedade, algo que não acredito que as atuais feministas queiram fazer. É verdade que ainda há situações de injustiça salarial ou acesso a cargos de poder, principalmente em países com maior nível de atraso e corrupção, mas também não é mentira que têm agora uma carga ideológica muito acentuada e quase sempre são instrumentalizadas por agendas obscuras, grupos de interesse e partidos políticos. Já nos países muçulmanos, os direitos das mulheres estão em níveis equivalentes à idade média ocidental, pelo que deveria ser essa a preocupação fundamental hoje em dia – se não é, a razão vem dos mesmos objetivos ideológicos que movimentam a maioria das feministas de hoje, o que por si só é uma contradição insanável.
Antirracista. E um termo um bocado estranho hoje em dia, porque é crença generalizada entre nós que o racismo é um disparate. Em culturas e lugares fechados, talvez faça parte da natureza humana a resistência ou medo ao que é diferente, seja pensamento ou raça ou tecnologia. Mas na nossa sociedade, tão multicultural e miscigenada, é sinónimo de orgulho que as nossas tradições sejam resultado da concentração de diferentes povos do mundo. O que tenho reparado é um outro fenómeno comum: quem se diz vítima de racismo ou xenofobia no nosso país é, muitas vezes, quem também vem com preconceitos de raiz e que portanto é avesso a qualquer espécie de integração na nossa sociedade. O desenvolvimento da civilização humana, e inevitavelmente globalizada, não separa as pessoas em raças ou credos. O sofrimento perante as injustiças, desigualdades e descriminações não tem tem cor ou pensamento. E só a humanidade como um todo pode resolver as crescentes assimetrias e desigualdades.
Ativista. Serve para designar alguém que se considera um defensor ativo de algo, normalmente de uma minoria. Nada contra, o problema é que são quase sempre apenas ferramentas de grupos de interesse ou lobbies progressistas que têm objetivos específicos e que não se interessam minimamente pelo bem-estar dessas mesmas minorias. Pior ainda, esquecem a maior e mais pequena minoria de todas: a pessoa humana, individual e única no seu lugar, peso e sofrimento na sociedade. Ser ativista também deveria significar sair do sofá e do telemóvel, fazer algo palpável fora da zona de conforto, sair da própria bolha, ver o mundo como ele é e contribuir para que a vida de uma ou várias pessoas seja realmente mais justa.
Ecologista. Defender o ambiente deve ser muito mais do que reciclar o lixo em casa e plantar uma árvore ao fim-de-semana. Faz parte da responsabilidade pessoal, na sociedade e na empresa, ser um agente de mudança e combater a cultura de desperdício. Sobretudo para os gestores, pois está provada a relação entre empresas que promovem a sustentabilidade e a melhoria da performance financeira. Além disso, a legislação é cada vez mais apertada e castiga os prevaricadores, por isso quem se assume contra a preservação do meio-ambiente é uma excepção à regra. A sensibilidade ocidental tem vindo a crescer, ao longo das décadas, portanto seria mais congruente que os ambientalistas fanáticos tentassem destruir as obras de arte dos grandes países asiáticos em vias de desenvolvimento e ocupassem escolas perto das maiores indústrias mundiais de manufatura que utilizam grandes quantidades de combustíveis fósseis.
Conclusão. Estes cinco conceitos dizem tudo sobre uma pessoa e não dizem nada. Dizem-nos que são seguidoras, que se definem de forma simplista e que não têm grande ideia de si próprias: não conseguem sequer esforçar-se para ter um pensamento original ou desconfortável ou sequer com algum conteúdo. Não nos dizem quem é a pessoa na sua essência, por isso resta apenas spam e um anexo com um folheto cheio de ideias que não são suas.