Javier Milei tomou posse como Presidente da Argentina no passado dia 10 de dezembro, tendo sido eleito com 55,7% dos votos. Depois de uma surpreendente primeira volta, Milei e o partido La Libertad Avanza, com apenas dois anos de vida política, dois deputados, nenhum senador ou ministro, venceu as eleições argentinas, derrotando assim o Peronista Sérgio Massas, ministro da economia da passada legislatura.

O Irreverente economista, anarco-capitalista, conservador, tem estado na boca do mundo e com ele a Argentina. Com propostas como o fim do banco central, um mercado livre de venda de órgãos humanos, a substituição do peso argentino pelo Dólar, etc.

Milei promete recuperar economicamente um país que nos últimos 42 anos apresenta uma taxa média de inflação anual a rondar os 206%. O ano de 2023, não foi diferente, a Argentina viu a inflação escalar os 142%. Números que deixam qualquer povo intimidado.

Com cerca de 40% da população a viver no limiar da pobreza, a Argentina evidentemente que necessitava de uma mudança rápida. Milei exibe-se como motor da mudança, um “salvador” de uma população cansada. O seu adversário foi, nada mais nada menos, que o ministro da economia de um governo falhado. Discípulo de governos que trouxeram a Argentina a uma decadência histórica. No ranking do índice de liberdade económica a Argentina ocupa o lugar 144 de 177, estando atrás de países como o Quénia, a Serra Leoa, o Bangladesh, entre outros.

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Não deixa de ser curioso pensar como que o centro-esquerda não conseguiu escolher ninguém melhor que o ministro da economia. Um ministro de uma economia falida para combater o discurso de Milei. O anarco-capitalista, obviamente, usou isso a seu favor e fez da agenda económica a sua principal bandeira. A população, ouviu-o e desesperada acabou por usar a lógica do ex-candidato brasileiro Tiririca: “pior do que está não fica”.

O cabelo e a quantidade de palavrões que usa corporizaram uma série de propostas “revolucionárias” que, bem ou mal, diferem das convencionais. Com todas as dúvidas que Milei possa trazer, não deixa de ser um obcecado pela economia Argentina.

Parece-me que as medidas que quer pôr em prática são, diria, excessivas e pouco realistas. Desde logo porque, ao longo dos anos, o governo argentino implementou diferentes programas de assistência e de subsídios para ajudar a população mais desfavorecida. Cortar este tipo de apoios, de um momento para o outro, pode trazer um grave abalo à estrutura social da Argentina. Irresponsável ou temerário?

Desde a redemocratização da Argentina, apenas 3 dos 11 presidentes não eram peronistas. Milei será o quarto. Não tendo maioria no congresso, vai necessitar do apoio dos moderados.

E, após as eleições, tem de facto moderado o seu discurso, tornando-o mais realista e pragmático.

A aliança com o partido de Maurício Macri (ex-presidente) e com os peronistas de Córdoba tem tornado evidente que Milei precisa de um discurso mais frugal para conseguir governar e dar estabilidade política à Argentina, que tanto precisa.

Só o futuro poderá ditar o sucesso ou insucesso da direita na Argentina. Com um Milei mais moderado algumas das propostas podem mesmo vingar. O descontentamento dos sucessivos governos peronistas fez-se sentir nas urnas e poderá ser um ponto de viragem, não só na Argentina, mas também na América do sul.