“Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a divida. E se o fizermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem. Estou-me marimbando para o banco alemão que nos emprestou dinheiro nas condições em que nos emprestou. Estou marimbando-me para que nos chamem irresponsáveis.”
Pedro Nuno Santos, 10 de Dezembro de 2011
O homem que disse estas palavras é candidato a primeiro-ministro de Portugal.
E isso significa que, desde Mário Soares, um dos pais da democracia portuguesa, o Partido Socialista está em plano inclinado, sempre a descer de nível. Com António Guterres, tivemos o pântano, Guterres demitiu-se, invocando… a perda das eleições… autárquicas! Com José Sócrates, tivemos a bancarrota, o Partido Socialista chama a Troika para Portugal. Com António Costa, tivemos os casos da Justiça, António Costa demite-se. Agora, temos um candidato do Partido Socialista que se afirma fazedor, uma espécie de novo Fontes Pereira de Melo (fez o quê?). Estamos a falar de um membro do Governo que não reconhece a autoridade do primeiro-ministro e anuncia, unilateralmente, a localização do novo Aeroporto de Lisboa. E que, depois de publicamente ser desautorizado pelo mesmo primeiro-ministro, se mantém alegremente como membro do Governo. O mesmo membro do Governo que se esquece dos WhatsApp que envia, por vezes relativos a decisões que são difíceis de esquecer e que mereciam outro procedimento… talvez um pouco mais formal?
Que personalidade vemos aqui? Não sou psicólogo, mas alguém que, com todo o ênfase, e enquanto vice-presidente da bancada parlamentar do Partido Socialista, diz “estou-me marimbando para que nos chamem irresponsáveis” e que, consistentemente com esta declaração, mais tarde, enquanto ministro, se marimba para a autoridade do primeiro-ministro, parece-me, como dizer, um… irresponsável?, um autoritário que não reconhece compromissos e hierarquias?, um Narciso que adora ouvir-se e que, no calor do entusiasmo, diz o que lhe vai na alma, ou, pelo menos, aquilo que a audiência do momento quer ouvir? Bom, mas não sou psicólogo e, provavelmente, esta interpretação de leigo está muito longe da… verdade?
Estamos em campanha eleitoral e o Partido Socialista, que, enquanto Governo de Portugal, foi o maior aliado objetivo do Chega, pela forma como lhe deu palco através do tratamento que o seu primeiro-ministro e o seu presidente da Assembleia da República deram a André Ventura, fazendo convergir neste as atenções da comunicação social (certamente de uma forma inconsciente?), o Partido Socialista vem agora dizer que a AD se quer aliar com o Chega? Estamos a falar do mesmo Partido Socialista que nunca disse aos Portugueses que se ia aliar com a Extrema Esquerda e que, depois de perder as eleições em 2015, fez essa aliança?
Não, estamos a falar de um outro Partido Socialista, agora revigorado, com um novo rosto.
Queremos este “fazedor” como primeiro ministro? Ou será que nos estamos a marimbar?
Não tenho as pernas dos banqueiros alemães, mas quem faz ameaças entusiasmadas deste calibre – por mais que, depois, diga que foi mal interpretado – é imprevisível.
E imprevisibilidade é tudo o que um país não precisa num primeiro-ministro.
Os Portugueses têm a palavra.