O poder local encontra-se intrinsecamente ligado ao melhor e ao pior da vida política, sendo nos territórios de menor dimensão que mais se intensifica a influência negativa ou positiva.

Se por um lado a proximidade do autarca à população pode – com maior probabilidade – fomentar uma melhor convivência e sensibilidade para as problemáticas do quotidiano, a mencionada familiaridade e informalidade proporciona – no sentido antagónico – um maior controlo sobre o eleitorado.

Nos meios de menor dimensão, os autarcas são – na sua maioria – figuras presentes na sociedade, estendendo a sua área de atuação para além da autarquia, o que se consubstancia com a presença assídua em associações e grupos empresariais dos mais diversos tipos.

Por intermédio das pessoas coletivas imediatamente supra referidas, é-lhes concedida margem de manobra para ir gerindo os empregos, as expectativas e as posições de poder dos eleitores, trabalho que é realizado durante os quatro anos de mandato, intensificando no último de forma a garantir os apoios para a batalha que se avizinha.

Se numa localidade com 10.000 habitantes, o autarca e os seus tentáculos políticos entre associações, empresas, quadros de autarquia e demais oportunidades gerirem o futuro de cerca de 1.000 postos de trabalho e considerando que cada um destes entre pais, filhos, irmãos, primos e amigos consegue garantir mais 3 votos com vista à manutenção das boas condições vigentes, situamo-nos perante o garante de 4.000 votos, correspondentes a 40% do total elencado no exercício.

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Este controlo de elevada percentagem do eleitorado, que sucede com maior frequência daquela que seria desejável, reflete explicitamente a facilidade que existe em monopolizar uma autarquia e controlar os seus desígnios – por vezes hipotecando-os – durante gerações.

Não bastante, são também fomentados por outros estigmas. Vive-se – há décadas – sobre a permanente alçada da aparência, que se consubstancia como fator determinante à avaliação da figura política de qualquer candidato, o que projeta o raciocínio eleitoral na direção errada.

A opção pelo candidato que é mais sorridente, leva uma vida pacata e tradicional, comparece frequentemente à eucaristia dominical e num ou outro bailarico de verão em ano de eleições, é um fenómeno impercetível que se desadequa totalmente das funções inerentes à Presidência, não sendo as capacidades que realmente importam para o efeito tomadas em consideração.

Os meios de menor dimensão – localizados essencialmente no interior do país – padecem na sua maioria de um destes dois entraves, ou até de ambos. Não sendo possível afirmar com certeza qual deles se torna no maior travão ao desenvolvimento, se o monopólio político e/ou partidário, ou se o cultural e impertinente que se verifica enraizado na sociedade portuguesa.

Para se colocar termo a práticas do século transato que ainda vingam no ordenamento português, mostra-se primordial que os jovens sigam um caminho diferente do político tradicional e adstrito aos padrões tipificados.

Adicionalmente, manifesta-se necessário que sejam próximos do povo no intuído de satisfazer as respetivas necessidades e não de o controlar, que se encontrem presentes no quotidiano das comunidades e se munam de habilidade para gerir os recursos, preservar o património e preparar o futuro.

Nesta senda, devem os futuros políticos operar longe dos monopólios e com acentuada distância do facciosismo, da sede de poder e dos comportamentos menos transparentes que condicionam a progressão social e económica das autarquias e dos seus cidadãos.

Não é raro encontrarmos uma freguesia, vila ou pequena cidade que persiste com os cargos do poder decisório reféns de uma, duas ou três famílias de maior expressão financeira ou, em alternativa, à mercê de quem escala politicamente entre juntas de freguesia, assembleias municipais e executivos camarários.

Todas as formas de nepotismo eleitoral e perpetuação de cargos são prejudiciais ao bom funcionamento e desenvolvimento dos territórios. Qualquer um dos eleitos por estes motivos, apesar de toda a simpatia que possa reproduzir e de possuir habilidade para vender uma figura identificável ao que se padroniza na sociedade, será sempre um governante inferior ao que se abastece com propósito, visão e dinâmica.