No dia 20 do mês passado foi apresentado na Alemanha um relatório sobre os abusos de menores ocorridos na diocese de Munique e Frisinga entre 1945 e 2019, abrangendo o pontificado de todos os bispos diocesanos daquele período, incluindo o actual. A responsabilidade da investigação, redacção final e apresentação pública foi de um escritório de advogados alemão – Westpfahl Spilker Wastl (WSW) de seu nome.

Obedeceu a uma encomenda, feita em Fevereiro de 2020, pelo actual cardeal-arcebispo da diocese, cardeal Reinhard Marx, que sentiu a necessidade de apresentar no ano passado um pedido de demissão, devido precisamente ao problema dos abusos sexuais de menores na Igreja alemã, a cuja Conferência Episcopal presidia. O pedido foi, entretanto, recusado por Francisco, continuando Marx ainda à frente da diocese de Munique. Aliás, ele próprio é apontado no relatório da WSW por má prática na gestão de dois casos de abusos sexuais.

O relatório, de 1900 páginas, tem merecido críticas do ponto de vista do seu valor. Segundo afirma um jurista alemão e ex-membro do Tribunal de Estado da Baixa Saxónia, Lothar Christian Rilinger, em artigo intitulado Benedict XVI and the Abuse Report, “qualquer pessoa que seja minimamente conhecedora de procedimentos forenses tem conhecimento acerca dos problemas inerentes aos relatórios privados. Qualquer pessoa que tenha um relatório preparado privadamente, não só tem que suportar por inteiro os custos dos peritos, mas também tem um interesse especial nos resultados”. E sobre a suposta objectividade deste tipo de relatórios, diz este jurista: “um relatório encomendado, que se presumia ser tão objectivo quanto possível, representa inevitavelmente uma opinião subjectiva. Contudo, é olhado pelo público como uma decisão quase-legal, apesar de que os relatórios privados não podem alcançar qualquer força legal, absolutamente nenhuma”. E mais, sobre a parcialidade do mesmo, afirma Rilinger: “Enquanto privado, o relatório sobre os abusos é meramente uma opinião particular encomendada pela arquidiocese. […] Não pode excluir-se que os interesses do cliente não tivessem sido tidos em conta, como é habitual com opiniões particulares” (.

Diz o relatório que entre 1945 e 2019, foram abusadas pelo menos 497 pessoas (maioritariamente do sexo masculino); 60% das vítimas tinham entre 8 e 14 anos; apurou-se um total de 235 abusadores, dos quais 173 padres, 9 diáconos, 5 colaboradores pastorais e 48 oriundos de meios escolares (cf. Vatican News, 20 de Janeiro de 2022). Só o então arcebispo Joseph Ratzinger, que esteve à frente da diocese de Munique entre Maio de 1977 e Fevereiro de 1982, merece 72 das 1900 páginas do relatório. Ratzinger tinha, aliás, demonstrado a sua solicitude em relação à investigação, através de uma declaração “Pró-memória” escrita de 82 páginas, enviada anteriormente. O relatório aponta o então cardeal-arcebispo Ratzinger como tendo negligenciado a gestão de quatro de um total de 65 casos, apresentados com os números 22, 37, 40 e 42.

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Os media anticlericais e os inimigos da Igreja Católica apressaram-se sobretudo a destacar a figura do Papa emérito, tido depreciativamente como ortodoxo defensor da fé, de modo a desacreditarem todo o seu pontificado e com ele ainda mais a Igreja, já tão conspurcada pelos escândalos sexuais e financeiros; por graves questões doutrinais; à beira do cisma na Alemanha; e por guerrilhas de influência e poder em Roma. Como reconheceu Andrea Tornielli, director editorial do Dicastério para a Comunicação, “foram os quatro anos e meio de Ratzinger à frente da diocese bávara que monopolizaram a atenção dos comentários” (Vatican News, 26 de Janeiro de 2022).

De facto, acedendo aos media internacionais, os múltiplos relatos ao redor do relatório, concentram-se sobretudo em Ratzinger, permitindo legitimamente pensar que a humilhação da sua figura foi o grande leitmotif de quem promoveu a investigação. Segundo relata a revista America dos jesuítas dos Estados Unidos (de 25 de Janeiro de 2022), três conhecidas instâncias do progressismo católico alemão – o “Comité Central dos Católicos Alemães” (ZdK) que representa, supostamente, os leigos católicos, o movimento de mulheres “Maria 2.0”, de Münster, e o movimento “Nós Somos Igreja” (Wir sind Kirche) – já quase reclamam a cabeça de Bento XVI.

Todos os quatro casos relacionados com Ratzinger, tal como foram apresentados, evidenciam fraquezas nos seus argumentos e suposições, impossíveis de relatar na totalidade no espaço desta crónica. Leia-se a propósito a análise do historiador e vaticanista Michael Hesemann, intitulado Did Ratzinger (Benedict XVI) really cover up sex scandals?. Também o que escreveu o psiquiatra Manfred Lütz a este respeito merece ser citado: “Após uma meticulosa pesquisa [das partes do texto relativas a Ratzinger] feita pelos recenseadores críticos, não existia uma só peça de sólida evidência em qualquer dos quatro casos de que era acusado Ratzinger, de que ele tinha conhecimento da história de abusos. A única ‘prova’ foi a declaração de duas duvidosas testemunhas de um dos casos que, de um boato, agora exclamavam o oposto do que tinham afirmado anos atrás”.

Aquele que causou mais indignação aos jornalistas, ao ponto de alguns acusarem o Papa emérito de ter faltado à verdade, por má-fé, ou seja, ter mentido, é o caso nº 37, relativo ao padre Peter Hullermann.

Hesemann, no referido artigo, relata assim este caso 37, sem nunca referir o nome do sacerdote em causa (tradução do inglês, minha):

“Um padre da diocese de Essen tinha sido condenado por ‘tentativa de fornicação com crianças e ofensa sexual’ no começo da década de 1970s, isto é, ao tempo do predecessor de Ratzinger, o cardeal Julius Döpfner. Imediatamente a diocese o removeu do ministério [serviço] do ensino. Cinco anos mais tarde, agora sob Ratzinger, houve uma segunda condenação por actos exibicionistas. Ratzinger tinha concordado que o padre deveria, não obstante, permanecer no posto onde ele, um ano mais tarde, reincidiu”.

“Agora o tribunal sentenciou-o a um período de pena suspensa. Depois de receber tratamento médico especializado ele foi subsequentemente empregado por uma escola privada, como professor de religião. Enquanto Bento XVI nega ter sido inteiramente informado acerca do caso, o comportamento do seu vigário-geral é pelo menos compreensível: durante o mandato de Ratzinger, o padre em questão apenas tinha sido declarado culpado de ser um exibicionista, portanto, não tinha cometido actos contra crianças. Uma transferência estava fora de questão porque ele estava a ser submetido a tratamento psiquiátrico localmente. Quando ele reincidiu, foi demitido do ministério pastoral; ensinou então numa escola de negócios privada, onde, de acordo com o director, se comportou impecavelmente”.

“Alem do mais, nos anos 1970s acreditava-se que o exibicionismo e a pedofilia eram doenças curáveis, que podiam ser curáveis através de tratamento psiquiátrico. Portanto, mais uma vez, não há evidência de nenhuma má-prática ou negligência por parte do arcebispo Ratzinger”.

Na declaração de 82 páginas anteriormente entregue aos peritos da WSW, escreveu-se que Bento XVI declarava não ter participado numa importante reunião do “Ordinariato”, nos idos de 15 de Janeiro de 1980, onde se tinha discutido o caso do padre Peter Hullermann; sendo que, efectivamente, esteve, conforme atesta a respectiva acta. E daí a presunção de muitos dos articulistas e até dos peritos de que o então arcebispo tinha autorizado o exercício do ministério pastoral ao referido padre, sabendo das anteriores condenações por abuso.

O extenso relatório dos peritos, em formato PDF, chegou ao Papa emérito na tarde de quinta-feira, dia 20, no próprio dia da apresentação ao público. Quatro dias depois, a 24, o seu secretário particular, arcebispo Georg Gänswein, emitia uma declaração de seis breves parágrafos que transcrevo na íntegra (tradução, a partir das versões em italiano e inglês, minha):

“Desde quinta-feira à tarde o Papa emérito Bento XVI tem à sua disposição, num ficheiro PDF, o relatório dos peritos do escritório de advogados de Munique, Westpfahl Spilker Wastl, apresentado no mesmo dia”.

“Actualmente, está lendo atentamente as declarações ali feitas, que o enchem de vergonha e dor pelos sofrimentos que foram infligidos às vítimas. Embora ele se esforce por ler rapidamente o relatório, pede a vossa compreensão pelo facto de ir demorar algum tempo a lê-lo integralmente, devido à sua idade e à sua saúde, mas também ao seu grande volume. Haverá uma declaração sobre o relatório dos peritos”.

“Todavia, deseja agora esclarecer que, contrariamente a quanto declarou na audiência, participou na reunião do Ordinariato de 15 de Janeiro de 1980”.

“A afirmação contrária era assim objectivamente errada. Ele gostaria de sublinhar que isto não foi feito com malévola intenção, mas foi resultado de um engano na redacção da sua declaração. Explicará como se chegou a este engano na declaração que ainda está para ser emitida. Está muito desgostado por este erro e pede para ser desculpado”.

“Contudo, objectivamente correcta e documentada pelos arquivos é a afirmação de que nesta reunião não foi tomada nenhuma decisão acerca da atribuição [de encargo] pastoral ao sacerdote em questão. Ou melhor, só foi concedido o pedido para que lhe fosse fornecido um alojamento durante o seu tratamento terapêutico em Munique”.

“Bento XVI sente-se próximo da sua anterior arquidiocese e diocese de origem, especialmente nestes dias, e dela está muito próximo nos seus esforços para esclarecer a situação. Pensa sobretudo nas vítimas que tiveram que sofrer os abusos sexuais e a indiferença”.

“+ Georg Gänswein”

O jovem bispo de Passau, na Baviera, notava, entretanto, o seguinte: como é que o Papa emérito poderia ter tão descuidadamente mentido de má-fé, numa declaração feita necessariamente depois de Fevereiro de 2020, se na volumosa biografia Benedikt XVI: Ein Leben, de Peter Seewald, saída na Alemanha em Maio de 2020, o autorizado autor alemão, certamente depois de investigar o caso, escreve o seguinte, referindo-se à reunião de 15 de Janeiro de 1980:

“[…] O programa de notícias da TV Heute Journal difundiu que com o caso de Munique [o tema d]o abuso tinha agora ‘atingido o Vaticano’. De facto, o caso já tinha sido relatado nos media em 1986, quando o padre atinente tinha sido sentenciado a liberdade condicional por abuso de menores. Nesse tempo já há muito que Ratzinger era prefeito em Roma. Quando era bispo, em 1980, ele tinha concordado, durante uma sessão do concelho diocesano, permitir que o referido padre viesse para Munique, para psicoterapia. Contudo, contrariamente a essa decisão, o vigário-geral Gerhard Gruber tinha permitido que o padre servisse novamente numa paróquia.” (tradução a partir da versão em inglês, minha; cf. Volume II, p. 422).

Entretanto, Gruber já confirmou que foi efectivamente de sua iniciativa a colocação do padre numa paróquia. Ratzinger limitou-se a permitir a residência no território da sua diocese, tendo em vista unicamente o tratamento.

O recente testemunho do médico psiquiatra e teólogo, Manfred Lütz, que já em Abril de 2003 organizara no Vaticano, a pedido expresso do cardeal Ratzinger, o primeiro congresso internacional sobre abuso sexual – com a participação dos especialistas mundialmente mais reconhecidos na matéria, “all of whom were not Catholic” – é altamente revelador das iniciativas que já então urgiam na mente preocupada do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que em 2001 conseguiu de João Paulo II que a competência sobre o tema da pedofilia praticada pelo clero fosse transferida para a sua tutela.

Muitas outras testemunhas se prontificaram a defender publicamente a honorabilidade do Papa emérito. Permito-me destacar aqui apenas as declarações de dois cardeais. Escreveu o cardeal Fernando Filoni, actual Grão-Mestre da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém, ex-Núncio nas Filipinas e ex-Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, em cujas funções privou com Bento XVI semanalmente, durante anos: “Nesses anos, a questão da pedofilia surgiu com virulência na Igreja. […] Sempre foi claro para mim que Bento XVI foi pressuroso a encarar essa questão com determinação. Nisto, posso testemunhar, antes do mais, da sua profunda e muito alta honestidade moral e intelectual”. […] Posso afirmar que nunca encontrei nele alguma sombra ou sequer tentativa de esconder ou minimizar nada. Nem a sua sensibilidade ao lidar com estas coisas com um profundo sentido moral, pode ser erroneamente interpretada como indecisão ou qualquer outra coisa”.

O outro testemunho é do cardeal Prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerhard Müller. Disse ele numa recente entrevista: “É francamente grotesco querer apresentar perante o mundo um homem como o Papa emérito Bento XVI / J. Ratzinger como mentiroso por uma reunião de há 42 anos, que seria uma de muitas centenas de reuniões que pode ou não se lembrar em que participou”. E acrescenta que “acusá-lo de uma atitude moralmente tão baixa não só mostra uma total falta de respeito relativamente a uma pessoa e um cristão que foi do mais meritório para a Igreja e a sociedade, como também revela as verdadeiras intenções que se cumpriram na campanha de difamação imoderadamente insensata contra ele”. Quanto aos autores do relatório, seus compatriotas, comenta o cardeal Müller: “estes advogados querem ser investigadores, fiscais, defensores e juízes, tudo em um. Só os tribunais ordinários do Estado são responsáveis por determinar os delitos, no sentido do direito penal.”

Mas como explicar a objectiva contradição atribuída ao Papa emérito? A análise dos factos, feita pelos mesmos quatro juristas que colaboraram com Ratzinger na redacção da “Pró-memória” de 82 páginas, dá-nos a resposta. O texto, previamente anunciado pelo secretário do próprio Papa emérito, na declaração de 24 de Janeiro, foi publicado pelo Vaticano no dia 8 de Fevereiro, como apêndice a uma pungente Carta do Pontífice, datada do dia 6. Na sua análise, os quatro juristas, rebatem as acusações do relatório dos peritos da WSW. Para o efeito, estudaram as 1900 páginas deste relatório, além de 8000 páginas de actas e documentos, fornecidas em formato digital. As conclusões foram claras:

  1. As actas da reunião de 15 de Janeiro de 1980 mostram que não foi decidido incumbir o padre em causa de qualquer actividade pastoral; e mostram que na mesma reunião não se discutiu o facto de que o padre tivesse cometido abuso sexual. Apenas se discutiu a questão da terapia em Munique e respectivo alojamento; e nem sequer foi abordado o motivo da terapia.
  2. Demonstra-se que o Papa emérito não cometeu qualquer perjuro ou mentira. Tudo se deveu a uma “errónea transcrição das actas” da reunião, feita por um dos colaboradores, o Dr. Stefan Korta e ao facto de os referidos colaboradores não terem verificado “perguntando expressamente a Bento XVI se tinha estado presente na reunião”. E o próprio Papa, tendo que validar o texto com grande pressa, perante o “limitado tempo imposto pelos peritos”, efectivamente “não notou o erro”. Para além disto, não faz qualquer sentido que Bento XVI mentisse, quando as actas da reunião reportam declarações feitas pelo próprio cardeal Ratzinger; vários artigos publicados em 2010, referem já a sua presença na dita reunião, sem que alguma vez fosse depois negada; assim como também o refere Peter Seewald na citada passagem (ver atrás) da sua biografia publicada em 2020, certamente revista pelo biografado.
  3. Quanto ao suposto mau-procedimento do cardeal noutros três casos: na análise feita pelos peritos da WSW, não consta nenhuma evidência de que Joseph Ratzinger tinha então conhecimento de se ter cometido ou suspeitado de abuso sexual por padres. Tratou-se apenas de uma “opinião subjectiva”, emitida e assumida pelos peritos, de que Ratzinger teria tido conhecimento…
  4. Quanto à alegação de que o cardeal Ratzinger minimizou os actos de exibicionismo, conclui-se que “a frase usada [pelos peritos] como alegada evidência de minimização do exibicionismo, foi tirada do contexto”. Na sua declaração, Bento XVI afirmara “com a máxima clareza que os abusos, incluindo o exibicionismo, são ‘terríveis’, ‘pecaminosos’, ‘moralmente repreensíveis’ e ‘irreparáveis’”.

Não se pode deixar de ficar indignado também pelas circunstâncias impostas ao ancião Papa emérito, nos seus 94 anos, fisicamente muito enfraquecido e praticamente cego de um olho. Se bem que ajudado por “um pequeno grupo de amigos” juristas – como se lhes refere na Carta de 6 de Fevereiro – foram-lhe enviadas para analisar 8000 (oito mil) páginas de documentos e actas, em formato digital (imagine-se) e só um dos juristas foi autorizado a ver os documentos. Bento XVI viu-se confrontado com uma serie de perguntas que lhe foram expressamente colocadas e às quais solicitamente respondeu numa declaração de 82 páginas; e depois ainda estudou e analisou o relatório dos peritos, de 1900 páginas. Tudo isto com prazos também impostos pelos ditos peritos…

Creio que perante tudo o que é sabido que Ratzinger disse e fez, logo enquanto Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e depois como Papa, para combater o flagelo dos abusos e da pedofilia na Igreja – desde chamar à sua Congregação a tutela do problema, até à elaboração de nova regulamentação de processos e de uma nova e pesada legislação penal; até punir abusadores, expulsando centenas e centenas deles do sacerdócio activo e receber muitas das vítimas dando-lhes espaço para falarem, durante as suas viagens apostólicas – manda o mais elementar sentido de justiça acreditar na explicação logo avançada pelo seu secretário particular e agora confirmada pela análise dos seus colaboradores, de que a objectiva contradição resultou efectivamente de “um engano na redacção da sua declaração”.

Aquele que desde a sua ordenação episcopal tem como lema Cooperatores Veritatis “cooperadores da Verdade”, não mentiu, não! E como pessoa de bem, não deixou naturalmente de se sentir magoado pelos que tentaram caluniá-lo: “Tocou-me profundamente que a distracção – referindo-se deste modo benevolente ao lapso de transcrição – tivesse sido utilizada para pôr em dúvida a minha veridicidade e até mesmo para me fazer aparecer como mentiroso”. E pela atitude que lhe foi expressa em todo este contexto pelo seu sucessor, escreve: “Sinto-me particularmente agradecido pela confiança, o apoio e a oração que o Papa Francisco me expressou pessoalmente” (cf. Carta do Papa Emérito Bento XVI, de 6 de Fevereiro de 2022).

Mas não se pense que Bento XVI se limitou a um lamento pessoal e a agradecimentos a “tantos” apoios, amigos e colaboradores. Assumiu dignamente a sua responsabilidade institucional perante este flagelo dos abusos, enquanto bispo de Munique e Papa da Igreja universal, não se furtando a pedir humildemente perdão: “Mais uma vez posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto maior é a minha dor pelos abusos e os erros que se verificaram durante o tempo do meu mandato nos respectivos lugares. Cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável. Para as vítimas de abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e lamento cada um dos casos” (ibidem).

Convicto de que “em breve” irá “atravessar com confiança a porta escura da morte” e bem consciente de que se encontrará “perante o último Juiz” da sua vida, BentoXVI / Joseph Ratzinger é a Ele que se entrega finalmente e sem medo (cf. ibidem).