“Pensei muito em Deus e como Ele sabe tudo e, [como] eu tinha sido paciente para continuar a trabalhar, o meu dia acabaria por chegar!” – declarou a judoca Telma Monteiro, depois de ter ganho, no passado dia 8 de Agosto, a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Uma medalha que certamente premeia a sua qualidade como atleta, mas também e sobretudo a sua persistência, pois estes são os quartos Jogos Olímpicos em que participa, depois de ter estado, sem ter ganho nenhuma medalha, em Atenas, em 2004; em 2008 em Pequim; e, há quatro anos, em Londres.

Agora, no Brasil, a consagrada atleta portuguesa conseguiu a medalha de bronze, não obstante a sua condição física não ser a melhor, como a própria reconheceu: “Foram meses de receio, lágrimas e muita luta. Pensei que podia não estar aqui hoje. Tudo o que eu queria era ter mais uma oportunidade. Passei mais meses a recuperar do que a treinar, mas às vezes as coisas acontecem assim. Já vim favorita e não deu. Hoje vim com o joelho ligado. O ombro luxado, mas foi na garra, no querer. Teve de ser, tinha de dar” (Público, 9-8-2016, p. 36).

Não o podia ter dito melhor: “foi na garra, no querer”. Uma vontade de ferro, sem dúvida, mas aliada à fé em Deus, a quem se referiu explicitamente depois desta sua tão desejada e esforçada vitória: “pensei muito em Deus …” Deus ajuda os audazes, como diz o antigo adágio latino, mas não concede as suas graças aos que não lutam. Esse não foi o caso de Telma Monteiro, uma mulher de armas, que nunca desistiu, que lutou sempre, que não desanimou. Nem sequer agora que estava com o ombro lixado, digo, luxado. A sua adversária não ignorava esta sua especial vulnerabilidade e quis até tirar proveito desta desvantagem da judoca portuguesa, mas sem efeito. Porque a Telma, como os outros campeões, da fraqueza tira a força, à semelhança do apóstolo que, a propósito das suas lutas interiores, dizia: “quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cor 12, 10).

Sempre que alguém, procedente de um meio socio-económico mais desfavorecido, ou pertencente a uma família desestruturada, é notícia por algum mau motivo, é comum atribuir as culpas às circunstâncias da sua vida. Um jovem argelino incendeia automóveis nos arredores de Paris? Claro, está desempregado, vive nos arrabaldes, não tem dinheiro, os pais estão divorciados, etc. Com certeza que as condições familiares, sociais e económicas não são indiferentes e é dever do Estado garantir a todos os cidadãos as condições necessárias para a sua realização pessoal e social. Mas não é menos verdade que também há pessoas que superam essas dificuldades. Com muita “garra”, como a Telma Monteiro, filha de um muito modesto pintor de automóveis e de uma cozinheira, algures na margem sul do Tejo.

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Condenada a viver num bairro social, onde os seus pais ganhavam o indispensável para manter a numerosa família – quatro filhos, sendo o último adoptado –, a Telma Monteiro poderia ter desistido de ser uma atleta de alta competição, uma medalhada nos Jogos Olímpicos. Mas não são as sapatilhas mais sofisticadas, nem o iPhone último modelo, nem a roupa de marca que fazem os grandes desportistas. A Telma, muito antes de ganhar uma medalha, já tinha conquistado a fibra de que se fazem os campeões, sem arrogância, sem mágoa ou tristeza. Aliás, nem dos que a venceram guarda ressentimento, porque cada derrota foi também uma lição, de que está grata. Está bem com a vida, sente-se abençoada e, com impressionante humildade, confessa: “a minha vida tem sido espectacular!”

Por detrás de uma grande mulher há sempre uma grande família! Grande sobretudo nos valores, na generosidade. É com emoção que se ouve a desportista contar como os seus pais, que viviam com muitas dificuldades, aceitaram adoptar um sobrinho que, de outra forma, teria sido entregue a uma instituição. Tinham todos os motivos para rejeitar aquela criança, que não era deles e que ia sobrecarregar consideravelmente o já exíguo orçamento familiar, mas foi opção que nem sequer consideraram, manifestando, com simplicidade, uma grandeza de alma que não é comum.

Aguerrida, combatente, muito agressiva sobre o tapete… a Telma Monteiro tem contudo uma alma sensível e, por isso, na sua excelente entrevista à SIC, não escondeu as lágrimas que lhe caíram pela face, quando recordou o treinador amigo, já desaparecido, mas que sente sempre presente. Depois, arrependeu-se de ter chorado, porque tinha prometido a si mesma que o não ia fazer, mas essa sua fraqueza é sinal da grandeza do seu coração. São Pedro dizia que o ouro, embora perecível, prova-se pelo fogo (1Pdr 1, 7). O bronze também se derrete, quando as chamas são de amor genuíno e verdadeira gratidão.

Parabéns, Telma Monteiro, glória do judo nacional e honra de Portugal!