Recentemente, partilhei um pouco sobre a inteligência artificial geral (em inglês Artificial General Intelligence — AGI) e referi-me à AGI como o Santo Graal da IA. Todos querem alcançar a promessa de uma máquina que possa pensar, aprender e resolver qualquer tarefa que um ser humano possa realizar. Mas, no meio disto tudo, onde entram os grandes modelos de linguagem (em inglês Large Language Models — LLMs)? Bem, estes modelos incríveis têm o poder de processar enormes quantidades de dados e gerar texto de forma surpreendentemente convincente (como este que o leitor está a ler). Alguns acreditam que os LLMs são o caminho para a tão sonhada AGI, enquanto outros os vêem como apenas uma pequena, e breve, “fagulha” no vasto campo da IA.

Os LLMs, chatGPT e similares, entraram de rompante no nosso dia a dia neste último ano. A inteligência artificial generativa é responsável pela criação de um conteúdo novo e original. Utiliza algoritmos para gerar conteúdos, tais como imagens, texto, vídeos e música sem a necessidade de intervenção humana. Na verdade, transformou a maneira como pensamos sobre inteligência e como fazemos as coisas. Quer gostemos ou não, quer saibamos ou não, ela veio para ficar. O leitor provavelmente até já teve a oportunidade de se familiarizar com o chatGPT e se calhar até já experimentou usá-lo.

Os LLMs têm em comum o número de parâmetros necessários para alcançar esse nível impressionante de compreensão da linguagem. E é por isso que os chamamos de “grandes modelos de linguagem”. Ao mesmo tempo, novos modelos consideravelmente menores estão no horizonte, exigindo menos parâmetros, menos complexidade e melhor desempenho. Se isto se tornar realidade, uma infinidade de ideias, dando origem a inovação e novas startups, irá surgir! Que ótimo período para investir em IA generativa!

Ou será?

O financiamento da IA Generativa está em ascensão. A tendência atual é o entusiasmo desenfreado por qualquer coisa impulsionada pelo GPT na esperança de que os lucros estejam à altura.

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Mas a tecnologia ainda está muito longe de ser estável. Os LLMs não são a “última batata do pacote” e novos modelos disruptivos começam a surgir. Os modelos atuais ainda apresentam muitos desafios: segurança, privacidade, acesso a dados em tempo real, memória de longo prazo, vieses, para citar apenas alguns.

A ânsia e procura elevada pelas promessas da IA, juntamente com uma disponibilidade sem precedentes – uma startup pode utilizar o chatGPT para potencializar a sua ideia numa questão de dias, e sem ter de perceber a IA em detalhe – resulta num mercado volátil. É quase caso para dizer que é fácil demais.

Será que estamos a assistir a uma nova nova corrida do ouro – uma corrida para investir e utilizar nesta preciosidade: os LLMs?

Eis a resposta do Writesonic (alimentado pelo GPT 4 e capaz de pesquisar dados em tempo real usando o Google) ao pedido: “Descreve uma bolha de investimento em IA generativa” (tradução para Português feita pelo ChatGPT)

“Os capitalistas de risco estão preocupados que a IA generativa possa se tornar a próxima bolha tecnológica [1][3]. O rápido crescimento e o hype em torno do setor têm levantado preocupações sobre startups supervalorizadas e avaliações insustentáveis [1]. Apesar dessas preocupações, existe um sentimento positivo dos investidores em relação à tecnologia, com a quantidade crescente de dados gerados e coletados sendo um dos principais impulsionadores do boom da IA [2]. A popularidade de ferramentas de consumo como ChatGPT, DALL-E e Lensa AI também tem alimentado a expansão do setor [1]. Embora a IA generativa tenha limitações na compreensão contextual e originalidade, ela pode ser uma ferramenta valiosa para tarefas e interações baseadas em linguagem quando suas capacidades e limitações são compreendidas e aplicadas adequadamente [2]. As empresas estão utilizando a IA generativa para melhorar o envolvimento com os clientes e reduzir os custos de suporte, mas para realmente transformar indústrias, as startups de IA precisarão dimensionar suas soluções, desenvolver modelos de negócio sustentáveis e focar no desenvolvimento de soluções que possam ser facilmente integradas aos fluxos de trabalho e processos existentes [2].

Então, o que devemos fazer? Creio que devemos, acima de tudo, estar muito cientes do potencial disruptivo da IA. Mas também devemos ter noção que este potencial leva a que muitas startups e tecnologias alimentadas por LLM sejam percepcionadas como pequenas pepitas de ouro. Quando na verdade, nem tudo o que reluz é ouro.

Numa fase em que a IA está amplamente disponível e se tornou muito fácil de implementar, parece que não há necessidade de conhecimento profundo em IA. Compreender a IA generativa é de extrema importância para a sociedade como um todo. À medida que esta tecnologia continua a avançar, ela tem o potencial de afetar e até revolucionar vários aspectos de nossas vidas, incluindo arte, literatura, música e até processos de tomada de decisão. Ao compreender o funcionamento da IA generativa, podemos apreciar as suas capacidades, mas também antecipar as suas limitações. Esta compreensão é essencial para que, enquanto indivíduos, sejamos capazes de participar ativamente no seu desenvolvimento, implementação e regulamentação, de forma responsável e ética. Para além disso, ao fomentar uma compreensão mais ampla da IA generativa, podemos promover uma sociedade mais inclusiva e participativa, onde indivíduos de diferentes origens possam contribuir e beneficiar da tecnologia. Uma sociedade que compreende a IA generativa pode aproveitar o seu potencial de forma eficaz, ao mesmo tempo em que mitiga os seus riscos, promovendo uma coexistência harmoniosa e equitativa entre humanos e máquinas (um conceito que, me arrisco dizer, não existia na minha mente até recentemente).

Referências:

[1] Whoops! Is generative AI already becoming a bubble?
[2] Is Generative AI the Next Tech Bubble?
[3] Generative AI is a bubble – we know what happens next”