O resultado das eleições portuguesas foi claro. Os portugueses castigaram seriamente o Partido Socialista, que caiu dos 41% para os 29%, mas também a extrema-esquerda que estagnou ou decaiu ainda mais face a 2022. Perante este cenário a AD manteve a votação que o PSD tivera em 2022, não beneficiando da queda do PS, tendo estagnado os seus votos (com um ligeiro aumento). Perante estes factos e com uma redução da abstenção para números recorde, fica claro que os portugueses saíram de casa para votar de forma disruptiva e pela mudança, e, como tal, no Chega.
A tendência de crescimento do Chega é o reflexo de 50 anos de um sistema político que se serviu apenas a si mesmo, e que deixou de fora os portugueses comuns, mas seria errado referir o voto no Chega como voto de protesto. Não o é. O voto no Chega é hoje um voto contra o bipartidarismo, sim, mas também um voto de esperança numa via alternativa á rotação de poder e interesses entre PS e PSD. Se algo ficou claro é que o PS quando governa empobrece e atrasa o país, cria desconfiança e opacidade nas instituições e cria maior dependência do Estado. Porém, os portugueses confiam cada vez menos no PSD como alternativa, e como tal deram ao Chega o maior crescimento assinalável (de 7% e 12 deputados para 18% e 48 deputados), tendo mesmo sido o partido vencedor em Faro, rompendo a dupla colorização do mapa eleitoral dos últimos 30 anos, e garantindo uma votação recorde para uma terceira força.
A questão que fica agora na mente de cada eleitor prende-se com o que se sucederá nos próximos dias e semanas, em matéria de solução de governo, dada a fragilidade da votação da AD. O cenário correto face à expressão da direita (PSD + Chega), seria a chegada a um acordo entre as partes para um governo entre os únicos partidos que podem apresentar uma solução estável. O Chega mostrou-se disponível, de forma ponderada e responsável, para negociar e dialogar, cumprindo a missão que os portugueses lhe atribuíram com mais de 1.1 milhões de votos, estando mesmo disponível para algumas cedências para garantir a estabilidade do país. O obstáculo à estabilidade é neste momento o PSD, que devido à teimosia de Montenegro, pode condenar o país a instabilidade e novas eleições, se recusar negociar, e assim ignorar os 1.1 milhões de eleitores do Chega, criando um governo frágil, pouco representativo da vontade dos portugueses. Neste cenário, e num caso de possíveis eleições num curto espaço de tempo, o PSD seria responsável pela ingovernabilidade do país, pela sua postura inflexível e pouco democrática face aos números resultantes de dia 10 de março.
Importa aqui salientar que o Chega se apresentou, de forma responsável e aberta ao diálogo, para se sentar à mesa com o PSD, visando uma solução estável que agrade aos portugueses, que votaram por uma maioria de direita expressiva entre o Chega e o PSD, e que como disse André Ventura, nunca abdicando de matérias decisivas como o combate à corrupção, a valorização de forças de segurança e professores, redução de impostos, controlo migratório, entre outros, estaria disponível para cedências, uma vez que a responsabilidade política envolve colocar os portugueses e o seu desejo em primeiro lugar.
Algo que não podia ser mais claro é a vontade dos portugueses, que resumem esta eleição com uma derrota categórica do Partido Socialista, uma não transferência de votos do PS para a extrema-esquerda, com a exceção do crescimento do Livre, a estagnação da AD e da IL face a 2022, penalizando o partido de Rui Rocha por uma campanha de desespero por coligação com a AD, e o voto de total confiança de eleitores regulares e habituais abstencionistas no Chega. Não há maior prova de que o PSD não convenceu os abstencionistas de que era alternativa ao PS, do que a relação direta entre a redução da abstenção e o acentuado crescimento do Chega, mas também de uma possível transferência de eleitores que se sentiram enganados pelo PS, para o Chega, mostrando a falta de capacidade do PSD em se afirmar como alternativa.
Por estas razões, pelo número de votos de mais de 1.1 milhões no Chega, pelo quadruplicar do grupo parlamentar, pela confiança dos portugueses no partido de André Ventura como alternativa ao socialismo, e pela maioria de direita que deram a Chega e PSD, seria de uma total irresponsabilidade e desrespeito pelos eleitores, se Montenegro não aceitar negociar e dialogar. Neste impasse, André Ventura é o adulto e o político com sentido de responsabilidade e Estado, e Montenegro está num aperto causado pela sua arrogância, que o fez cedo de mais dar a sua palavra, menosprezando o possível impacto do Chega.
André Ventura colocou o país e os portugueses em primeiro, resta saber se Montenegro o fará…