A corrupção é um problema global que afeta economias, instituições e as sociedades como um todo. A falta de transparência, integridade e responsabilidade nas transações financeiras permite muitas vezes que atos corruptos ocorram impunemente. Uma abordagem inovadora para combater a corrupção é a transição gradual para um sistema de dinheiro exclusivamente virtual. Essa mudança não apenas dificultaria a prática de atos ilícitos, como também teria implicações significativas na redução do tráfico de drogas e da economia paralela.

É crucial considerarmos que a economia paralela representa em Portugal praticamente 35% do nosso Produto Interno Bruto (cerca de 82 mil milhões de euros anuais), o que equivale a uma evasão de impostos de aproximadamente 30 mil milhões todos os anos.

Um exemplo dos resultados obtidos é o de um bar na região de Oslo, Noruega, frequentado por alguns traficantes de droga que utilizavam o local para realizar suas atividades ilícitas durante a noite. A decisão do gerente de proibir o uso de dinheiro físico no seu estabelecimento levou a que muitos desses traficantes deixassem de frequentar esse local. Essa medida foi rapidamente adotada por outros estabelecimentos vizinhos. O resultado tem sido extremamente positivo e existem já estudos no sentido de desenvolver esta solução.

A natureza oculta do dinheiro físico

Uma grande parte da corrupção e das atividades ilícitas ocorre por meio de transações efetuadas com dinheiro físico. A natureza anónima e não rastreável do dinheiro físico facilita a lavagem de dinheiro, suborno e evasão fiscal. Além disso, o tráfico de drogas, tal como todo o mercado paralelo, são frequentemente alimentados pelo uso do dinheiro físico, uma vez que se torna difícil para as autoridades rastrearem as transações e os envolvidos.

A transição para um sistema de dinheiro virtual poderia ser uma solução eficaz para combater esses problemas. Ao eliminar o dinheiro físico, todas as transações seriam conduzidas eletronicamente por meio de transações bancárias registadas. Isso tornaria quase impossível realizar atividades corruptas e ilícitas sem deixar um rastro digital. As transações seriam registadas, auditadas e monitorizadas pelas instituições financeiras e possivelmente pelas autoridades regulatórias sempre que necessário.

Vantagens da transição para o dinheiro virtual

Rastreabilidade e transparência: Todas as transações seriam registradas eletronicamente, permitindo uma monitorização mais eficaz por parte das autoridades. Isso poderia dificultar a ocultação de transações ilícitas.

• Redução da corrupção. Com as transações sendo eletrónicas e rastreáveis, atos de suborno, e desvio de recursos públicos poderiam ser detetados mais facilmente, tornando a corrupção menos atrativa e mais arriscada.
• Impacto no mercado paralelo e tráfico de drogas. A falta de dinheiro físico dificultaria a condução de transações no mercado negro. Isso também teria um impacto significativo na capacidade dos traficantes de drogas em realizar transações financeiras sem deteção.

Problemas a solucionar

• Inclusão financeira. A transição para dinheiro virtual exigiria que todos os membros da sociedade tivessem acesso a serviços bancários e tecnologia, a fim de evitar a exclusão financeira. Este seria um trabalho a desenvolver, no qual a Banca teria de ter um papel preponderante na simplificação e no apoio destes processos.
• Segurança cibernética. Um sistema financeiro predominantemente virtual precisaria de robustas medidas de segurança cibernética para proteger contra roubos e fraudes digitais.
• Privacidade. Questões de privacidade e vigilância também seriam levantadas com um sistema tão intensamente monitorizado. Mas o mundo tem de optar entre o combate à corrupção e a continuação da atual situação, com milhares de milhões de euros perdidos anualmente em atos de corrupção e mercado paralelo.

Embora a transição para um sistema de dinheiro virtual possa enfrentar desafios, ela representa uma abordagem inovadora e promissora para combater a corrupção e reduzir atividades ilícitas. Ao criar um ambiente de transações mais transparente e rastreável, a sociedade pode dar passos significativos em direção a um futuro mais justo e ético. No entanto, a implementação cuidadosa, equilibrando preocupações como inclusão financeira e privacidade, é crucial para o sucesso dessa abordagem.