O vício nos smartphones é um hábito compulsivo de que a maioria de nós somos vítimas. As estatísticas mostram que o utilizador médio de smartphones verifica e desbloqueia o seu telefone cerca de 110 a 150 vezes num dia e esse hábito é realizado de forma instantânea, sem pensar ou com um objetivo deliberado.
Existe esta necessidade constante de verificar os telefones, quer seja para abrir notificações, responder a e-mails, gostar ou postar uma foto ou partilhar algo, uma experiência, uma história… Para um profissional, quer seja um executivo ou tenha outro perfil, e que tenta tirar o máximo proveito de cada dia, o tempo dedicado a olhar para um telefone é um tempo precioso que pode ser considerado como perdido.
Mesmo que se justifique a utilização constante do telefone como “sendo necessário para o trabalho”; ou a necessidade de “manter contato”; tirando partida da tecnologia como a melhor coisa que aconteceu à humanidade, é necessário saber manter o equilíbrio para que este hábito não se torne compulsivo nem afete a produtividade. Na verdade, muitas das vezes consultar o telemóvel não é sequer necessário, nem relevante.
Quantas vezes está a almoçar com os seus colegas, mas em vez de teremuma conversa interessante, todos estão a olhar para o telemóvel, a verificar se receberam mensagens importantes. Se já sentiu a sensação de ter perdido um membro quando fica sem bateria no telefone, ou se desligar o botão do tablet é a última coisa que faz habitualmente antes de dormir, então talvez esteja na altura de repensar o seu relacionamento com a tecnologia. Eis algumas das recomendações científicas a considerar:
1. Ler num tablet antes de dormir afeta o relógio biológico
Se tem dificuldades em adormecer à noite, pode considerar antes ler um livro na cama, em vez de usar o tablet. Estudos científicos recentes mostram que a luz brilhante da tela do tablet suprime a melatonina no corpo em 22%, uma hormona natural que faz com que queira dormir. É uma boa notícia se precisar de estar acordado durante toda a noite, mas se quiser descansar, é melhor encontrar outra atividade.
2. Mais mobilidade online significa mais trabalho no tempo livre
Estudos recentes realizados em vários países europeus, revelam que os colaboradores trabalham mais do que o horário de trabalho estipulado, podendo ultrapassar as duas horas extra por dia devido à utilização do smartphone. Verificar e responder a e-mails após o horário de trabalho tornou-se também uma prática comum. Neste sentido, por exemplo, os sindicatos alemães defendem o direito dos funcionários de desligar os seus smartphones e computadores assim que saem do escritório para reduzir as horas de trabalho que muitas vezes se prolongam durante os fins-de-semana.
3. Estar sempre online reduz a produtividade
Pode-se pensar que uma das vantagens de estar sempre ligado é que nos tornamos mais produtivos. Mas, segundo Leslie Perlow, professor de Liderança da Harvard Business School, não é o caso. Um inquérito realizado a mais de 16 mil gestores e profissionais sobre a relação entre as horas de trabalho e a utilização de smartphones, revelou que a maioria trabalhava mais de 50 horas por semana. A maior parte dos inquiridos confirmou também que verificava o seu telemóvel ou outro dispositivo tecnológico para responder a e-mails antes de dormir. Realizando a experiência com uma pequena equipa, em que cada um dos membros passou a desligar o telemóvel pelo menos uma noite por semana e incentivando a equipa a partilhar mais informação entre todos os elementos durante o horário de trabalho, este especialista da Academia obteve resultados surpreendentes que se traduziram na melhoria da qualidade do trabalho e da produtividade de toda a equipa.
4. A criatividade sofre com a internet
Não foi por acaso que Arquimedes teve o seu momento Eureka enquanto tomava banho. Mesmo se a internet tivesse existido em 287 a.C., ele não teria proposto a sua solução de outra forma. Uma investigação da Universidade de Harvard mostra que a internet é ótima quando se pretende reunir e partilhar informações, mas se o objetivo é obter uma solução criativa, é melhor fazer algo tão simples como tomar um banho ou dar um passeio. Acontece que as pessoas que não estão ligadas são as que têm mais probabilidades de propor teorias únicas e inovadoras.
*Caroline Carvalho é Consultora Sénior na Michael Page