Como “estamos” na rota para cumprir as metas do país para 2030, no que respeita ao contributo da “palete” de renováveis? Estamos mal…

Estamos comprometidos com metas ambiciosas, no que respeita ao contributo das fontes renováveis ,com vista á satisfação das necessidades do país em eletricidade e consumo de energia final.

No momento em que se analisa o “andamento “ do Plano Nacional de Energia e Clima –  PNEC 2030, com vista a procedermos a eventuais ajustes, devemos considerar se estão reunidas as condições técnicas, económicas e de enquadramento jurídico e regulatório, de modo a que  os objetivos fixados sejam realistas e atingíveis.

Não sendo possível neste artigo fazer uma apreciação em pormenor ,tecnologia por tecnologia, devemos olhar os “grandes números”, em busca de algum sinal de alerta.

Assim, na revisão de metas-realizada em Junho de 2023, estabeleceram-se os seguintes objetivos para 2030:

  • 8,1 GW para a hidroeletricidade.
  • 20,4 GW para o solar fotovoltaico, dos quais 14,9 em grandes parques solares e 5,5 GW em pequenas instalações.
  • 10,4 GW em parques eólicos “onshore” e 2,0 GW ,em operação ,de eólico offshore. No eólico no mar acrescem mais 8,0 GW que deverão estar em fases avançadas no processo de licenciamento.
  • 5,5 GW de capacidade instalada em electrolisadores.
  • 1 GW de capacidade instalada em baterias para armazenamento.

No final de 2023 temos instalado:

  • 8,1 GW de hidroeletricidade ,entre centrais reversíveis e não-reversíveis
  • 3,9 GW de solar fotovoltaico.
  • 5,8 GW em eólico onshore e 25 MW e eólico offshore(windfloat).
  • praticamente zero em electolizadores e baterias.

No terreno registou-se a seguinte dinâmica:

  • cerca de 450 MW instalados anualmente nos últimos três anos:a meta impõe 1,8 GW/ano, quase o quíntuplo do realizado.
  • muito poucos projetos saídos dos leilões de 2019 e 2020 foram realizados: dos 1,3 GW do leilão de 2019,apenas 429 MW estão em operação e dos 670 MW de 2020 zero MW  estão construídos.

No total das tecnologias, a meta para 2030 aponta para uma potência instalada e em operação de  47 GW, registando-se 24,6 GW em 2023.

Estamos a metade do caminho, a seis anos da meta. E sabemos como o curto prazo na energia significa vários anos, facilmente uma década…

Está feito, no essencial, o diagnóstico – sobretudo técnico – de obstáculos que temos pela frente:

  • não está publicada(comprometida) informação, por parte dos operadores de rede, sobre os planos de desenvolvimento da mesma.
  • falta de informação sobre pontos de acesso às redes, locais e datas, crítico para os promotores/investidores traçarem planos.
  • longo, complexo e pouco previsível processo de licenciamento.
  • falta de informação sobre projetos em curso e fase em que se encontram.
  • falta de informação estatística sobre projetos de menor escala, nomeadamente para o chamado autoconsumo.
  • falta de informação sobre projetos de armazenamento.
  • falta de recursos empresariais, nomeadamente de mão-de-obra para empreitadas de rede.

Acresce a mudança nas condições económico-financeiras ,digamos que nos últimos três anos:

  • aumento muito significativo no capex dos projetos-construção, equipamentos, seguros, mão de obra, etc.
  • aumento do custo do dinheiro, custo de financiamento.
  • aumento dos custos com aluguer de  terrenos, rendas, construção de redes e subestações.
  • aumento da volatilidade dos preços que o mercado paga aos produtores em mercado livre, acrescendo o risco e previsibilidade do lado da receita.
  • para além de um “trend” claro na quebra do preço médio pago aos geradores no mercado grossista, com um número crescente de horas do dia e durante o ano em que a remuneração é de zero euros e inferior a 10 euros/MWh.

Basta considerar as duas tecnologias em que se deposita uma maior responsabilidade no aumento da capacidade instalada-solar e eólico offshore — para se perceber o risco de incumprimento das metas:

  • multiplicar por sete a potência fotovoltaica em condições de mercado que muito dificilmente sustentam o investimento: empresas do setor, fundos, e outros promotores estão já a “congelar” investimento.
  • ter em operação 2 GW de eólico offshore flutuante e outros 8 GW em desenvolvimento é utópico.

Em resumo, sem estender a  análise ao contributo previsto, vindo de outras tecnologias, temos pouco mais de 20 GW dos 47 GW previstos para 2030 – em sérias dificuldades de realização, com base no actual contexto. É neste quadro que se torna necessário uma realista revisão do PNEC nacional.

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