Dom Afonso de Albuquerque, entre outros dotes, foi um fantástico estratega ,grande responsável pela criação do império português da Índia/Ásia e do chamado período português no Golfo, que durou dos primórdios do século XVI até Janeiro de 1650, com a queda da praça de Muscate (Mascate, actual Omã), conquistada pelos omanitas.

Afonso de Albuquerque, com a missão de construir o império português na Índia, na Ásia, desenhou os pontos estratégicos que havia que dominar, com vista a controlar as rotas de comércio com a Índia e Península Arábica: entre outros, conquistar Ormuz (Golfo Pérsico), Adém (Mar Vermelho) e o estreito de Malaca.

Hoje as rotas marítimas mais relevantes no planeta.

Albuquerque, ambicioso e ousado, numa leitura inteligente no terreno, tentava convencer o rei D. Manuel I e os seus conselheiros – sentados em Lisboa e tomados de inveja pelos sucessos do vice-rei – sobre a necessidade de promover arriscadas acções militares na região.

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Entre outras, a conquista de Ormuz (1515), não era facilmente compreendida como necessária nos salões reais, a seis mil km do cenário onde Afonso Albuquerque lutava pelas rendas do reino e… pelo seu reconhecimento e prestígio.

Em síntese, desesperado com os “consultores” de D. Manuel I, engendra uma acção militar que o leva a controlar o Golfo Pérsico, o comércio na Península e no Mar Arábico depois de uma tentativa falhada em 1507 – com base numa história mal contada a Lisboa em que justifica que  “há que morrer por Ormuz!”. 27 navios,1500 portugueses e 700 malabares levaram, em 1515, o rei Turan Sha a “aceitar” a vassalagem ao rei de Portugal.

Isto passou-se há 500 anos.

Entretanto, no decorrer dos séculos, sempre o estreito de Ormuz foi alvo de cobiça, de relevante importância estratégica e consequentes conflitos e tensões.

Hoje não são as pérolas, os cavalos, mas sim os 20% do comércio mundial que por ali circula e… cerca de 20 milhões de barris de petróleo diários e gás natural que dão energia ao mundo e alimentam as receitas da Arábia Saudita, Irão, Kuwait, Bahrain, Qatar, Omã, Emiratos Árabes….

Sobre o impacto na economia mundial e na cena política, das múltiplas crises do “estreito”, para não recuar muito tempo, bastará lembrar 1979/80 na guerra Irão-Iraque, com 240 navios tanques atacados e 54 afundados, a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990, as ameaças de fecho do Estreito pelo Irão em 2011, 2012, 2016, para além de outros inumeráveis episódios.

Uma vez mais, nestes primeiros dias de primavera de 2014, Albuquerque The Great – como o vi designado num documento oficial no Omã – volta a justificar a sua genial visão estratégica:

  • se o conflito, insegurança e destruição de infraestruturas petrolíferas e gazistas se aprofundar;
  • se diminuir o fluxo de petróleo e gás pelo estreito canal “livre” de 3km de largura, fora das águas territoriais;
  • se os seguros e fretes marítimos se agravarem.

Os efeitos são já, sobejamente, conhecidos:

  • aumentos dos preços do petróleo e gás, responsáveis por cerca de 60% da energia que o mundo consome;
  • pressão inflacionista;
  • pressão sobre as taxas de juro;
  • impacto evidente na economia mundial;
  • ambiente mais favorável à eleição de Trump;
  • reforço da posição da Rússia e das receitas provenientes do petróleo e gás;
  • etc., etc., etc.

Restariam as ruínas do forte de Nossa Senhora da Conceição de Ormuz (1515), construção em forma de pentágono (!), para nos protegermos…