Nos dias de hoje, a tecnologia está em constante evolução e, se não queremos ficar para trás, o melhor que temos a fazer é aceitá-la e tentar perceber de que forma a podemos utilizar. E o mesmo se aplica ao mercado editorial.

Apesar de o livro ter vindo a sofrer várias transformações ao longo da História, o mercado livreiro parece ter, ainda, umas quantas barreiras ao nível da tecnologia. Se as editoras não quiserem ficar para trás, a solução é só uma: abraçar a mudança. Afinal, estamos num mundo cada vez mais global, digital e interligado.

Não é novidade que os livros são algo muito antigo, tendo os primeiros sido concebidos em papiro. Mais tarde, aos poucos, o papiro começa a ser substituído pelo pergaminho e, no século XV, dá-se a verdadeira revolução, com Johannes Gutenberg a inventar a imprensa, e, consequentemente, o primeiro livro impresso.

A cada inovação revolucionária, como as exemplificadas acima, os mais conservadores maldiziam os novos tempos e profetizavam o fim da “boa” literatura (qualquer que fosse a definição de qualidade conferida ao longo dos tempos). Mas a “boa” literatura persistia, enquanto os críticos de qualquer inovação ficavam, inevitavelmente, para trás, falidos ou desempregados.

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Agora não é diferente. Pelo contrário, os Velhos do Restelo continuam a amaldiçoar as evoluções tecnológicas pelas quais o livro tem passado, a ignorar o facto de que, cada uma delas – da popularização do e-book e do audiolivro, à autopublicação e editoras independentes – teve como resultado apenas o aumento da quantidade de leitores e de livros. Se esta base continua a crescer em todo o mundo, então não há motivos para os profissionais do setor continuarem a temer o fim dos seus empregos, das suas empresas e das suas funções. A não ser, claro, que não se adaptem a estas mudanças.

Circule por qualquer grande cidade do mundo – como Lisboa ou Porto, por exemplo – e irá deparar-se com uma Torre de Babel. Isto significa que há mercado para praticamente todas as línguas em todos os países e não apenas para os seus respetivos idiomas oficiais. Com tantos indianos, paquistaneses, ucranianos, americanos, franceses e alemães em Portugal, por exemplo, porquê restringir o mercado literário ao idioma-mãe? O inverso também é válido, claro: os portugueses que se encontram espalhados pelo mundo também têm a oportunidade de comprar livros no seu próprio idioma.

Tendo isto em conta, há duas adaptações importantíssimas que precisam de ser feitas. Primeiro, de ordem contratual: acordos comerciais entre editoras por país, ao invés de por idioma, são um contra-senso, um apego a um mundo pós-medieval que já não existe na prática. E, em segundo, abraçar a impressão sob demanda integrada a uma distribuição global via marketplaces é um caminho óbvio para entregar qualquer livro em qualquer lugar – a preços e prazos racionais, claro. A infraestrutura para tal já existe há anos, basta querer.

Além disso, existem outros sistemas – seja para revisão de texto, para narração de livros e conversão em formato de áudio ou mesmo para tradução – que estão em diferentes estágios de maturidade. A maioria ainda não está pronto para ser utilizado com eficiência, mas é ingenuidade supor que eles não chegarão lá rapidamente.

O que se pode fazer? Adaptar-se. Até hoje, todas as tecnologias trouxeram uma infinidade de novas funções e especializações necessárias para funcionarem da maneira mais eficiente. Resta aos profissionais do setor investigar, experimentar, oferecer e crescer. Tempos inovadores como os nossos são também tempos de desbravamentos e de descobertas. Ao invés de nos assustarmos, devemos ficar entusiasmados.

Quando os e-books começaram, e o Kindle ganhou o mundo, a maioria dos editores anunciou que era o fim do livro impresso. Passada mais de uma década, o mercado de e-books, hoje, perde (em larga escala) tanto em relevância, como ao nível do ritmo de crescimento, para o impresso.

Há uma lição importante a retirar disto: os leitores não lêem livros digitais, impressos ou narrados, os leitores lêem histórias. E é a história que deve permanecer como foco primário do mercado, não o seu formato ou a tecnologia que abrange.

Editores, autores e livreiros que procuram ter sucesso precisam não apenas de se manter abertos à inovação, mas também essencialmente agnósticos, evitando abraçar uma tecnologia em detrimento de quaisquer outras.

Dá para se perder a conta da quantidade de coisas sem sentido que povoam o mercado editorial. Todas, em mais ou menos tempo, devem cair: este é o futuro. Ganhará, como sempre, quem apostar no óbvio.