O ano é 1978. Um professor marxista chamado Donald Harris publicou a sua obra-prima: Acumulação de Capital e Distribuição de Rendimento, demonstrando um grande interesse pelo pai do Comunismo. Na página 282, o autor concorda com a explicação de Marx sobre a “taxa de exploração”. No entanto, não ocorre qualquer exploração no mercado de trabalho, uma vez que empregadores e empregados assinam contratos voluntariamente, nos quais o trabalhador aceita vender a sua força de trabalho a um preço aceitável para ambas as partes. Qualquer “mais-valia” extraída dessa transação é mutuamente benéfica, pois o trabalhador recebe o seu salário, o empregador lucra com o seu investimento e a sociedade beneficia dos bens e serviços produzidos. Ninguém sai prejudicado.

Existem muitos professores de “economia” a aterrorizar estudantes com tecnicidades para obscurecer a sua defesa de um sistema económico e filosófico falhado. E eu não teria mencionado este autor se não fosse por quem é a sua filha: Kamala Harris, a atual candidata democrata à presidência americana, concorrendo contra Donald Trump, num ambiente político que polarizou o país como nunca antes, e com uma administração federal impopular a afundar ainda mais o país num buraco financeiro, incapaz de conter os conflitos regionais eclodidas pelo mundo.

Em poucas frases, desmascarei um homem com doutoramento, cuja filha – com 14 anos quando o livro foi publicado, crescendo num lar cosmopolita – vai implementar as suas políticas desastrosas caso vença. O seu historial como Vice-Presidente é lamentável, o seu manejo da crise migratória no Sul é um desastre, e o seu apoio à Bidenomics apenas enfraqueceu o crescimento económico a longo prazo, essencialmente equivalente a o governo federal roubar recursos para tornar-se um empresário, sempre falhando nesta tarefa nobre ao produzir pouco valor económico para os consumidores, a um custo elevado.

Os seus benfeitores ideológicos, Barack Obama e George Soros, estão a trabalhar para uma vitória com o potencial catastrófico de transformar os Estados Unidos num país de terceiro mundo, e destruir de uma vez por todas o sonho Americano. Obama, na Pensilvânia, usou jargão marxista ao ameaçar eleitores hesitantes, supostamente “desprivilegiados”, para garantir uma vitória retumbante para Harris (para agravar a situação, há a proposta de Kamala, a Agenda de Oportunidades para Homens Negros, muito pouco racista realmente).

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Esta é a principal arma da esquerda: manipulação emocional para forçar as pessoas a tomarem decisões fatais, com consequências ainda mais fatais quando optam pelos “caminhos errados”. Mas o seu discurso representa um problema subjacente: o fracasso de Harris em cativar as pessoas a votarem nos democratas novamente, especialmente em estados decisivos (swing states) que são cruciais para determinar vitórias. Desde pessoas com bom senso até aquelas da esquerda (toda a esquerda é extremista) estão a rejeitá-la.

O que Kamala e todo o “deep state” de Washington representam vai completamente contra os princípios libertários que levaram à fundação dos Estados Unidos como um dos países mais prósperas do mundo. A democracia está em jogo, diz ela. Bem, Kamala está mais do que inconsciente de que os Pais Fundadores criticavam a democracia mais do que o pecado original. Alexander Hamilton, nos Federalist Papers (N.º 48), observou que as oportunidades para o autoritarismo tendem a florescer a partir de uma democracia em crise, seja por “alguma emergência favorável” ou anarquia intelectual entre os seus participantes políticos.

É por esta razão que os Estados Unidos são uma república com governo representativo, precisamente para delimitar a separação de poderes entre os diferentes ramos do Estado federal. Onde é que na Constituição ou na Declaração de Independência se encontra o termo democracia? No entanto, para alimentar os seus sonhos utópicos de empoderamento estatal, a democracia – um credo religioso que discrimina a qualidade em favor da superioridade numérica – deve ser protegida a todo o custo.

Uma vitória dos democratas sinalizaria o fim dos Estados Unidos, pois numerosos estados não aceitarão as suas políticas adjacentes ao socialismo, o seu utópico Green New Deal, mais impostos, e, por fim, levando a numerosas sucessões da união (em si um traço libertário). O governo federal provavelmente responderá com violência a esses estados.

Uma América fraca e desunida seria também um desastre de proporções incomparáveis que desestabilizaria completamente a ordem internacional, despertando as feras do Oriente, emanadas da China Comunista, da Federação Russa e do Irão Islâmico, juntamente com o seu séquito global de regimes socialistas na América Latina e na África. A Rússia será especialmente tentada a realizar movimentos subversivos e diretos contra a Europa Oriental. Os EUA já cometeram tantos erros em política externa (começando com Woodrow Wilson) que a ideia de um isolamento esplêndido é um sonho do passado.

A visão de Kamala ressuscita as ações de Franklin Roosevelt (um fantoche do comunismo), que empurrou mais pessoas para a pobreza, para o desemprego e para a subsequente proliferação do crime organizado. O que Kamala propõe – controle de preços e regulamentações – já foi testado e experimentado por bolcheviques, maoístas, fascistas e social-democratas, e minará a liberdade individual. Ideias estagnadas são difíceis de erradicar. Parafraseando Earl Browder, o wokismo é o americanismo do século XXI para os jovens superficiais. Para os democratas globalistas, as mudanças de sexo de menores e o assassinato de fetos não nascidos estão no mesmo plano que o direito de portar armas e proteger a propriedade.

Trump e J.D. Vance estão longe de ser ideais. Eles também defendem uma política industrial própria ao proteger trabalhadores e empresas americanas da concorrência internacional, fomentando uma postura hostil em relação a empreendedores estrangeiros. Esta omissão por si só fala muito sobre a falta de verdadeira liderança política com uma compreensão de economia (e de tudo o mais). Mas uma vitória republicana não significa de maneira alguma  a morte de um projeto político consagrado pela constituição de 1789 – talvez apenas o adie.

Embora os Estados Unidos como país existam há menos de um quarto de milénio, eles partilham culturalmente com o Velho Mundo – a Europa – a herança da Cristandade, sendo a ponte entre o antigo e o novo (o ADN não muda as nossas raízes ao atravessarmos o Oceano Atlântico). Mais do que nunca, os EUA e o (restante, mas enfraquecido) mundo livre precisam de reabastecer as virtudes que o progressismo esvaziou: integridade, valentia – personificando pela força e masculinidade – nobreza e fidelidade ao que é verdadeiro e belo, combinadas com uma visão realista para o futuro que perdure através dos tempos. E, ao contrário da Europa, o marxismo e as suas múltiplas crias ainda não dominam o cenário americano, mas estão perigosamente próximos de contaminar a população com a ascensão dupla de Harris e Waltz.

Um duelo pelo destino da América está em curso. Lembro-me de uma passagem do livro Leões, Corações, Corças a Saltar e Outras Histórias do autor católico J.F. Powers: “O canário empoleirado no escuro no topo da gaiola, com a cabeça aquecida sob a asa, já, ao que parecia a Dídimo, sem memória do seu cativeiro, sonhando com uma liberdade passada, um dia de verão ancestral com flores e árvores” (p. 262). Apesar da resignação de muitos americanos, perturbados pelo alcance desmedido do estado, a luz, simbolizada pelos canários, deve brilhar através destes tempos sombrios que atravessam este grande país chamado Estados Unidos da América e recuperar a liberdade ancestral garantida pelos Patriotas em 1776.