Em 1911, foi lançado o desafio de se tentar atingir o Polo Sul. Nesse sentido formaram-se duas expedições lideradas, uma por Ronald Amundsem e outra por Robert Falcon Scott. As mesmas condições, equipas semelhantes. O mesmo objectivo: o Polo Sul.
Amundsem optou por uma constância, mantendo um regime de progresso regular, nunca levando a sua equipa ao limite, eliminando dessa forma o risco de exaustão. No entanto, a única pressão que foi feita, foi feita no sentido de se tentar manter mesmo ritmo, mesmo em condições adversas. O seu objectivo era concluir todas as etapas com 10 a 30 Km concluídos. Recusando dessa forma esforços desnecessários.
Scott, ao contrário, tentou levar a sua equipa constantemente ao limite. Sempre a puxar por mais um quilómetro, mais uma hora de caminho.
Quando foi obrigado a ficar retido, com a sua equipa exausta, devido a um forte nevão, Scott relatou no seu diário: “…duvido que qualquer uma das equipas consiga avançar com estas condições”.
Por sua vez, Amundsem, no mesmo dia, registou no seu diário: “…hoje tem sido um dia desagradável: tempestade, desvios, algumas queimaduras por causa do frio, mas conseguimos avançar mais 20 Km”.
Amundsem atingiu o objectivo, concluindo a chegada ao Polo Sul com uma média de 25 Km/dia. Scott e o grupo que liderava fracassaram, tendo pago esse fracasso com a própria vida.
Assistimos, transversalmente a estas duas formas de estar nos nossos dias.
No desporto, na Fórmula 1 por exemplo, tivemos pilotos que eram loucos, que levavam os carros ao limite, que arriscavam sempre mais uma curva, mais uma travagem. Pilotos que viveram sempre nos seus limites. Aqueles que apreciam esta modalidade recordar-se-ão de James Hunt e de Nicki Lauda. Uma rivalidade que até deu, em 2013, um filme: “Rush”.
Hunt queria ganhar. Nicky Lauda acabar as corridas. O primeiro partiu muitas vezes o motor, desistindo outras tantas vezes. O segundo acabou quase todas as corridas, pontuando quase sempre.
James Hunt ganhou um só campeonato, Nicky Lauda ganhou 3. James Hunt levava o carro ao limite. Nicky Lauda era levado pelos limites do carro.
Na escola, todos tivemos aqueles colegas que eram excelentes alunos, não havia teste onde eles não se aplicassem. A nota mais alta seria sempre a dele ou dela. Eram miúdos que viviam para o estudo, e por vezes ate se esqueciam das suas vidas sociais, dos colegas e amigos. Depois tínhamos os outros, que viam nas notas a consequência do estudo que fizeram ou não.
As notas para os primeiros eram um fim. Para os segundos um meio de avançar.
Os primeiros só tinham resultados e boas notas mas tinham muitas dificuldades em gerir maus resultados, os segundos tinham algumas boas e outras más notas, mas tinham bons amigos e tanto viviam com o sucesso como sabiam lidar com o insucesso.
Nas famílias temos relações que nasceram pelo objectivo de um dos seus membros. Temos outras que se foram construindo, um no outro, no serem e não no terem. Os primeiros têm tudo. Os segundos são tudo. Nos primeiros, existe sempre um dos membros que é anulado por objectivos de vida, que são impostos e que são aceites por comodismo. Faz-se porque fica bem fazer. Têm-se porque é importante ter.
Nos segundos, constrói-se uma vida assente na intimidade e cumplicidade. Conversa-se não sobre o prédio na Lapa, mas sobre o que se sente quando se passa pelo Cristo-Rei. Escolhe-se o restaurante porque gostamos e não por estar na moda, mas sim porque o bife é bom e não porque o “chef” é conhecido.
Os primeiros não resistem a uma crise, porque o casamento, para um é ter o outro. Ser dono. E todos somos livres. Os primeiros tentam mudar-se um ao outro.
Os segundos aceitam-se como são, sendo que descobrem constantemente isso através do valor da partilha seja de sentimentos, seja de pequenos gestos como um abraço, uma historia que viveram, uma musica que escutaram, um filme que viram ou um livro que leram.
Nas empresas temos em algumas delas lideranças que são agressivas na forma como procuram resultados. Levam colaboradores aos limites, inundam os clientes com ofertas desajustadas. Essas lideranças gostam de ser bajuladas e não contestadas. Não lidam bem com o sentido critico. Todos recordamos o caso da France Telecom entre 2006 e 2009: 60 suicídios por assédio moral.
Temos depois outras que colocam o primado da pessoa no centro da sua actuação. Gerem a longo prazo. Conseguem através da correcta relação entre colaboradores, clientes e fornecedores obter uma clara valia para sociedade. Primeiro as pessoas. Pois são as pessoas que fazem negócios, geram resultados, crescem e fazem crescer. Veja-se o exemplo da Delta em Portugal.
Na política também temos estes dois registos.
Temos partidos que levam o seu discurso ao limite. Em Portugal temos o CHEGA, o BE e a IL. Sempre a radicalizar. Seja na ambição de uma intervenção do Estado, que tem de ser autoritário (CHEGA), ou pelo contrário, o Estado tem de reflectir a ditadura das minorias (BE) ou tem de ser completamente liberal, ou seja o limite é o Estado não ser Estado, não ter limites (IL).
Depois temos os partidos do espectro da governação o PS, o PSD.
O PS habitou-nos a um registo de que nada corre bem quando governam. É extremo na incompetência, nas más escolhas, vivendo grande parte do seu tempo sobre suspeita. Veja-se o caso do Eng. José Sócrates, e recentemente, o clima de suspeições que paira sobre o actual primeiro-ministro, António Costa.
O PSD tem sido constantemente chamado a resolver o caos que é gerado pelo PS. O PSD tem sido constante. Tem vindo a conhecer cada vez mais Portugal e os portugueses. O Sentir Portugal liderado pelo Luís Montenegro tem sido essencial para esse aproximar o Pais do PSD.
Mas o PSD não pode cair na tentação de cometer o erro ou erros do PS. Tem de procurar, fora de si, os melhores e não os “capos” das concelhias e distritais. Não (só e exclusivamente) os “putos das jotas”. O PSD tem de olhar para o Pais, para a Academia, para as Empresas, para as Instituições, para as Universidades e tentar recrutar os melhores. Esse será o maior desafio do líder do PSD: recrutar uma nova geração de deputados, ministros e secretários de estado. Não com experiência partidária, mas com experiência de vida fora dos partidos e que aportem, além da experiência, espírito de serviço.