O contexto pós-pandemia afectou significativamente os mais jovens, verificando-se um aumento das agressões verbais e físicas, de fenómenos de bullying e cyberbullying, um aumento de comportamentos sexuais abusivos e de violência no namoro, aumento de consumos de álcool e drogas e um aumento de problemáticas de saúde mental jovem, tudo isto potenciado pela utilização massiva das redes sociais como plataformas de comunicação e informação, (RASI 2022).

A criminalidade e em particular a criminalidade juvenil não é apenas um problema individual, mas também um fenómeno social influenciado por vários fatores, como a desigualdade material, a falta de oportunidades, uma educação precária e essencialmente défices no relacionamento familiar.

No caso particular da violência juvenil as soluções para a sua redução passam por dois eixos estratégicos: soluções que tenham uma componente de ação social, envolvendo programas sociais, educação, empregabilidade e outras intervenções que abordem as causas subjacentes da criminalidade e uma componente de prevenção, atacando as raízes do problema antes que a criminalidade ocorra, em vez de apenas responder a ela pós facto.

Em relação ao primeiro eixo estratégico devo salientar o papel de extrema importância das comunidades locais na mitigação dos problemas de violência juvenil, papel que se tem perdido. Estas comunidades têm, em conjunto com a escolas e as forças de segurança, a capacidade de oferecerem oportunidades para os jovens participarem em atividades extracurriculares de índole associativa, cultural e desportiva, proporcionando alternativas saudáveis e construtivas para o uso do tempo livre e envolvendo os jovens em atividades comunitárias, incentivando a sua participação ativa e a construção de um sentido de pertença à sua comunidade, pertença que é tantas vezes a razão para os jovens aderirem a projetos grupais tóxicos e violentos.

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Em particular o desporto constitui uma ferramenta importante de inclusão social e a acessibilidade efetiva à prática desportiva deve ser promovida e alargada. As Câmaras Municipais têm neste particular um papel determinante, bem como as Juntas de Freguesias, tantas vezes menosprezadas, através das comissões intersociais de freguesia, que são um espaço de articulação local destas iniciativas de inclusão.

As forças de segurança têm também um papel relevante a realizar principalmente através do policiamento de proximidade e da relação com a escola, iniciativas que contribuem para aumentar a confiança das populações nos agentes de segurança, designadamente nos territórios que apresentam desequilíbrios sociais e vulnerabilidades acrescidas.

O segundo eixo estratégico aponta diretamente a relação do jovem com a sua família. Como acima referi o deficit no relacionamento familiar está identificado como um elemento potenciador dos comportamentos desviantes de muitos jovens.  São necessários mais recursos humanos e materiais que permitam mais e melhor acompanhamento de famílias vulneráveis bem como medidas de apoio aos pais para acompanhamento e vivencia de tempo de qualidade com as crianças e os jovens. Neste eixo estratégico o papel da escola e do professor é incontornável. A utilização da componente curricular de cidadania na realização de projetos para a promoção de competências para a identificação e prevenção da violência deveria ser uma prioridade, fundamentalmente em meios escolares menos favorecidos.

Capacitar os atores referidos no combate à criminalidade juvenil e grupal, carece de aumentar os meios para que essa ação seja eficaz, eficiente e consequente.  Por muitos grupos de trabalho, comissões e relatórios que se produzam, e acredito que a produção de uma estratégia nacional de prevenção e combate à delinquência juvenil seja uma iniciativa que deveria ser promovida no futuro, é fundamental dotar as forças de segurança e as forças da sociedade civil presentes nas comunidades onde a violência juvenil se faz sentir, de mais meios materiais e financeiros para a ação concreta no terreno, num trabalho resiliente e continuado e que levará, não haja ilusões, bastante tempo a ter sucesso. Já sem meios o sucesso será impossível.