É inegável o valor de Cristiano Ronaldo. Já o disse, aqui e na televisão, que Portugal e o mundo o pode tomar como exemplo singular de capacidade de trabalho, liderança, espírito de sacrifício e tantos outros atributos que qualquer super-herói carrega como dons ou talentos. As suas conquistas – individuais e coletivas – são, sem dúvida alguma, um feito extraordinário difícil de replicar. Quem o nega só pode ser parvo. E a velha história da rivalidade entre CR7 e Messi pouco me interessa. São os dois bons, muito bons, maravilhosos! Pessoalmente, prefiro o Messi, mas sinto-me um privilegiado por poder aprender com os dois e testemunhar as suas façanhas.

Todavia, se um dia me perguntarem se gostaria de ter Cristiano Ronaldo numa equipa treinada por mim, respondo, sem maldade alguma ou pretensão de polémica, que não, tal como está a acontecer com o Chelsea, o PSG e, veremos, o Sporting. Ou pensamos todos que, até agora, ninguém, neste mercado de transferências, querer Cristiano Ronaldo é fruto da imbecilidade e da idiotice?

  1. Cristiano Ronaldo é, atualmente, um jogador que não reconhece o seu lugar. A sua posição é a de avançado centro, goleador claro, posição essa que ninguém é capaz de fazer tão bem quanto ele. Só que CR7 insiste em ser mais do que isso. Quer ir buscar a bola ao meio campo, quer driblar à esquerda, à direita, quer roubar espaço aos médios, aos mais criativos – como acontece com Bernardo Silva na seleção -, e, com isso, com essa maneira ubíqua de estar, seca os melhores jogadores da sua equipa e deixa de ser o que é – o melhor avançado do mundo. Assim, em vez de se transformar numa solução que, pela sua inimitável qualidade, resolve metade dos problemas de uma equipa, com golos e mais golos, transforma-se num problema complicado de gerir. Para as equipas funcionarem, é preciso jogadores dotados de uma sabedoria helénica – “conhece-te a ti mesmo” -, e CR7, se pretende ser o que não é, inventar o que não tem, não só se perde a si próprio, como faz com que a equipa onde joga perca também. Esqueçam agora o nome de Cristiano Ronaldo e pensem sobre isto. Quem é que quer contratar um jogador assim?
  1. Cristiano Ronaldo está a tentar a resolver a sua vida profissional. Anda à procura de um lugar para poder jogar na Liga dos Campeões e preparar-se para o Mundial, competição que nunca ganhou. É legítimo que assim seja, mas satisfazer a ambição profissional prejudicando o trabalho do seu próprio clube não me parece ser uma atitude digna de um atleta outrora tão exemplar. CR7 não tem ido aos treinos, não apareceu ainda no estágio do Manchester United e parece não haver grande justificação para que tal coisa aconteça. CR7 conquistou, com mérito e excelência, um estatuto diferente dos demais. O seu profissionalismo foi, até esta novela, inatacável. Repito, inatacável. Nunca falhou. Mas, à conta de tudo isto, parece que perdeu um atributo que sempre lhe reconheci: a humildade de não se achar mais do que ninguém. Parece que os jogadores, por serem muito bons, podem valer mais do que os colegas, do que os clubes, podem ser deuses, podem fazer tudo apenas porque tudo conquistaram. Só que numa equipa as coisas não funcionam assim, o todo vale sempre muito mais.

Infelizmente, Cristiano Ronaldo parece ter ficado refém das suas qualidades e daquilo que ele próprio alcançou. É por andar perdido, longe daquilo que foi, que afirmo não ser uma solução frutífera ou uma boa contratação.

Mas o desporto ensina-nos a ser quem somos, e rapidamente se encarrega de nos voltar a pôr no nosso lugar, que, no caso de CR7, é no topo.

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