A espada de D. Dinis, que foi descoberta no seu túmulo no Mosteiro de Odivelas, dá-nos pistas para contar uma parte importante da vida deste monarca. Esse legado são as políticas e decisões em prol do ambiente implementadas durante o seu reinado, que originaram o desenvolvimento agrícola, comercial e económico do Portugal dos séculos XIII e XIV. A história que vos vamos relatar já vem plasmada na iconografia do artefacto bélico agora descoberto. Se olharmos com atenção para a espada e repararmos no quadrão, contemplamos dois peixes posicionados de forma oposta. Na bainha e no pomo distinguimos claramente a representação do leão. No pomo ainda nos é possível distinguir dois animais importantes para a caça, o cão e o coelho, o amigo do Homem e o seu alimento lado a lado.

O reinado de D. Dinis foi norteado por uma maior preocupação com a preservação da natureza e a ocupação territorial. Estes duas características conduziram ao crescente aforamento de terras e à criação de legislação sobre a proteção da vegetação autóctone, a manutenção e exploração dos mares e a defesa da fauna.

Com o propósito de aumentar a produção agrícola e ocupar regiões recentemente integradas na Coroa, ou de fronteira, o rei instituiu aforamentos com benefícios muito atrativos. Nos primeiros anos de plantação havia isenção de foro. Desta forma, existia um progresso assinalável da agricultura, da criação de gado, da caça e da pesca. O rei também deixava indicações das datas, técnicas e métodos mais apropriados para gerar uma colheita rica e abundante, sem esgotar os solos. Estas condições vantajosas possibilitaram o abastecimento de alimentos imprescindíveis às necessidades da população, como o cereal, a fruta, os legumes e o vinho. A extração de sal, monopólio comercial do rei, teve um papel de destaque nesta época, sendo um produto muito exportado. A edificação de estruturas agrícolas, como o moinho, ajudou a uma agricultura mais intensiva. O monarca também fez a aquisição de novas terras e procedeu ao seu arroteamento, recuperando as lezírias do Ribatejo e outros campos agrícolas, que lhe davam rendimentos avultados. Por todas estas razões, não nos é difícil compreender porque é que concedeu vinte e três cartas de foral, um número invulgarmente elevado. Com o propósito de criar um mercado activo e levar os bens essenciais a toda a população, o rei implementou feiras pelas regiões mais dispares do território.

O crescimento volumoso das trocas comerciais com diversos reinos do continente europeu é vincado pela Carta Mercatória, decretada pelo rei Edmundo I de Inglaterra, no ano de 1304, conferindo qualidade aos produtos cultivados em terras portuguesas. Esse voto de confiança já havia sido demonstrado por Filipe IV de França, ao dar protecção aos mercadores portugueses. As boas relações diplomáticas e comerciais com o reino de Aragão talvez tenham possibilitado a expansão mercantil de Portugal pelo Mar Mediterrânico. Em 1293, D. Dinis criou uma bolsa dos mercadores, que facilitou as transações com o Norte da Europa. Esta prosperidade exponenciou a economia do reino, como o comprova a integração na corte do cargo de contador, funcionário responsável pelas finanças régias, a estabilização do valor da moeda e os empréstimos concedidos aos reinos de Castela e Aragão.

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A par com a preocupação pelo estado da agricultura no território, também é visível a atenção do monarca pela preservação de algumas árvores autóctones, como o sobreiro e a azinheira, mantendo a flora pré-existente e contribuindo para a sua disseminação. Apesar da assinatura do Tratado de Alcanizes, que celebrou a paz em 1297 entre Portugal, Leão e Castela, D. Dinis continuou a fortalecer o seu exército e a construir ou restaurar castelos e muralhas. A exploração de minas de ferro para a produção de material bélico foi muito comum neste período, numa tentativa de tirar partido de todos os recursos naturais.

Durante o reinado deste soberano desenvolveram-se estratégias para uma melhor manutenção da linha de costa. O aumento da armada naval e a contratação do comandante genovês Manuel Pessanha, contribuiu para a defesa do território. A criação de uma empresa de pesca em alto mar, dedicada a espécies como o atum, poderá ter sido crucial para afastar a possível escassez de peixe na costa portuguesa.

Ao longo da vida de D. Dinis encontramos documentos que nos remetem para a caça e pesca, atividades que o monarca praticava frequentemente, mas também para o bem-estar animal. No ano de 1288 foi outorgada uma lei que punia, através de uma multa avultada, quem encontrasse uma ave de caça e não o anunciasse publicamente. A ligação que o monarca nutria pelos seus falcões, levou a que fossem mencionados no testamento em 1322, sendo deixados ao cuidado dos tratadores. Já desde 1278 que D. Dinis tinha ao seu serviço um falcoeiro, Vicente Viegas. O rei ordenou a tradução e escrita de tratados de caça e de boas práticas para com os animais de companhia, como o cavalo. Um desses casos é o Livro da Falcoaria, de João Martins Perdigão.

Muitas destas medidas foram continuadas e aprofundadas pelos reis que sucederam no trono de Portugal, sendo importante observar essa evolução nas décadas seguintes à morte de D. Dinis, em 1325.

O conjunto das políticas ambientais adotadas e a preocupação pela preservação da fauna e flora neste período é de extrema relevância para compreender o pensamento sustentável medieval, numa sociedade em busca da autossuficiência e da defesa do território. Estas ações e vivências parecem-nos extremamente atuais e possíveis de pôr em prática, só nos falta saber aprender as boas lições do passado e caminhar em frente.