Domingo passado começaram os debates televisivos que antecedem a campanha eleitoral para as legislativas de 30 de janeiro. Adepto da política, estive expectante para ver como decorreriam.
Assisti a todos até agora. O facto de serem em horários diferente possibilitaram que os pudesse acompanhar com maior atenção e interesse. Ao final de dois dias de debates, posso afirmar que o que por lá se passou é uma das principais causas para a fraca participação cívica na política e consequente aumento da abstenção.
Tem sido cada vez mais comum ver os líderes partidários a apelar à participação cívica na política para combater a abstenção, que é alta. Esses apelos têm sido dirigidos sobretudo aos jovens, que estão mais atentos aos aspetos políticos, pois percebem desde cedo que o seu futuro deles dependerá.
Há de facto um aumento de interesse por parte dos jovens na política, mas um afastamento dos mais velhos, tendência essa que ninguém tem conseguido inverter. Acontece porque não há debate de ideias. Não se discutem ideias que realmente interessem às pessoas, não se encontram soluções para os problemas reais das pessoas.
Estes debates deveriam servir para isso mesmo, discutir ideias impactantes na vida das pessoas. Bem sei que o tempo não é muito, apenas 25 minutos, o que significa que cada um dos candidatos só tem direito a sensivelmente 12 minutos para tentar esclarecer os eleitores sobre quais os seus intentos para o país.
Obviamente que não se espera que em doze minutos se consigam esmiuçar os programas eleitorais, mas com certeza que haverá, como fez Carlos Moedas com o seu programa, possibilidade de apresentar ou debater alguns pontos fortes de ação. Não sei quem decide o formato dos debates, mas talvez tivesse sido boa ideia fazer uma sondagem pré-debates, para aferir quais as preocupações dos portugueses.
Tendo os resultados dos inquéritos, identificar-se-iam os quatro ou cinco temas que mais preocupam os portugueses e sobre estes questionavam-se os líderes sobre as suas propostas temáticas.
Se calhar em vez de ouvirmos citações do Papa Francisco, ou piadas de que a candidata se converteu ao catolicismo, ou se no pós eleições haverá ou não coligações, estaríamos a debater questões como Saúde, Educação, Emprego, Habitação, Economia, entre tantos outros problemas do país real dos quais a classe política insiste em manter-se afastada, dando sinais de que pertencem a uma outra galáxia.
A política tem de servir as pessoas e com este tipo de debates a perceção que se vai tendo da política e dos políticos é que apenas estão centrados no poder, como alcançar e manter o poder. Com esta abordagem mostram que estão longe das preocupações do cidadão comum que vive do seu parco rendimento e que ninguém se inquieta com os seus problemas que podem ser tão básicos como ter emprego, manter uma habitação, marcar uma consulta ou poder colocar os filhos numa escola com condições. Seria por isso importante que se identificassem os principais problemas de Portugal e dos portugueses e que sobre eles se debatessem as ideais de como os resolver.
Assim teríamos debates ricos, ideias esclarecidas e qualquer cidadão estaria em melhores condições de decidir o seu voto. Teríamos também a mais valia de recuperar parte dos eleitores que não votam pois, pela primeira vez na vida, veriam ser debatidos os problemas que os afetam diariamente. O cidadão comum escolheria o líder que tivesse a estratégia com a qual mais se identificasse.
A forma como têm acontecido os debates televisivos não engrandece a política nem os políticos e afasta cada vez mais os cidadãos, fazendo com que estes últimos tenham cada vez mais a perceção de que os primeiros vivem em órbitas diferentes.
Os debates têm como principal objetivo confrontar ideias e esclarecer os telespetadores. O que tem acontecido é precisamente o contrário, muitas vezes com alguma conivência dos moderadores que são incapazes de garantir uma resposta clara às perguntas que colocam.
Com a atual tipologia de debate, tenho imensas dúvidas de que algum cidadão saia esclarecido sobre quem fará o quê e quase posso garantir que ninguém lerá programa algum. Assim não faz sentido sequer ter debates televisivos.