Sabia que a ‘pinky promise’, a promessa do dedo mindinho que as crianças fazem, tem raízes na tradição japonesa yubikiri, que significa literalmente ‘dedo cortado’?
Na sua origem, quebrar uma promessa era tão desonroso que exigia um preço alto: a mutilação do dedo. Atualmente, o risco não é tão dramático, mas e se os líderes mundiais tratassem os seus compromissos com a mesma gravidade?
As promessas feitas na COP29, IDA21 e G20 moldam o futuro do nosso planeta e das comunidades mais vulneráveis. Os compromissos assumidos dominam os títulos dos jornais: 300 mil milhões de dólares anuais para o Fundo de Perdas e Danos até 2035 na COP29, milhares de milhões prometidos para os países mais pobres do mundo ao abrigo da IDA21 e declarações ambiciosas para reformar as finanças mundiais no G20.
Em Baku, a COP29 foi palco de uma promessa histórica: a operacionalização do Fundo de Perdas e Danos, com 300 mil milhões de dólares anuais até 2035. No entanto, esse valor fica muito aquém dos 1,3 biliões de dólares que especialistas estimam serem necessários para enfrentar a crise climática. Países como Malawi e Nigéria não hesitaram em criticar o acordo, chamando-o de “insulto” e “piada”.
O financiamento depende de “todas as fontes públicas e privadas”, levantando dúvidas sobre a viabilidade e a rapidez da implementação. Além disso, sem uma contribuição efetiva e mecanismos de responsabilização, o impacto dessas promessas pode permanecer incerto.
Enquanto as negociações climáticas avançavam na capital do Azerbaijão, no Rio de Janeiro, os líderes do G20 juntavam-se para a sua reunião anual. O G20 reafirmou o compromisso com a agenda climática e propôs soluções, como a tributação de bilionários para financiar a transição ecológica. Mais uma vez, faltaram detalhes claros sobre como essas ideias seriam implementadas, levantando dúvidas sobre a honestidade dos compromissos assumidos.
No entanto, em promessa, o G20 trouxe avanços em financiamento para o desenvolvimento global. O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou uma contribuição de 4 mil milhões de dólares para a Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA). A Noruega e a Dinamarca também aumentaram significativamente as suas contribuições, em 50% e 40%, respetivamente, enquanto que a República da Coreia destacou-se com um aumento de 45%.
As reconstituição da IDA, fornecem principalmente subsídios e empréstimos com juros muito baixos aos países em desenvolvimento, essenciais para financiar projetos desde educação básica até água potável. A 21.ª reconstituição, irá ter a sua conferência final a 5 e 6 de dezembro em Seul, porém, esta política de empréstimos a juros baixos, em vez de subvenções, suscita preocupações. Esses empréstimos podem perpetuar ciclos de dependência económica, em vez de oferecer um caminho real para a independência financeira. A promessa de beneficiar 1,9 mil milhões de pessoas é ambiciosa, mas, sem condições de financiamento mais justas, corre-se o risco de agravar os desafios económicos enfrentados por muitas nações.
Para os mais vulneráveis, as promessas não cumpridas não são meras falhas burocráticas, são existenciais. Um relatório recente do Banco Mundial indica que erradicar a pobreza extrema até 2030 é um objetivo inalcançável, enquanto a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C está cada vez mais distante.
Chegou a hora de começar a agir. O Fundo de Perdas e Danos deve ser totalmente financiado, a IDA21 deve priorizar subvenções, e o G20 deve transformar a sua retórica em planos concretos. Além disso, é essencial dar aos países em desenvolvimento um lugar à mesa na tomada de decisões.
No fim de contas, as promessas têm a ver com uma questão de confiança. Na COP29, na IDA21 e no G20, os líderes mundiais estenderam as mãos. Agora, deveriam ter de cumprir. Talvez não seja preciso cortar mindinhos, mas o custo de quebrar promessas já é alto demais.
O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.