Fruto do ato eleitoral decorrido resulta uma Aliança Democrática vencedora, porém ilegítima. E quando assim a caracterizo não coloco em causa a vontade da maioria dos portugueses, focando-me apenas na ausência de mandatos para formar uma maioria de direita em cumprimento da palavra de Luís Montenegro, ou seja, sem o Chega.
O Chega tem sido um fenómeno que vem beneficiando do crescendo da extrema-direita em todo o mundo e do descontentamento dos portugueses, aliando-se a um discurso forte e impactante que visa afastar quem o combate das reais fragilidades daquele partido.
Pessoalmente e por achar que os direitos são o expoente máximo da sociedade, coloco-me ideologicamente ao lado de quem luta pelos direitos das minorias, de quem apoia o casamento homossexual, de quem reconhece o valor e a necessidade de emigração, porém, embora ache que a posição do chega é degradante na luta por cada vez mais direitos, julgo que o partido e quem em nele vota possuí liberdade para projetar a sociedade da forma que a idealizam, não sendo por esta via que se combate o Chega.
Nas cartilhas das polarizadas injustiças sociais o discurso é difícil de contraria quando entranhado, muito fácil – e embaraçoso para as vozes do Chega – se torna quando confrontado com factos. Aqui chegados, urge confrontar André e os seus sobre a conjetura económica que propõe, aquela em que extingue IUC e IMI, diminui o IVA nos produtos portugueses (apesar de ilegal quando confrontado com as normas europeias), coloca a pensão mínima igual ao valor do salário mínimo nacional, repõe o tempo de carreira dos professores, equipara os subsídios de risco da PJ aos agentes da GNR e PSP e ainda, milagrosamente, desce impostos.
Se por um lado posso estar consciente da existência de quem acredita que as pessoas de etnia cigana são a grande causa do mau estar do país, muito surpreendido fico quando ainda existe quem acredita que é viável uma governação que tudo dá e nada tira. Uma hipotética gestão que apontam aos números imprecisos da corrupção, mas que quando aponta nomes que, segundo o próprio, são corruptos, restringe, no meio de tantos milhares de milhões onde existirá tanta gente que prevarica, a José Sócrates e Ricardo Espírito Santo. E porquê? Simples, já estão os dois no chão, é fácil bater-lhes.
Este vazio de ideias, combater-se-á, futuramente, por uma entre as duas seguintes formas: (1) deixar André Ventura governar, por forma a que os portugueses – nomeadamente aquele 1.108.797 milhões de pessoas – percebam que não tem capacidade para cumprir tudo ou parte do que apregoa; (2) unificar os blocos, com o acordo dos dois principais partidos, e fazer a mudança que é necessária no país, designadamente nos setores da habitação, da educação e dos rendimentos e criação de riqueza.
Outrora os membros da classe política priorizavam o interesse do país, seguido do bem do partido e, somente, por último o bem-estar do individuo, condição que, infelizmente, se tem vindo a inverter ao longo dos anos.
Seria importante que os líderes partidários se mostrassem disponíveis para, em conjunto e com consideração ao maior grupo parlamentar, priorizar o interesse social, democrático e económico, evitando a breve repetição de eleições que só trará descontentamento e, em consequência, fará crescer o partido sem estratégia de governação.