Como já era um hábito frequente desde muito jovem, o desporto fazia parte da minha rotina diária, mesmo que sem grande dedicação ou objetivos. Fazia-o por gosto e por ser uma forma de convívio com os meus amigos enquanto me mantinha ativo. Apesar de ter a consciência da importância do desporto na minha saúde, não tinha a mesma preocupação com a alimentação, que não era tão regrada como a frequência dos meus treinos.

No período da pandemia passei por uma fase de maior inatividade, devido aos constrangimentos existentes na altura, o que me levou a ficar mais sedentário do que o normal. À medida que as restrições foram diminuindo comecei a voltar ao ritmo de treinos, e ir fazer uma corrida ou um passeio de bicicleta tornou-se mais frequente.

Num desses dias, juntei-me a um amigo para uma corrida e um passeio de bicicleta e senti um cansaço fora do normal, para o que seria a minha condição física. Numa primeira instância considerei que poderia ser um sintoma de Covid e fui para casa descansar, uma vez que me sentia bastante exausto, um esforço que num dia normal seria bastante tolerável.

No dia seguinte o mesmo acontecimento repetiu-se, num novo treino, deixando-me mais inquieto, pois para além do cansaço a dificuldade em respirar tornou-se aflitiva e constante ao menor esforço. Foi quando decidi ir a uma urgência médica perceber o que se estava a passar.

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O que aconteceu a seguir foi um turbilhão de acontecimentos: da urgência do Hospital de Cascais fui transferido para o Hospital de Santa Cruz, onde após uma bateria de exames e um cateterismo, veio finalmente o diagnóstico. O médico disse-me que estava prestes a sofrer um enfarte. A minha reação foi de descrença e negação. Como podia isto estar a acontecer? Eu, alguém que praticava desporto regularmente e com 42 anos, estava à beira de um episódio cardíaco que poderia ter sido fatal.

Foi então que o médico me disse algo que mudou tudo: “Se não fosse pela sua condição física, o seu coração não teria resistido até agora.” Aquelas palavras foram surpreendentes. Percebi que o desporto, que sempre encarei como algo para me manter em forma e aliviar o stress, tinha sido, na verdade, a razão pela qual eu ainda estava vivo. O meu coração, fortalecido por anos de exercício regular, conseguiu suportar a tensão até que fosse possível receber tratamento.

A cirurgia cardíaca de triplo bypass era, no entanto, inevitável, pelo que fui operado após três semanas de ter dado entrada na urgência. A recuperação não foi fácil, e o medo de que algo pudesse correr mal era constante. Mas a minha determinação de continuar a viver de forma ativa e saudável nunca vacilou. Decidi que não iria apenas recuperar, iria transformar-me.

Três anos após a cirurgia, estou prestes a enfrentar um novo desafio: a prova de Ironman. Nunca imaginei que, após passar por uma experiência tão traumática, estaria a preparar-me para uma das provas de resistência mais exigentes do mundo. Ser triatleta de Ironman significa nadar 3,8 km, pedalar 180 km, e correr uma maratona (42,2 km) — tudo num único dia.

A jornada até aqui foi tudo menos fácil. Treinos intensos, sacrifícios pessoais e uma disciplina que nunca imaginei ser capaz de alcançar tornaram-se parte da minha vida. Mas, acima de tudo, o que me motivou foi a gratidão. Gratidão por ter uma segunda oportunidade de viver, de desafiar os meus limites e de mostrar que, mesmo após um episódio cardíaco, é possível alcançar feitos extraordinários.

O meu coração foi reparado, mas é o desporto que continua a mantê-lo forte e resiliente. E em outubro, quando cruzar a linha de chegada no Ironman, saberei que a vitória não é apenas minha — é de todos os que acreditam que, mesmo nos momentos mais difíceis, é possível renascer com mais força e determinação.

Jorge Banha, 45 anos, é licenciado em Gestão pela ISCTE Business School e atualmente trabalha como gestor de ativos numa empresa financeira. Nos tempos livres dedica-se ao triatlo e está a preparar-se para participar pela primeira vez na prova Ironman, agendada para outubro de 2024.  

Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.

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