Somos seres tão inteligentes, a nossa linguagem é tão rica, os temas e campos de interesse tão infinitos, que não teremos, arrisco a dizer, um entendimento completo por parte da máquina da linguagem natural. Vamos recuar um pouco para ver como tudo começou, perceber onde estamos atualmente e o que é que podemos contar como certo nos próximos anos.
O campo de NLP (Natural Language Processing) é tão antigo como a própria área da Inteligência Artificial (IA). Aliás, um alimenta o outro já que, ao criar processos que permitem entender o homem, estamos aptos a passá-los para a máquina, ampliando a inteligência artificial da mesma.
Alan Turing, por muitos apelidado como o “pai da computação moderna e da Inteligência Artificial”, avançava, no seu famoso artigo “Computing Machinery and Intelligence”, em 1950, com a ideia de que um dia seria possível realizar um teste aplicado a qualquer hardware/software, para que este pudesse simular uma conversa com um ser humano. Este diálogo deveria ser tão realista que o ser humano iria efetivamente acreditar que do outro lado estaria outro ser humano.
Passaram quase 70 anos e a verdade é que nenhum sistema inteligente conseguiu ainda passar no teste proposto pelo pai da IA, mas empresas como a Google, a Amazon e a Microsoft obtiveram avanços significativos nessa
direção. Atualmente, já estão disponíveis na cloud, a preços muito reduzidos e acessíveis a todos, soluções que permitem ensinar máquinas a responder a inputs que lhes chegam de humanos. Educando estas máquinas de forma regular, ao analisar as várias maneiras como os seres humanos abordam uma mesma questão e treinando-as para darem a resposta mais ajustada, conseguiremos torná-las cada vez mais inteligentes, capazes de auxiliarem os
humanos a solucionar questões simples de uma forma imediata e em qualquer momento.
Assim, na próxima década podemos contar com o acesso a software cada vez mais sofisticado que será capaz de traduzir textos quase como um ser humano, dialogar com uma secretária para marcar uma consulta médica ou fazer uma compra on-line, auxiliar um consumidor a utilizar uma nova máquina ou consertar o seu ar condicionado. Com interfaces baseadas em voz e quepermitam uma comunicação natural (com expressões do dia-a-dia), a digitalização da sociedade estará consolidada.
Pessoas em qualquer lugar do planeta vão poder comunicar-se mais facilmente com as máquinas, fazer perguntas sobre saúde ou receitas culinárias, dar formação à distância ou interagir com outros indivíduos ao seu redor. No final da década de 2020, os sistemas de NLP conseguirão ler milhares de artigos científicos e serão capazes de resumir o conhecimento destes artigos e produzir novo conhecimento através de sofisticados processos de inferência
Pela primeira vez na História, a inteligência que “vive” em softwares será capaz de realizar as suas próprias descobertas científicas: um novo medicamento, hipóteses sobre fenómenos naturais, novos materiais, avanços na genética ou em qualquer outra área do conhecimento humano.
*Joana Carravilla é country manager Iberia da Elife
Este texto insere-se na série de artigos de opinião denominada “Stranger Topics – Tendências para a década de 2020”, desenvolvida pela Elife – empresa pioneira em inteligência de mercado e gestão de relacionamento nas redes sociais. Cada texto é relativo a uma de oito tendências digitais que a empresa definiu, com base numa perspetiva otimista para a próxima década.