Eu estou em casa desde do dia 10 de Março. Já lá vão mais do que os 14 dias exigidos de quarenta. Nunca tive, nem tenho qualquer sintoma do COVID 19. Confesso que não estou a adorar esta situação, mas até me surpreendi por estar a conseguir vivê-la com tanta naturalidade.

Até que ontem ouvi dizer que ainda em maio estaremos nesta situação de confinamento pois a doença continuar-se-á a propagar ao longo das próximas semanas e o tão esperado pico ainda está sem data de chegada.

Ora bem, eu concordei e continuo a concordar em absoluto com a decisão do Governo de exigir recolhimento obrigatório à população até dia 9 de abril. Mas agora ouço falar em final de maio e já tenho dificuldade em compreender…

Já não me admirava que acabassem por nos dizer que o ideal era vivermos todos assim até aparecer vacina, que há-de ser lá para meados de 2021. Isso sim era seguro!

Até podia ser, mas ficaríamos todos com fortes sequelas: mentais, sociais e económicas.

Então como é que na China, para além de ter estagnado o número de mortes — já ultrapassado no dia em que escrevo este texto pelos EUA e pela Itália — consegue estar a voltar à vida normal? 

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Os chineses estão a ser monitorizados!

Já há muito tempo que o Estado chinês monitoriza os seus cidadão e tem sistemas avançadíssimos de gestão de Big Data para em milésimos de segundo fazer um perfil de cada cidadão que aparece nas câmeras de videovigilancia espalhadas pelas cidades.

Nunca perguntou aos cidadãos se queriam ou não partilhar todos os seus dados pessoais e serem monitorizados 24/7. Sempre os usou a seu bel prazer para controlo dos seus cidadão. E nós sempre os criticámos por isso.

Agora, pelo pior dos motivos esse controlo está a ter um efeito benéfico, pois permite identificar focos de transmissão do COVID 19, mapear relações entre as pessoas e os locais onde estiveram e assim antecipar a propagação e isolar os indivíduos que estiveram em contacto com algum dos cidadãos portadores por um período suficiente para assegurar que não estão contaminados.

Outro exemplo é Israel, um país em permanente alerta e muito cioso do seu povo e da sua segurança e continuidade, também não hesitou quando teve que enviar SMS a pessoas que tinham estado em encontros onde esteve também uma pessoa infectada, exigindo que todos os aí presentes entrassem de imediato em quarentena. E cada uma dessas pessoas passa a ser acompanhada diariamente pelas autoridades para garantir que nada lhes falta, mas também para assegurar que se mantêm isolados, para a segurança de todos.

Na semana passada foi o Reino Unido, atrasado e atrapalhado, que teve que usar os números pessoais dos britânicos para, num SMS, os alertar que deviam ir e ficar em casa. Pelo bem de todos!

Agora que deixou a União Europeia e que provavelmente se sente mais livre para dar um pontapé no RGPD para salvar os seus cidadãos, fará com certeza uso dos dados que os cidadão vão deixando: nos seus movimentos por georeferênciação, nos seus contactos por WhatsApp, e na conversas de Facebook.

Os Governos estão a fazer o melhor que sabem para já. Mas não esperem que os cidadãos aguentem isto muito mais tempo. Enjaular os cidadãos é a decisão a ser tomada em urgência, mas não é razoável mantê-la quando a urgência passa a ser a normalidade.

Se o preço a pagar para deixarmos de estar todos confinados em casa, for cada um de nós permitir o acesso aos seus dados pessoais para que as autoridades consigam mapear o nosso dia-a-dia, terem acesso a onde e com quem estivemos para conseguir identificar novos focos de propagação da doença, contem comigo!

Eu cedo já a todas as autoridades o acesso a todas as minhas contas e perfis digitais se a partir dessa cedência elas fizerem o seu trabalho que é controlar cada um de nós para um bem comum.

Pelo bem de todos, eu cedo os meus dados!