No início do século XX, uma admirável elite feminina da sociedade portuguesa destacou-se pela defesa dos direitos cívicos, sociais e laborais das mulheres em Portugal, e, principalmente, pela defesa do direito à educação como direito fundamental para garantir a oportunidade de a mulher se desenvolver intelectualmente e de exercer profissões que na altura eram domínio exclusivo dos homens.

Neste contexto, destaca-se em 1917 Aurora Teixeira de Castro, formada em Direito, tendo também concluído com sucesso a frequência das secções Históricas, Geográficas e Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde foi aluna de Carolina Michaelis, primeira mulher a lecionar numa universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra, a quem deve os seus ideais feministas.

Nos tempos de estudante, em 1916, publica no jornal de Coimbra O Debate o artigo intitulado “Missão da Mulher”, onde começa por referir que: “Essencial, digna e benéfica, em nada inferior à do homem, é a missão social da mulher”.

Em 1921, Aurora Teixeira de Castro foi nomeada a primeira mulher notária em Portugal, hoje considerada a primeira notária na Europa e no Mundo.

Na década de 20, a par do seu desempenho profissional de Notária em Lisboa, continua a lutar pelas desigualdades da época em relação às mulheres, quer estabelecidas no Código Civil, quer a nível social. Em Agosto de 1921 publica um artigo intitulado “O Direito ao voto”, dando a conhecer que: “As mulheres dos países mais progressivos tem pugnado por ele. As mulheres da raça anglo-saxónica foram as primeiras a conseguir este “desideratum” feminino, seguindo-as no triunfo do seu ideal, as representantes da raça latina. A Grécia e a Itália, acabam de conceder às mulheres dos seus países o direito do sufrágio, embora esse direito seja restrito ao voto municipal. Na Europa, só os arautos da liberdade e da Democracia Portugal, França e Espanha é que não acharam ainda oportuno o momento de concessão de tão justa, tão necessária e urgente.”

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No Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, Aurora Teixeira de Castro desempenhou diversos cargos diretivos, tendo sido nomeada Vice-Presidente em 1927, e marca presença e participação ativa nos dois Congressos Nacionais Feministas e de Educação realizados em Portugal. No discurso da sessão inaugural do 1º congresso, realizado em 1924, evidencia-se como oradora através da tese intitulada “Reivindicações Políticas da Mulher Portuguesa”, e em 1928 reforça, reitera e insiste nos direitos da mulher através da tese intitulada “Reivindicações Femininas “.

A Declaração do Milénio de 2000 das Nações Unidas, documento histórico, que tem como um dos objetivos promover a igualdade de género e autonomia da mulher como meios eficazes de combater a pobreza, a fome e as doenças e de promover um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, reacende todos estes ideais pelos quais Aurora Teixeira de Castro e suas contemporâneas foram pioneiras na defesa de direitos, cada uma nas suas áreas profissionais, Adelaide Cabette na Medicina, Aurora Teixeira de Castro no Direito, Carolina Michaelis, na Literatura e Filosofia, e sem as quais não seriamos o que somos hoje.

Nos inícios deste século XXI, onde as desigualdades ainda se acentuam, é nosso compromisso continuar no aperfeiçoamento dos seus ideais de forma a garantir no futuro, a igualdade social, política, e económica a todas as mulheres do mundo.