Não! Não desvalorizo a corrupção. E tenho-o demonstrado ao longo da minha vida política, sem retórica e com ação.

A profunda reforma legislativa que produzi como Ministro da Justiça, as medidas de transparência que introduzi na gestão municipal e o atual reforço sem precedentes dos meios de combate à corrupção por parte da Polícia Judiciária são uma resposta cabal ao título deste artigo.

Porquê então a pergunta? Porque ao longo da semana fui assistindo à construção de uma mentira a partir da deturpação de uma resposta a uma pergunta… que não me foi feita.

Para memória futura, limito-me assim a proporcionar ao leitor a transcrição integral do diálogo que mantive com os jornalistas e cujo vivo podem encontrar neste link. Como poderão constatar, ninguém falou de corrupção. Nem os jornalistas quando me questionaram, nem eu quando lhes respondi.

Não, não desvalorizo a corrupção, mas também não desvalorizo a mentira.

Aqui fica a transcrição:

P: (RTP) Posso já perguntar uma reação à última demissão, são 13 num ano, é um balanço negativo…
R: Bom, deixemos a justiça funcionar. Quanto a este Conselho de Ministros, tradicionalmente nós no final do ano político costumamos sempre ter um encontro informal para se poder fazer uma reflexão sobre o caminho que foi percorrido, sobre aquilo que temos de fazer, o que temos de corrigir, o que temos de acelerar, o que correu bem e que temos de continuar a melhorar. É um momento importante para que todos os membros do Governo possam falar não só das suas áreas, mas do conjunto das áreas. Temos o debate do Estado da Nação dentro de duas semanas e é importante prepararmos esse debate e começar também a preparar o próximo ano, portanto vai ser uma reunião descontraída para que todos possamos trocar impressões, visto que o Governo é um órgão colegial, e acho que este espaço maravilhoso deste parque de Monserrate é muito inspirador.

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P: (RTP) Mas o Governo está a acusar algum desgaste num ano e três meses para todas estas demissões e todos estes casos?
R: Sabe que eu dedico-me pouco à análise política e mais a fazer aquilo que me compete, que é governar. Como tenho dito, é muito difícil um país que veio de uma pandemia fortíssima como a que nós enfrentámos, com todas as consequências que isso teve do ponto de vista económico e social, psicológico para todos nós e para o conjunto dos cidadãos, o impacto brutal desta guerra com aquilo que trouxe consigo de destruição, mas também que geraram um pico inflacionista como há 30 anos nós não vivíamos e que em Portugal tem uma dimensão particularmente dura e perturbadora da vida das famílias, que tem a ver com as medidas que vão sendo adotadas da subida da taxa de juro para procurar controlar a inflação por parte do BCE e que tem um grande impacto em Portugal — maior do que nos outros países da UE — porque nós temos uma maior percentagem de taxas variáveis no crédito do que outros países têm. Outros países recorrem sobretudo a taxas fixas e ficaram menos expostos a esta subida das taxas de juro. Nós, como temos uma elevadíssima percentagem de taxas variáveis no crédito à habitação, isso é muito duro. Como sabem, entrou no mês passado em vigor o mecanismo de bonificação dos juros que foi aprovado, estamos a trabalhar com os bancos para verificar qual é o impacto efetivo dessa medida, se é necessário ser alargada, em que medida é necessário alargar, isso obviamente gera tensões e gera dificuldades. Aquilo que é importante é nós estarmos sempre a governar a pensar nas pessoas. Foi o que fizemos quando tivemos de virar a página da austeridade, foi o que fizemos quando tivemos de enfrentar a ameaça de sanções da UE, foi o que fizemos quando tivemos de enfrentar a covid, é o que temos feito agora nesta crise inflacionista e, portanto, essa é a principal preocupação e temos de continuar a governar a pensar nas pessoas e é esse o foco que temos de estar.

P: (CNN) Neste Conselho de Ministros, o Governo vai refletir sobre os temas que estiveram na origem de várias demissões no Governo, nomeadamente a TAP, esta questão da Defesa… Pergunto-lhe se vão aproveitar para, todos juntos, refletirem sobre isso. E também se já traz o nome do novo Secretário de Estado da Defesa aos seus colegas.
R: Nós vamo-nos concentrar seguramente hoje naquilo que importa à vida dos portugueses. E sem querer diminuir aquilo que preocupa muito os comentadores e o espaço político, eu sinceramente aquilo que eu sinto que preocupa as pessoas são temas bastante diferentes. Eu ando muito na rua, vou ouvindo o que as pessoas me dizem, e as pessoas dizem-me coisas que têm pouco a ver com esses assuntos. E é nesses, aquilo que eu sinto que é a preocupação fundamental das pessoas, que nós temos de estar centrados — porque a função do Governo é governar a pensar nas pessoas — e o que preocupa as pessoas é: o impacto da inflação e se vamos conseguir continuar esta tendência que se iniciou há dois meses de começar a reduzir a inflação; se vamos prosseguir uma política de melhoria dos rendimentos como temos conseguido fazer desde 2015 até agora; os desafios que o reforço do SNS coloca, porque as pessoas dizem “bom, se já se aumentou 56% do orçamento do SNS, isso tem que se traduzir numa melhoria efetiva que as pessoas sintam dos cuidados prestados” e nós verificamos de facto que aumentaram muito o número de consultas e cirurgias, a direção executiva entrou em funções há pouco tempo e está a introduzir já melhorias. Agora, há um grande passo que temos de avançar para reforçar a reforma dos cuidados de saúde primários, quer com os equipamentos e as obras que são financiados pelo PRR, quer sobretudo com a generalização do modelo das USF tipo B a todo o país, o que significa um novo modelo desde logo da relação com os médicos, visto que uma parte significativa do vencimento é associada a objetivos e é um modelo que já está testado, demonstrado, que demonstra que a qualidade dos cuidados de saúde melhora muito e, ao mesmo tempo, a remuneração dos profissionais também melhora significativamente. Portanto, é um modelo que temos de generalizar e devemo-lo fazer rapidamente. Temos de ver como aplicamos o modelo de dedicação plena também nos cuidados hospitalares para poder responder melhor. Temos de continuar a fazer um fortíssimo investimento naquilo que é a capacidade que o país tem demonstrado nas últimas décadas — a maior transformação que teve — que tem a ver com o nível de qualificação geral da população e o que isso tem permitido de introduzir a inovação como grande motor do crescimento, e olhar e continuar a acarinhar esta enorme  transformação está a haver na economia portuguesa, porventura nem sempre é percebida, e que tem a ver com as novas empresas que estão a surgir,  a modernização que o tecido empresarial está a ter, o fortíssimo investimento estrangeiro que estamos a atrair, a reindustrialização do país que está a acontecer e que explica por exemplo que 50% do PIB no ano passado pela primeira vez tenha sido mais de 50%. E oiço muitas vezes as pessoas dizerem que isso tem a ver com o turismo. Bom, o turismo não é uma coisa menor, é uma coisa muito importante porque o turismo gera emprego não só para quem trabalha no turismo, mas gera muito emprego e muita economia a montante, em quem produz produtos agrícolas que fornece também a quem nos visita, à indústria, à construção, aos serviços de aviação, de transportes. O turismo em si já é muito importante e há uma realidade que é preciso ter em conta: é que, no conjunto das exportações do país, a exportação de bens ultrapassa a exportação dos serviços, e a exportação de outros serviços ultrapassa o que representa o turismo nas exportações. Portanto, sem diminuir a importância extraordinária do turismo na nossa economia e na nossa sociedade, convém não nos iludirmos e achar que é só turismo. Não é, o turismo não é a maioria dos serviços que são exportados e o conjunto dos serviços exportados são menos do que os bens exportados. Isso significa uma mudança estrutural que está a acontecer na nossa economia e que temos de acarinhar e por isso é fundamental manter a estabilidade das políticas porque é com essa estabilidade das políticas que nós continuaremos a manter este círculo virtuoso.

P: (SIC) Queria pedir-lhe um balanço desta reunião — já sei que falou de economia — e também se pudesse responder a esta exoneração de ontem, se esta décima terceira demissão não é um incentivo suficiente para pensar numa remodelação do Governo.
R: Como disse há pouco, posso repetir agora, esta reunião é uma reunião que nós fazemos anualmente para fazer um balanço geral da situação do país, para que todos os ministros possam falar não só sobre as suas áreas, mas também sobre o conjunto das prioridades e muito focado na necessidade de governar a pensar nos portugueses, e focados naquilo que são os problemas que efetivamente preocupam os portugueses que tem a ver com o custo de vida, com os rendimentos, com o acesso à habitação, com a melhoria do SNS. É isso que estaremos necessariamente focados e a trabalharmos todos em conjunto.

P: (CNN) E já tem nome para Secretário de Estado da Defesa? + (RTP) Vai pensar em alguma remodelação, Sr. Primeiro-Ministro? 
[Não responde]