Há 80 anos, no dia 6 de Junho de 1944, as forças aliadas deram início à reconquista de França através da maior invasão anfíbia da História, conhecida como D-Day, parte da Operação Overlord. Mais de 150.000 homens integraram esta fase da operação e no final do dia já haviam cerca de 10.000 baixas aliadas. Muitos eram jovens de 18, 19 e 20 anos, alguns até mais novos, que tinham mentido no processo de recrutamento para poderem servir o seu país.

Acompanhei a cerimónia na Sky News, porque os canais portugueses estavam demasiado ocupados com as novidades do mercado de transferências futebolístico, e mais uma vez fui relembrado da enorme dívida de gratidão que temos para com aqueles que arriscaram e sacrificaram as suas vidas para nós estarmos aqui agora. Ouvi os testemunhos de alguns dos veteranos, agora já poucos, que participaram no Dia D, e temi que com aquela geração morresse também o bom-senso, a humildade e a coragem. Estes homens consideraram que havia certos valores que estavam acima da paz e pelos quais valia a pena lutar, como Bradbury escreveu, “War is a bad thing, but peace can be a living horror”. Será que ainda pensamos assim? Parece-me ligeiramente esquizofrénico celebrar uma guerra do passado recente enquanto condenamos qualquer conflito do presente. Por que valores estaríamos dispostos a lutar hoje? Ou a paz toma sempre precedência, independentemente das consequências?

O fascismo que estes veteranos combateram era, efectivamente, o fascismo e o nazismo. O fascismo que combatemos hoje parece ser a liberdade de expressão, o patriotismo e o cristianismo/judaísmo. Antes lutavam por todos e por uma causa comum, agora luta-se pelo próprio e pelo culto do “eu”. Naquela altura, a coragem dos jovens era colocar a vida ao serviço da família, do país e dos seus valores. Hoje, a coragem dos jovens é medida na afirmação da identidade (o que normalmente significa uma tatuagem na perna ou um piercing no nariz), numa mudança de género, no chorar em directo para o tik-tok, ou no lançar uma sopa contra um quadro. Os exemplos são ridículos porque a degradação da civilização ocidental também o é.

Observem a sociedade e coloquem-se a vocês próprios esta questão com toda a honestidade: seremos hoje merecedores da herança e do sacrifício do Dia D? Acho que também vão chegar à conclusão inevitável de que não somos. No entanto, ainda vamos a tempo de mudar. O primeiro passo é reconhecer sobre que ombros nos apoiamos e substituir a sobranceria pela gratidão, o narcisismo pela humildade e a vitimização pela coragem.

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