Rui Rio tem defeitos, mas tem, também, muitas qualidades. Uma delas, talvez a mais notória, é ter a capacidade de criar percepções. Foi assim, por exemplo, com a questão do FC Porto em que soube criar a percepção que é um político corajoso, sério e capaz de combater tudo e todos.
Após vários meses de silêncio, Rui Rio decide dar hoje uma entrevista ao Jornal de Notícias, onde, de uma forma clara, diz que a procuradora-geral de República se deve demitir. Lendo a entrevista até posso entender, com algum esforço, o que quer dizer. Mas isto é política, e a política é feita de percepções. E as percepções são de entendimento binário (como Rio bem sabe), e, neste momento, atacar o MP é defender Costa e o Partido Socialista.
Não deixa de ser curioso que esta procuradora-geral da República tenha sido nomeada pelo Governo e Presidente da República, durante o mandato de Rio na liderança do PSD, que, em vez de se focar politicamente na recondução de Joana Marques Vidal, preferiu defender um argumento de mudança (defendia alguém externo ao MP), que deu conforto aos decisores para retirar Joana Marques Vidal do cargo e abrir espaço para a atual Procuradora.
Mas ainda, é curioso que isto seja feito dois dias após a entrevista de António Costa e no dia antes das eleições do Partido Socialista, que, a partir de Sábado, terá um líder eleito, e que, com toda a certeza, terá a sua campanha centrada numa narrativa não oficial que Rio ajudou a reforçar: o Ministério Público e a PGR são culpados, logo o PS e António Costa foram vítimas e, sendo assim, é necessário reverter esta injustiça.
Dito tudo isto, faço um apelo a todos os que têm ou tiveram responsabilidades no PSD: vivemos num período de enorme instabilidade, corremos o risco real de ver o país governado por uma nova geringonça socialista, comunista e bloquista, e o país não aguenta isso.
O nosso eleitorado, fiel ou potencial, não conseguirá entender que seja justamente um ex-presidente do PSD a facilitar-lhes a vida.
Não é tempo de dividir, é tempo de UNIR. O partido e o país.