Num belo dia interrompem o trânsito à hora de ponta; uns dias depois esperam agachados pelo cair da noite, invadem um campo de golf e tapam-lhe os buracos com cimento; na semana seguinte pintam insultos homofóbicos nas paredes do Finalmente e aplicam nos empregados uma carga de pancada; na outra semana vão aos Paços do Concelho, em Lisboa, despejam na fachada latas de tinta encarnada e penduram-lhe uma bandeira da Palestina; no domingo passado interromperam na Fundação Gulbenkian um espectáculo de música tocada pelo Quarteto Jerusalém. Às vezes o grande velhaco é o “clima”, outras vezes o estado de Israel, outras ainda a “iniciativa privada”, a “homofobia”, o “capitalismo”, ou simplesmente “os ricos”; em bom rigor, a raiva desta vadiagem nasce toda contra as democracias liberais. “Não é activismo, é terrorismo”, ouviu-se comentar candidamente à direita. Veremos que nem sempre faz sentido distinguir entre “activismo” e terrorismo, porque há uma convivência inseparável entre os dois, uma proximidade que, a cada passo, vai respondendo ao impulso anterior. No final é impossível isolar o ponto onde acaba uma coisa e começa a outra. Veremos também porque é que o “activismo” deve ser rejeitado pelos partidos da direita; e as práticas dos “activistas” devem ser combatidas, por todos os meios democráticos, e punidas pela Justiça sempre que violem a lei. Por alguma razão, os “activistas” do “clima” (Climáximos e compagnons de route) dizem que “já não estamos em emergência climática, estamos em guerra”. A alusão à guerra serve-lhes para legitimar os meios ilegais. Não podemos consentir. Só este pormenor devia acender triângulos de alerta nas cabeças pachorrentas da direita.

A Câmara de Lisboa, e sobretudo a Assembleia Municipal, é quem convive mais de perto com activismos e militâncias, sejam as bicicletas, o “clima”, os assuntos LGBT, a Palestina, e todos os pretextos que a respeitabilidade woke tira do saco. Não só porque é na cidade que os “activistas” mais se manifestam e exercem pressão, mas sobretudo porque é na cidade que eles deixam os rastos das agressões deles. O aspecto mais surpreendente e relevante é perceber que o “activismo” se caracteriza por defender ideias sem qualquer correspondência com o apoio que elas têm na sociedade. Os “activistas” não foram eleitos, não representam ninguém ou não sabemos quantas pessoas efectivamente concordam com as coisas que eles dizem. Por outro lado, os “activistas” usam todos os métodos: ao contrário dos partidos, dos governantes, e dos deputados eleitos, os métodos dos activistas não estão procedimentados. A única limitação é a lei. Por isso é importante aplicar a lei, e aplicar sempre a lei, e nunca abdicar desse único instrumento para defender as pessoas e a sociedade das agressões puritanas dos “activistas”.

Mais. O “activismo” é uma prática continuada com o objectivo de obter certa mudança política ou social. Usa vários tipos de meios, dos mais doces aos mais implacáveis. Todo o terrorismo usa o activismo e cresce a partir dele. Ou até antes: o indivíduo, fanático e desorientado, começa por descer àquilo que eles chamam, em língua de pau, “cidadania”; gradualmente, desliza para o “activismo”, e daí para o imaculado terrorismo vai um passo curto e beato. Os dicionários da Porto Editora (dependendo da edição) definem o “activismo” como “tendência para a actividade política e exaltada”; outra edição define-o como “tendência para a acção violenta ou extremista”. Isto explica porque é que os “activistas” vivem fora dos partidos, sem querer com isto dizer que são independentes. Até porque não são. Mas de facto vivem fora dos partidos, seja porque os partidos os rejeitaram, ou seja porque os partidos não os reconhecem publicamente. Dito de outro modo, os partidos (da esquerda, como é evidente) apoiam as práticas dos “activistas”, vivem articulados com eles, coordenam a manobras deles, muitas vezes até os financiam; mas não querem ser pública e formalmente associados a eles por causa das ilegalidades. É fácil encontrar correspondência nos nomes dos dirigentes locais de segunda linha, dos candidatos, dos “coordenadores” disto e daquilo, nos abençoados “colectivos” e nos partidos da extrema-esquerda. O jornalismo que faça o seu trabalho, nem sequer precisa de muito dinheiro. Basta um estagiário com um computador e uma ligação à internet.

Por fim, não é preciso dizer mas a coisa vai melhor quando se diz: o “activismo” é sempre de esquerda. Sempre. Sem excepções. Em havendo desacatos para defender ideias de que a esquerda não gosta, ou contra a própria esquerda, ou contra as ideias que favorecem a esquerda, ou contra as ideias que a esquerda nos quer fazer engolir, já não estamos perante “activistas”; estamos perante “militantes da extrema-direita”. Não sou eu que o digo: o próprio jornalismo ao publicar a notícia distingue imediatamente. De maneira que em princípio, e até prova em contrário, tudo o que esteja remotamente relacionado com “activistas” ou “activismo” deve ser rejeitado pelos partidos da direita. A estupidez tem limites.

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