Há anos que alerto para o facto de as políticas de género fatalmente serem a caixa de Pandora para normalizar e legalizar a pedofilia, garantindo aos pedófilos o direito a expressar a sua “orientação sexual” ou a sua “identidade de género” (que é um sentimento e um sentido profundo sobre si mesmo1, que todos têm direito a viver e expressar livremente). Só não pensei que viveria o suficiente para ver tão grande retrocesso civilizacional, para ver crianças a serem sacrificadas no altar de uma ideologia absolutamente degradante e imoral.

O caminho para a legalização da pedofilia tem vindo a ser preparado há muitos anos (pretendo escrever sobre o assunto nos próximos dias), mas hoje quero falar sobre o apelo da deputada do Podemos, mulher e mãe de três filhos, ao “direito de as crianças” escolherem os seus parceiros sexuais (sim, eu sei que crianças e parceiros sexuais é algo impensável, mas, pelos vistos, há mães dispostas a entregar os seus filhos a adultos, caso as crianças desejem fazer sexo com eles).

Então, no dia 22 deste mês, quando passava os olhos no feed notícias, sobressaltei-me com as palavras, profundamente sentidas, proferidas pela Ministra da Igualdade do governo espanhol, durante um debate sobre o aborto e a lei da Educação Integral em Sexualidade, que são uma clara apologia da pedofilia e que passo a traduzir literalmente:

Para falar de educação sexual, por exemplo, que é um direito dos meninos e das meninas, senhor. Independentemente de quem sejam as suas famílias, porque todos os meninos, as meninas e es menines deste país têm direito, têm direito a conhecer o seu próprio corpo e saber que nenhum adulto pode tocar o seu corpo se eles não quiserem, se eles não quiserem, e que isso é uma forma de violência. Têm direito a saber que podem amar ou ter relações sexuais com quem lhes der na gana, baseadas, isso sim, no consentimento. E isso são direitos que têm reconhecidos e de que vocês não gostam.2

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Negar que as palavras de Irene Montero querem dizer o que ela disse, é rotular quem a ouviu de retardado mental. O que todos ouvimos é uma clara apologia em favor da «Educação Integral em Sexualidade» [EIS] como um instrumento de libertação sexual das crianças, para que estas tenham sexo «com quem lhes der na gana».

Ouvir a bloquista Irene Montero foi como voltar aos anos 70 e “ouvir” a feminista radical Shulamith Firestone, no seu livro Dialética do Sexo, onde defende que «as crianças não deveriam permanecer sob a jurisdição dos pais, pois estes fariam delas aquilo que quisessem».3

Para a feminista, a destruição da família não aconteceria sem que fossem introduzidas mudanças graduais, que incluíam a pedofilia. Firestone sonhava com uma sociedade socialista, na qual a família seria substituída por pessoas sem quaisquer laços sanguíneos. Com isso em mente, escreveu: «depois de algumas gerações» será possível que «as relações entre pessoas de idades muito diferentes se tornem comuns»4  assim «o conceito de infância foi abolido, as crianças têm plenos direitos legais, sexuais e económicos, as suas actividades educacionais/laborais não diferem das dos adultos. Durante os poucos anos da infância, substituiríamos a “paternidade” psicologicamente destrutiva de um ou dois adultos arbitrários, distribuindo a responsabilidade do cuidado físico por um grande número de pessoas. A criança ainda pode formar relacionamentos amorosos íntimos, mas, em vez de desenvolver um relacionamento próximo com uma “mãe” e “pai” decretados, a criança pode agora formar laços com pessoas da sua própria escolha, de qualquer idade ou sexo. Portanto, todas as relações entre adultos e crianças serão escolhidas mutuamente».5

E porque estas pessoas podem sempre pensar e escrever coisas indescritivelmente abjectas, sentencia: «Se a criança pode escolher relacionar-se sexualmente com adultos, inclusive se ela deve escolher a sua própria mãe genética, não haveria nenhuma razão à priori para que ela rejeitasse os avanços sexuais, porque o tabu do incesto teria perdido a sua função. […] As relações com crianças incluem tanto o sexo genital tal como a criança é capaz de receber – e, provavelmente, é muito maior do que agora cremos – porque o sexo genital já não seria o foco central da relação, porque a falta de orgasmo não apresentaria um problema sério. O tabu das relações adulto/criança e homossexual desapareceria».6 O tabu de toda e qualquer perversão desapareceria.

O que Shulamith diz, textualmente, é que uma criança pode escolher relacionar-se sexualmente com adultos (pedofilia), incluindo a sua própria mãe genética (pedofilia e incesto). Ou seja: se um adulto quiser ter relações sexuais com uma criança de 4 anos, por exemplo, só tem de a convencer a querer e verificar, com o seu pénis, se as dimensões do ânus ou vagina da criança são penetráveis. Os únicos limites para a prática da pedofilia passam a ser o não-consentimento da criança ou o limite biológico dos seus órgãos sexuais.

Assim, ao equiparar a capacidade de escolha de uma criança à de um adulto, como se ambos tivessem a mesma maturidade, desenvolvimento e força física, Irene Montero e Shulamith Firestone legitimam a manipulação de crianças indefesas e a pedofilia.

Neste discurso, de Irene Montero, importa entender porque é que ela fala de “consentimento”, mas antes, pergunto:

Porque é que a sociedade põe travão a certas condutas manifestamente perversas, como por exemplo a necrofilia, enquanto outras, que também são perversas, continuam a ser aceites? Qual a razão para este paradoxo?

Não será pelo facto de o pedófilo não poder reclamar uma condição de vítima, que o expropria do colectivo do abecedário colorido?

O que é que une todos aqueles que se identificam com determinada letra do abclgbtetc.? Todos são vítimas. Todos são vítimas de uma tal sociedade patriarcal opressora.

Mas o pedófilo não pode afirmar-se como vítima porque o seu desejo sexual incontrolável, o seu sentimento interno profundamente sentido, a sua identidade de género (de acordo com os ideólogos do género) faz vítimas e destrói emocionalmente todas as crianças das quais abusa.

Então, a lógica para a legitimação cultural da pedofilia obriga os seus proponentes a colocar de lado o status de vítima da criança, e foi isso que fez Irene Montero com a palavra-chave “consentimento”. Ela abre a porta aos pedófilos, sob o argumento de que não há uma vítima porque a criança consentiu, porque a criança (ou e menine, segundo a bloquista) tem direito a fazer sexo com quem quiser e ninguém lhe pode negar esse direito, nem sequer os próprios pais.

Entenda, por favor. As crianças deixam de ser vítimas e passam a ser activistas, que lutam pelos seus direitos de «fazer sexo com quem lhes der na gana» e Irene Montero passa a imagem de alguém que defende os direitos das crianças, coitadinhas, legisla no sentido de realizar esse direito, e empodera as crianças que, caso não exerçam esse direito, são oprimidas e reprimidas pelos pais, machistas opressores, e deverão passar para a tutela do Estado.

É de toda esta miséria humana que resulta o título deste artigo, a minha indicação de Irene Montero para o prémio de “promotora de pedofilia do ano”. Isto, claro, enquanto os pedófilos de todo o mundo não erigirem um altar à mulher que tentou legalizar culturalmente a pedofilia em Espanha e, consequentemente, mais tarde ou mais cedo, neste país à beira-mar plantado, aqui, mesmo ao lado…

Enquanto escrevia este artigo, não consegui parar de pensar naquele casal de pedófilos que violou a própria filha durante 8 anos7… Será que leram a Dialética do Sexo, que assimilaram as propostas da autora e as puseram em prática? Será que vão alegar que a filha consentiu?

Pais, por favor, entendam. Nada disto tem que ver com direitos humanos. Estamos perante o processo de normalizar a pior das barbáries, a maior violação dos direitos das crianças da era cristã.

Até quando?

1 https://blog.psicologiaviva.com.br/identidade-de-genero-e-orientacao-sexual/
2 https://www.youtube.com/watch?v=-O4PWJa6s5M
3 Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 218
4 Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 233
5 Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 239
6 Firestone, Shulamith. Ob. Cit., p. 240
7 https://www.jn.pt/justica/casal-detido-por-violar-propria-filha-ao-longo-de-oito-anos-15183334.html