Os adeptos de futebol esperam que as grandes competições internacionais lhes dêem futebol da mais alta qualidade, emoções fortes combinadas com inovações tácticas, equipas-sensação que cheguem longe e velhos senhores que não desiludam, o desempenho individual supremo, golos do outro mundo. Mesmo que ao longo de um mês de prova saboreiem um pouco de tudo isto, a sensação no fim é de barriga vazia. Qualidade como a Croácia demonstrou? Bah, na hora da verdade não foram capazes de se transcender. Emoções fortes como no Portugal-Hungria? Bah, péssimo jogo defensivo. Equipas a jogar com três centrais? Bah, vejam lá o que lhes aconteceu. Islândia e País de Gales? Bah, isso é porque as grandes equipas não apareceram. Alemanha? Bah, já não tem avançados como antigamente. Griezmann? Bah, não é o Platini. O pontapé de bicicleta do Shaquiri, o golo do Robson-Kanu, o calcanhar do Ronaldo? Bah, bah, bah. Que tédio!

Por uma longa série de razões, as expectativas absurdas resultam na ideia final de que o campeonato que acabou foi o pior de sempre. Itália 90? O pior de sempre. EUA 94? Ainda pior. Mundial de 2002? A sério? Euro 2004? Uma catástrofe humanitária. Euro 2008? Horrível. E assim sucessivamente. Ao ler algumas análises e balanços deste Europeu, confirmo essas impressões tremendistas, apocalípticas. E, no entanto, até uma avaliação desapaixonada, o que um português tem muita dificuldade para fazer neste momento, encontra flores no estrume porque os grandes campeonatos são isso: enormes estrumeiras de jogadores cansados de épocas com mais de cinquenta jogos, equipas com pouco entrosamento e treinadores sem tempo para criar sistemas e de onde, ocasionalmente, brotam flores magníficas que, daqui a uns anos, serão tudo aquilo que guardaremos na memória. Então vamos lá recapitular: os golos de Shaquiri e Robson-Kanu, a exibição de Hazard contra a Hungria, duas defesas de Lloris contra a Alemanha e duas de Buffon contra a Espanha, o sprint do Éder italiano a deixar Piqué em slow-motion, os passes de Iniesta e de Modric, a vitória sensacional da Islândia contra a Inglaterra, o jogo dos quartos-de-final do País de Gales contra a Bélgica, a qualidade colectiva de alemães e italianos, o faro de Griezmann que até à biqueirada marcou, a finta de Pogba a partir um defesa alemão.

Felizmente, os portugueses não terão de fazer grandes esforços de memória para se lembrarem deste campeonato. Para nós será sempre um inequívoco e consensual campo de flores. Eis algumas delas: o golo de calcanhar de Ronaldo, o voo magistral do capitão, as lágrimas no momento em que teve de abandonar a final, o penálti que Patrício defendeu e a exibição superlativa em Saint-Denis, a jogada do golo de Renato contra a Polónia, a cavalgada colectiva que matou a Croácia, todo o campeonato de Pepe e, acima de todas, a mais bela, justa e poética das flores da nossa vitória, aquele golo de Éder. Sim, foi o pior campeonato de sempre. Sim, foi o melhor campeonato de sempre.

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