A Madeira atravessa um período de grandes desafios políticos. Casos de instabilidade, eleições sucessivas e a fragilidade dos quadros parlamentares têm marcado o quotidiano da região desde setembro de 2023. Este é um desígnio regional, mas também, e sobretudo, nacional, pois a normalização das instituições e do seu funcionamento é essencial para o desenvolvimento integral do país.
Atualmente, uma moção de censura está sobre a mesa da Assembleia Regional e, ao que tudo indica, será aprovada, resultando em novas eleições regionais. Embora este não seja o cenário mais desejável, não pode servir de desculpa para perpetuar uma situação que apenas reforça a perceção de desconfiança e degradação das instituições.
Desde a égide da autonomia regional, a política madeirense foi marcada por um desenvolvimento singular e pela hegemonia do Partido Social Democrata. Contudo, o cenário tem mudado, e, se não fosse pela sólida base eleitoral do partido, a alternância política já teria ocorrido. Desde 2015, as vitórias do PSD têm-se tornado progressivamente mais apertadas.
É importante observar os sinais refletidos na participação dos cidadãos nas últimas eleições regionais, onde quatro em cada cinco madeirenses não votaram no partido que está no poder. A mudança de ciclo parece inevitável, mas isso não significa que outro partido esteja preparado para assumir a responsabilidade dessa transformação.
O contexto atual revela a teimosia dos líderes partidários em não aceitarem que uma era chegou ao fim, assim como a dificuldade em pensar para além dos interesses imediatos. Não porque politicamente seja impossível, mas porque, eticamente, não se alinham. Este cenário será ainda mais evidente nos dois grandes momentos que marcarão o final do ano político: a discussão do orçamento regional, documento que define as prioridades financeiras, e a moção de censura já anunciada, que, por iniciativa do Chega, clama pelo fim da anormalidade que assombra a vida política na Madeira.
Com a aprovação da moção de censura, caberá ao Presidente da República dissolver a Assembleia Legislativa e convocar novas eleições, previsivelmente no primeiro trimestre de 2025. Este desenlace obriga todos os partidos a refletirem e a reposicionarem-se.
No PSD, o desgaste político da atual liderança recomenda uma redefinição estratégica. É necessário escolher um candidato a Presidente da Madeira que tenha a legitimidade e a experiência necessárias para liderar um novo ciclo político. Esse novo líder deverá ser capaz de normalizar as instituições e reconquistar a confiança, tanto interna quanto externamente, para restaurar a credibilidade do partido.
Por outro lado, o PS, o principal partido da oposição, enfrenta o desafio de capitalizar o desgaste do partido no poder. Embora o contexto atual seja favorável para a oposição, o PS não tem conseguido ultrapassar sua margem histórica de votos, o que limita a sua capacidade de influenciar a mudança.
Além disso, outros partidos, como o JPP, Chega e CDS, também precisam alinhar suas estratégias de forma clara. A reconfiguração política que a Madeira está a viver exige um posicionamento estratégico desses partidos, a fim de se prepararem para um novo cenário político e para as próximas eleições.
Em tempos de incerteza, é urgente que os partidos deixem de lado os interesses imediatos e pensem no futuro. A Madeira precisa de um novo modelo de governação, mais transparente e focado em soluções concretas. Só assim será possível recuperar a confiança da população e garantir um futuro estável para todos.
Os novos tempos exigirão maturidade política e partidária para que, de uma vez por todas, terminem os períodos de incerteza endógena. Sem essa condição, será impossível enfrentar os sinais de instabilidade decorrentes das crises globais, que terão impacto na economia e na qualidade de vida na Madeira.
Eleições de seis em seis meses não são boas para a Madeira, nem para Portugal. Nenhum pretexto deve justificar que uma região fique para trás.