Inevitavelmente, continuam a perdurar elites económicas, sociais, académicas, políticas, entre outras. Contudo, há um conjunto de pessoas – diplomados do ensino superior – que já não se diferencia pela característica que outrora a definia e emancipava socioeconomicamente: o diploma.

É incontestável que o aumento da população com ensino superior é um sinal muito positivo do avanço civilizacional, e que este comporta intrinsecamente uma oportunidade de desenvolvimento, que se tem efetivado em várias áreas e setores. Por um lado, esta massificação do ensino superior, com popularização da obtenção de um grau de ensino superior, permite combater desigualdades sociais e quebrar barreiras. Por outro lado, encaminha-nos para um cenário de maior concorrência no mundo laboral, com mais pessoas qualificadas para as várias posições a procurar os seus lugares. Atualmente, a mão de obra altamente especializada não é sinónimo de boas remunerações e perspetivas de carreiras estáveis. Estes jovens diplomados enfrentam dificuldades e sentem-se muitas vezes defraudados, pois, muitas vezes, alcançam uma realidade distinta do que lhes havia sido prometido.

Há uma tendência retórica de associar jovens a qualificações. No entanto, uma grande parte da população jovem não segue para o ensino superior e tem de ser igualmente ativa nas comunidades. Temos todos de ter consciência de um detalhe: a felicidade não advém apenas da obtenção de um canudo ou de um posto laboral. O sentido de pertença e de inclusão não deve ser profanado sob lógicas de facilitação, mas também não devemos segregar a sociedade em algo que não existe: uma divisão entre os diplomados e os demais. Uma sociedade onde todos contam é uma sociedade onde as comunidades são geridas, participadas e mantidas por pessoas igualmente conscientes, interessadas e conectadas, independentemente da sua qualificação, ocupação ou nível socioeconómico.

Recentrando nas qualificações, e apesar das dificuldades e problemas que as nossas Instituições de Ensino Superior enfrentam, estas prestam um excelente serviço à nação. O problema da precariedade laboral e da frustração dos diplomados não é, no cerne da questão, causado pelas IES. Posto isto, o que pretendo enfatizar é que a realização pessoal de todos é o maior desafio educacional que temos em mãos. Para uma sociedade inclusiva, de significado para as pessoas, devemos reforçar o peso da cidadania na educação escolar e a formação ao longo de toda a vida deve também ser um pilar do desenvolvimento. Sim, vamos sempre ter elites económicas, sociais, académicas, políticas, profissionais. Contudo, na base da cidadania, devemos ser todos iguais em direitos e deveres à partida. Não estou a defender que se deve objetivar uma licenciatura para todas as pessoas, mas sim em proporcionar um conjunto de oportunidades para que todos possam partir (ou ter em algum momento) igualdade face aos demais.

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