Não é possível analisar a política externa dos Estados Unidos da América (EUA) sem considerar a política externa da União Europeia (UE) – e vice-versa. As duas têm andado interligadas desde a fundação das comunidades europeias, em termos de cooperação política e económica.

Na verdade, a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), que veio a ser transformada na UE, foi criada em 1952 e, logo em 1953, começaram a ser estabelecidas relações diplomáticas entre os EUA e a CECA. Este elo foi-se aprofundando ao longo dos anos, sendo oficializado em 1990 com a assinatura da Declaração Transatlântica e, em 1995, com a criação da Nova Agenda Transatlântica. Esta agenda tinha como principais objetivos a promoção da paz e da estabilidade, da democracia e do desenvolvimento em todo o mundo, assim como a resposta aos desafios globais, a contribuição para a expansão do comércio mundial e para o aprofundamento das relações económicas, e a construção de pontes transatlânticas. Num âmbito geral, podemos verificar que estes pontos foram cumpridos.

Tanto os EUA como a UE têm respondido a diversos desafios ao redor do globo, procurando promover os direitos previstos na Carta dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Na mesma linha, os laços económicos entre os EUA e a UE também se podem considerar um caso de sucesso. Em março de 2024, o PIB das duas potências equivalia a 42% do PIB mundial: 4 mil milhões de euros em bens e serviços atravessam o atlântico diariamente. Em 2022, o comércio de bens e serviços entre as duas potências foi, ainda, de 1,5 triliões de euros.

Tendo em conta a relevância da cooperação tanto política como económica entre a potência americana e a UE, torna-se pertinente analisar as visões que os dois principais candidatos às eleições presidenciais dos EUA apresentam relativamente a estes pontos e o impacto que o resultado pode ter nestas relações. Estas eleições terão lugar a 5 de novembro deste ano e opõem dois principais candidatos: Donald Trump, representante do partido Republicano, e Kamala Harris, do partido Democrata.

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Deste modo, podemos analisar as duas últimas administrações, a republicana de Trump (2017/2021) e a democrata de Biden (2021/2024), e comparar como foram, em cada uma, abordadas as relações económicas com a UE.

A presidência de Donald Trump começou a 20 de janeiro de 2017 e terminou a 20 de janeiro de 2021. O 45º presidente olhou para a troca comercial internacional como um sistema de “Win-Lose”, ou seja, o ganho de um estado é a perda de outro. Este pensamento vai diretamente contra os ideais liberais da UE. Desde o início, Trump adotou uma política comercial intitulada “America First”, que, através da imposição de tarifas, pretendia reduzir o défice comercial americano. A mesma política, em 2018, impôs tarifas pesadas na importação de metal e alumínio. Para além disto, Donald Trump, suspendeu as negociações para um novo acordo comercial transatlântico que poderia vir a melhorar as relações comerciais entre as duas potências.

Já a presidência de Joe Biden iniciou-se a 20 de janeiro de 2021 e ainda não terminou. No entanto, é possível verificar-se uma abordagem completamente diferente no que se refere ao comércio internacional e às relações com a UE. A cimeira UE-EUA, realizada logo em junho de 2021, viu serem retiradas as tarifas que Trump tinha imposto no metal e no alumínio, ficando acordado, adicionalmente, o estabelecimento de um conselho de comércio e tecnologia UE-EUA. Ademais, a invasão da Ucrânia levou a UE a tomar medidas com vista a uma maior independência do gás russo, sendo acordado um aumento na importação de gás líquido natural vindo dos EUA.

A administração de Trump proporcionou uma crise nas relações entre os EUA e a UE, e, apesar de algumas melhorias das mesmas durante a presidência de Joe Biden, não foi recuperado o status quo anterior a 2017.

Para as eleições de 2024, o programa eleitoral apresentado pelos republicanos não faz nenhuma referência direta à União Europeia. Contrariamente, reforça a ideia da política “America First” e um aumento de tarifas a bens considerados essenciais, de forma a “proteger os produtores americanos”. Por outro lado, o programa eleitoral dos democratas assinala a necessidade de melhorar as relações com as instituições europeias. Além disso, promete que prosseguirá com os compromissos de colaboração com a UE, dedicando-se não só a abordar as emergentes questões políticas e económicas, mas também a “criar iniciativas tecnológicas, promovendo inovação e regras comuns”.

Assim, no caso de haver a reeleição dos democratas, é possível esperar uma continuação e melhoria das relações económicas entre os EUA e a UE. Em contrapartida, com uma nova presidência dos republicanos, é expectável um afastamento do multilateralismo e, consequentemente, da União Europeia.