Hoje, os eleitores americanos dirigem-se às urnas para escolher o próximo líder dos Estados Unidos da América (EUA): a vice-presidente Kamala Harris ou o ex-presidente Donald Trump. Ambos têm visões distintas sobre várias questões — como seria de esperar — incluindo a forma como veem o mundo. Se Harris vencer, é provável que siga uma política externa semelhante à de Joe Biden, aberta à cooperação com instituições internacionais para enfrentar desafios estratégicos globais. Por sua vez, Trump deve adotar uma linha mais isolacionista, promovendo uma política económica protecionista.

Independentemente de quem ganhe, é pouco provável que a União Europeia (UE) esteja entre as principais prioridades dos EUA nos próximos anos — pelo menos, não de forma amistosa. Se Trump for eleito, é possível que se inicie uma nova guerra comercial, pois este  já prometeu impor tarifas de até 20% sobre todos os produtos que entram nos EUA. Isso seria uma ameaça adicional para a segurança económica europeia, especialmente considerando as práticas comerciais desleais da China, que recentemente levaram a UE a impor tarifas de até 35% sobre veículos elétricos chineses.

Mas porque é que questões sobre a segurança económica da UE e eleições presidenciais nos EUA, nos deveriam interessar, enquanto “meros” cidadãos portugueses?

Segurança económica é segurança nacional. Essa ideia é defendida tanto pelos EUA quanto pela UE, que em 2023 lançou a “Estratégia de Segurança Económica Europeia”, reafirmando que a segurança económica é uma prioridade. No atual cenário global, onde a ordem económica é volátil, a UE enfrenta o desafio de proteger-se não só de adversários, mas também de riscos vindos de parceiros estratégicos.

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Na economia global interdependente de hoje, o poder económico é um ativo fundamental. Se usarmos a metodologia DIME — que mede o poder de um país através das dimensões Diplomática, Informacional, Militar e Económica — e imaginarmos a UE como um DJ que precisa de sincronizar os seus controlos para criar uma performance equilibrada e impactante; e tal como o master volume da mesa de som precisa de ser ajustado, a força económica precisa de ser maximizada. Esse controlo é fundamental para dar potência a todas as outras dimensões: ao aumentar o volume económico, a UE consegue amplificar a sua presença diplomática, fortalecer a sua capacidade informacional e sustentar o seu poder militar. A economia, assim, torna-se o alicerce sobre o qual as outras dimensões se apoiam, garantindo que a UE possa projetar o seu poder de forma mais eficaz no cenário global. E a boa notícia é que existe um plano para isso: o Relatório Draghi.

O Relatório Draghi analisa as razões pelas quais o crescimento da UE abrandou nos últimos anos e apresenta recomendações para impulsioná-lo. Esse impulso é essencial para a autonomia estratégica necessária ao sucesso das transições ecológica e digital, além de fortalecer a prosperidade económica. Implementar essas recomendações será um desafio, exigindo compromisso e flexibilidade dos Estados-Membros da UE.

Enquanto os americanos votam, o mundo observa, atento ao rumo de uma das maiores economias e potências globais. Independentemente do resultado, está claro que a Europa precisa de se preparar para uma relação complexa com os EUA, com prioridades e dinâmicas económicas em constante mudança. O caminho da UE passa tanto pela resposta a ameaças externas quanto pelo fortalecimento da sua própria autonomia económica. O Relatório Draghi oferece um plano claro para isso, promovendo crescimento, inovação e resiliência para ajudar a Europa a manter a sua relevância global e garantir o seu futuro. Em tempos em que a força económica está intrinsecamente ligada à segurança nacional, a autonomia estratégica da UE é essencial — não apenas para a sua competitividade, mas para a sua sobrevivência e posicionamento estratégico no jogo geopolítico.

O Observador associa-se ao Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa.  O artigo representa a opinião pessoal do autor, enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa.