As Forças Armadas Portuguesas e, muito em especial o Exército, persistem num estado calamitoso de falta de efetivos e de ausência de modernização de equipamentos. O problema não é novo, agravou-se na última década e, com a guerra da Ucrânia as debilidades e limitações revelaram-se graves e assaz preocupantes. Nem mesmo a ideia que é impossível “fazer omoletes sem ovos” resiste a esta política socialista que, diariamente, procura encontrar soluções vegan para adiar o inevitável: a impossibilidade de garantir a defesa interna e os compromissos NATO, escondendo a realidade e o miserabilismo operacional que comandos e unidades militares atingiram.
Tudo o que recentemente tem vindo a público, ou são notícias do estado da arte instalado no Ministério da Defesa Nacional, com casos de corrupção, imobilismo e ausência do cumprimento da Lei de Programação Militar, ou são soluções sem consenso, como recrutar estrangeiros e reduzir a exigência dos padrões de selecção numa vã e saloia expectativa de adiar os problemas. É um País ao avesso governado por um executivo ao Deus dará!
Exemplo prático desta afirmação acontece no plano da política externa com o Comandante Supremo das Forças Armadas e a Ministra da Defesa a criarem falsas expectativas num País em guerra, como é a Ucrânia, prometendo apoio na formação e treino na área da desminagem do Mar Morto, quando há mais de 50 anos que não se investe um cêntimo em meios navais adaptados a esta finalidade ou quando, no âmbito da política interna, assistimos a equipas de paraquedistas a realizarem operações de combate a incêndios como elementos de primeira linha da protecção civil. Se os ucranianos requisitarem este apoio naval, o que vamos responder de seguida? Que a capacidade da Marinha de Guerra está agora limitada a “equipas de mergulhadores portugueses, com valências no domínio das contramedidas de minas…” preparadas para ensinar aos defensores ucranianos a técnica da apneia? E, se por inesperada circunstância, neste agitado e controverso mundo em que vivemos, precisarmos de um Batalhão Aerotransportado pronto a entrar em missão em 24h? Requisitamos os ex-paraquedistas que possam existir no Corpo Nacional de Bombeiros?
Tancos deveria ser uma lição estudada para o poder político e não o foi. O paiol teve em tempos um pelotão de guarnição em permanência e ativo patrulhamento, depois passou a ter uma secção em rotação, de seguida meios de videovigilância e patrulhamentos regulares terminando com patrulhamentos esporádicos e falta de manutenção da proteção exterior e meios instalados… um dia aconteceu o pagode a que todos assistimos! Hoje, uma inspeção séria a unidades e estabelecimentos militares nem sequer é aconselhada. O risco de os relatórios dos adidos militares das embaixadas dos países aliados e sobretudo de os “inimigos” encontrarem confirmação nessa auditoria é muito elevado. Isto não deveria preocupar os governantes? Isto não lhe tira o sono, caro leitor?
É urgente passar esta ministra à disponibilidade e colocar no seu lugar quem limpe e arrume a casa, leia-se Ministério da Defesa, e coloque em prática imediatas medidas tendentes a inverter o mau estado geral das Forças Armadas.
Primeiro ponto prévio: nada se altera sem um maior investimento financeiro e a promessa feita por António Costa de utilizar 2% do PIB na Defesa não se pode ficar pela mera retórica. A baixa retenção e a menor procura por parte dos jovens tem a maior explicação nos baixos salários auferidos por quem está disposto a sacrificar a vida pela Pátria. A reduzida operacionalidade e a obsolescência tecnológica das Forças Armadas têm explicação na ausência de verbas para modernizar, manter e reequipar as tropas a par do desinvestimento na indústria de defesa nacional.
Como dar resposta a estes problemas? Comecemos pela falta de efetivos e aqui, deixem que relembre, o que a Ucrânia vive neste momento, onde por cada soldado empenhado em combate é necessário dispor de um outro pronto para o substituir e mais uma dezena deles para manter e alimentar o combate, o que significa que não podemos olhar para as Forças Armadas à luz de um simples número. As Forças Armadas cumprem missões que os políticos definem e são sistemas de armas complexos, treinados e preparados em permanência para lhe dar resposta e sendo certo que cada geração tem as suas próprias motivações e prioridades, importa adaptar o modelo para atender às aspirações e valores dos jovens, incentivando a adesão às Forças Armadas.
Marketing promocional sobre as diferentes especialidades, oportunidades de formação, benefícios e perspetivas de carreira são importantes, mas nesta geração, aquando das palestras em escolas, nas feiras, no Dia da Defesa Nacional ou outros eventos, a música que os encanta, junto com o gosto de aventura ou o prazer de experiências únicas, é a certeza de uma garantia financeira que lhes permita olhar o futuro com os mesmos olhos dos demais profissionais em outros exércitos NATO. O resto, como as valências adquiridas nas Forças Armadas, a liderança, trabalho em equipa, gestão de crises ou a disciplina a serem aplicados numa variedade de carreiras civis, as oportunidades de progressão de carreira, a especialização em áreas técnicas ou administrativas, a utilização de tecnologia inovadora, os benefícios tangíveis em assistência médica, educação, alojamento ou mesmo as tão propagandeadas políticas de diversidade e inclusão, importantes na medida em que jovens de diferentes origens e identidades são bem-vindos e têm oportunidades iguais, só servem para reforço desse sentimento de pertença a uma instituição que existe para servir o País em todas as circunstâncias, mesmo aquelas em que o risco de vida faz parte da missão. Sendo bem verdadeira a norma de que “o recrutamento mais caro é aquele feito para repor ou substituir alguém que poderia ter ficado” por que não atribuir um complemento salarial extraordinário aquando da renovação de contrato à semelhança do que outros exércitos fazem? O governo que publicou esta semana o Dec. Lei 77/2023 de 04 de Setembro que cria os quadros permanentes na categoria de praças no Exército e na Força Aérea, acreditará que sem um quadro remuneratório em consonância, a adesão de voluntários vai resolver as lacunas existentes?
Os jovens, hoje, conhecem as histórias de sucesso de outros que tiveram carreiras bem-sucedidas nas Forças Armadas ou a noção de que as Forças Armadas estão sempre prontas para dar resposta em operações de ajuda humanitária, desastres naturais ou momentos de serviço à comunidade e assumem o impacto positivo que isso pode ter ao ingressar nas fileiras, mas sem dinheiro no bolso para ter o último gadget, comprar o primeiro carro ou aceitar o desafio de ter uma família não vão para as Forças Armadas ou quando vão abandonam desiludidos dos seus sonhos. Um País com jovens de sonhos desfeitos não tem futuro! As Forças Armadas, se não forem capazes de alimentar os seus desideratos e vontades de construir um País melhor, não são Forças Armadas, são um logro que este governo teima em manter por falta de vontade política de apostar nos jovens e na sua maior força, a de lutar pela Liberdade e Soberania. Perguntem aos jovens ucranianos quanto isto custa e quanto isto vale!
Quanto aos meios, é igualmente urgente que o governo aposte em Forças Armadas Portuguesas mais eficientes e eficazes investindo em tecnologias avançadas, sistemas de comunicação modernos, equipamentos de última geração e sistemas de informação integrados, para melhorar o (Comando, Controlo, Comunicações e Informações) C3I das operações militares e a coordenação entre as diferentes forças e exércitos NATO. O treino tem de ser permanente e de alta qualidade para as tropas, atualizando as suas competências e conhecimentos em áreas como táticas de combate, operações de emergência e uso de novas tecnologias. As redundâncias nos sistemas militares, a burocracia desnecessária e a optimização no emprego dos recursos humanos não pode ficar-se apenas pelos estudos do MDN pagos aos boys do partido para serem colocados nas gavetas e catacumbas da Infante Santo, têm de ser uma constante de adaptabilidade nas paradas das unidades militares.
A necessária e regular cooperação e coordenação entre os diferentes ramos das Forças Armadas (Exército, Marinha, Força Aérea), partilhando recursos e conhecimentos para maximizar a eficiência a par de uma rigorosa gestão financeira, são garantia do uso eficiente dos recursos disponíveis, priorizando investimentos estratégicos e reduzindo gastos desnecessários. No demais, avaliação de desempenho individual e coletivo, em inovação e pesquisa, em gestão de pessoal, em planeamento estratégico ou mesmo em sustentabilidade ambiental são áreas onde as forças armadas já dispõem de know-how e de especialistas capazes de acompanharem e adaptarem os recursos humanos e materiais aos tempos disruptivos que diariamente entram pela televisão e internet nas nossas vidas. Novo ponto prévio, nada disto se faz sem dinheiro! O governo de António Costa sabe disso há 7 anos! Ou, se não sabe e porque já não estranha, porque não pergunta à NATO ou à UE?
Para quem já teve a oportunidade de realizar missões NATO ou ONU, ombro a ombro com outras Forças Armadas de várias nações, sabe que os nossos soldados não são melhores nem piores que os demais, são únicos e diferentes! Cumprem bem, cumprem sempre e cumprem com sentido de missão e nobreza na bandeira que transportam. Por que razão depois elegemos políticos que desprezam e envergonham as Forças Armadas? Está aí a resposta ao estado calamitoso e ao caminho sem rumo em que se encontram as Forças Armadas Portuguesas.
Viseu, 04Set2023