Ao longo dos anos, temos sido bombardeados com artigos e considerações várias sobre  “escassez de talento”. Há quem diga que o talento está em vias de extinção, como se  fosse uma espécie rara que só se encontra em documentários. A narrativa da “escassez  de talento” tem sido o mantra de muitas empresas nos últimos anos. Mas será que o  talento evaporou misteriosamente, numa das gerações mais qualificadas de sempre? Ou  estamos simplesmente a cometer erros básicos no recrutamento?

Anúncios de Emprego Surreais

Poderíamos começar a pontuar a favor do Mau Recrutamento os anúncios de emprego que parecem listas de exigências para super-heróis. Procuram-se candidatos com “15  anos de experiência”, “domínio de tecnologias emergentes” e “disponibilidade total”, tudo isto para uma posição júnior!!! Se pedimos o impossível, não é de admirar que os  candidatos possíveis não apareçam, ou pareçam sempre desajustados!

O Efeito “Copy-Paste” nas Descrições de Funções 

As descrições de funções muitas vezes parecem ter sido copiadas de um manual  genérico dos anos 90 (alguns descritivos de funções não devem ter sido atualizados  desde essa época também!). Listam-se requisitos intermináveis, muitas vezes  irrelevantes para a função em questão, com total desenquadramento dos objetivos  estratégicos. Isto afasta candidatos qualificados, as Estrelas, que não se revêm nesse  amontoado de exigências. Além disso, ao não especificar claramente as competências  essenciais, dificulta-se a identificação de talentos adequados para quem faz  recrutamento. Quando não sabemos quem procuramos, qualquer “talento” parece errado  ou mau.

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O Labirinto do Processo Seletivo 

Os processos de seleção tornaram-se verdadeiras odisseias. Testes online, entrevistas  intermináveis e repetitivas com diferentes intervenientes, amplamente focadas em  perguntas do foro pessoal, dinâmicas de grupo, e, quem sabe, uma pequena prova de  sobrevivência na selva!!! Talvez, o objetivo seja selecionar não o mais qualificado, mas  o mais resiliente. Afinal, quem sobreviver a este processo está pronto para qualquer  desafio.

Entrevistas de Competências: Uma Arte Esquecida

Muitos recrutadores não dominam a arte das entrevistas por competências. (talvez uma  boa parte desconheça do que se trata até!) Em vez de explorarem as habilidades reais  dos candidatos, limitam-se a questões genéricas como “Qual é a sua maior fraqueza?”  ou “Onde se vê daqui a cinco anos?”, “fale-me sobre si!”. Perguntas que, convenhamos,  já deveriam ter sido aposentadas. A falta de preparação e conhecimento sobre como  avaliar competências específicas resulta na seleção de candidatos que podem não ser os  mais adequados para a função.

Exemplo: imagine um recrutador a entrevistar um programador sem ter noção das  linguagens de programação necessárias para a função. O resultado? Uma avaliação  superficial baseada em impressões vagas, em vez de uma análise sólida das  competências técnicas do candidato.

A Falta de Diversidade nos Recrutamentos 

A diversidade é um fator crucial para o sucesso das organizações modernas. No entanto,  muitos processos de recrutamento continuam presos a estereótipos e preconceitos  inconscientes. Preferem-se candidatos que “encaixam” no perfil tradicional da empresa,  ignorando talentos que poderiam trazer perspectivas valiosas e inovadoras.

A Diversidade fomenta a Inovação, devia ser um mantra a não esquecer pelos  recrutadores.

A Tecnologia Mal Utilizada 

Os sistemas automatizados de recrutamento vieram para facilitar, dizem eles… No  entanto, muitos candidatos são eliminados por algoritmos que não reconhecem  sinónimos ou formatos de currículo ligeiramente diferentes. Assim, o candidato com  experiência internacional e competências incríveis é descartado porque não usou a  palavra-chave exata. Brilhante, não é?

A Importância da Empatia e da Comunicação 

Outro factor que não promove o sucesso nos processos: recrutadores que não  estabelecem uma comunicação empática com os candidatos e perdem a oportunidade de  conhecer verdadeiramente as suas motivações e competências. Uma entrevista deve ser  uma conversa bidirecional, não um interrogatório. A falta de feedback após as  entrevistas também demonstra desrespeito pelo tempo e esforço dos candidatos,  manchando a reputação da empresa no mercado de trabalho. A jornada do Candidato é  uma conceito desconhecido por alguns profissionais do sector!

O Desafio de Atrair e Reter Talento 

Se as empresas querem realmente atrair e reter talento, precisam de rever as suas  estratégias. Isto inclui formar os recrutadores em técnicas de entrevista por  competências, promover a diversidade e inclusão, e humanizar o processo de  recrutamento. Afinal, o talento existe; é preciso saber como atraí-lo.

Talvez esteja na hora de repensar as estratégias de recrutamento. Em vez de culparmos a  falta de talento, deveríamos reavaliar se os nossos processos estarão errados. Abrir a mente para perfis  diferentes, simplificar os processos e, quem sabe, responder aos candidatos (sim, isso  inclui os não selecionados) pode fazer milagres. Porque, no final do dia, o talento não  está escasso; talvez esteja apenas a evitar empresas com maus hábitos de recrutamento.  E quem os pode culpar?