Anuncia o Estado, e bem, a intenção de “reabrir” a economia, de forma pausada, empenhado, em “resultados”, em “previsões”, em “estatísticas”. A economia, não pode, de facto, parar.

Poderão não poucas pessoas, perguntar-se: que “economia”? Alguns católicos, como eu, poderão, mais directamente, perguntar: onde entra a “Economia da Alma”? Não deverá o Estado considerá-la, num Mundo de pessoas, que mal ou bem, crêm ser mais do que um simples número? Onde entra, esse tal “espírito”? O mesmo para as outras confuissões religiosas.

Quem “nos governa”, um pouco por todo o Mundo dito “civilizado”, prioriza um terrível e absurdo materialismo: os resultados das empresas, os dividendos pagos aos accionistas, a balança de pagamentos, o PIB, os prémios de função aos gestores, as greves, as taxas de desemprego, a luta por um salário justo, e também, os “terríveis Impostos”. Esta visão, para os mais distraídos, poderá ser considerada completa. Será, porém, esse “todo”, em si “correcto”, “tudo”, ou haverá outras variáveis a ter em conta, já que pensamos no Homem, de forma contrária à da “cultura dominante”, que nos habituou a um misto de capitalismo selvagem, e de marxismo/liberalismo?

Ignorando, alguns, a nossa componente espiritual, muitos outros pretenderão,  nem que seja por razões de herança cultural, não ser confinados a essa “cega economia dos negócios, ou dos interesses”.  Muitos perguntarão, porém qual será, afinal, o seu papel na Sociedade. Simplesmente “produzir”, e pagar Impostos? Onde entra a Família? Será que é protegida? O acesso à saúde, e segurança social, funciona? E quanto à educação? E à Justiça? E quanto à defesa? E à cultura? E aos costumes? E à eterna crise?

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Será que alguém, “ao mais alto nível”,  se preocupa com o que se passa, há quase dois meses, com o espírito dos portugueses, tantas vezes abandonados, e que deixaram, salvo honrosas excepções, de ter qualquer tipo de apoio material e espiritual, estando, em muitos casos, sujeitos a uma triste incerteza sobre o futuro? O que são, afinal “as pessoas”, para os “dirigentes”? Eleitores, e pagadores de impostos, apenas?

É claramente secundarizada, por muitos dirigentes das Nações,  a vertente espiritual do ser humano, principalmente se mais ou menos marxistas, ou liberais, possuindo assim um conceito mais materialista, ou mais “economicista”, da Sociedade. Mas o que compõe, realmente, a Sociedade? Apenas as Instituições? Os “indicadores”? Somente os políticos? Ou será que a sociedade se compõe de pessoas que pensam, que sentem, que sofrem?

Recordo, com saudade, aquilo que o Administrador da minha primeira empresa, perguntava a qualquer pessoa que de novo entrava: “estás a divertir-te?”.  Não era fácil responder, em primeiro dia de trabalho; porém, essa “provocação” ao novo colaborador, rapidamente era, por ele mesmo dissipada: “se estiveres feliz, se te agradar o que fazes, se te sentires integrado na nossa cultura, será melhor para todos nós!”

Passados tantos anos da Criação, o que é, hoje, o Homem? Apenas alguém que, se tecnicamente competente, poderá contribuir para uma boa rentabilidade da Economia? Apenas isso? E quanto à salutar ambição pela ascensão profissional? Não deveria ela contemplar também o potencial ético e humano dos funcionários? Por outras palavras: serão os países, o mundo, constituídos por “entidades”, sem consciência, espírito, ou sentimento? Ou, serão um conjunto de “seres” que devem ser implicados no “bem comum”, não apenas na sua condição de eficácia, mas também na sua vertente ética, espiritual, moral? Deverão, ou não, imperar outros Valores, que não apenas os da “habilidade”, (positiva, o negativa), para o progresso da Sociedade? Sou dos que acreditam que sim. O Ser Humano tem direito legal, a ser considerado muito mais do que um simples “produtor”.

Quantos se preocupam em saber como vai, para além das estatísticas diárias sobre a Covid, a vida espiritual dos portugueses? Este é a meu ver, o “pecado” capital do sistema. Por um lado, o Estado, algumas vezes sente ser “útil”, um qualquer “subsidio”. Do “outro lado”, como dizia um conhecido Sacerdote, temos os “tios” e “tias”, que não saindo muito da sua zona de conforto, apreciam fazer a sua “caridadezinha”, o seu “apostoladozinho”. Esses, vivem normalmente bem com qualquer Sistema. Farão algum bem, sem dúvida, mas será suficiente? Por outro lado, muitos anónimos, isolados, incansavelmente apoiam os mais desfavorecidos. É a moderna “solidariedade do silêncio”. Poucos ou ninguém deles fala. E “as pessoas”? Bem sei que terão já, nesta “avançada sociedade”,  televisão em casa, e dezenas de canais; verão, certamente, as notícias, estarão assim (“bem”, ou  “mal”), menos isolados; informados.  Só que não os deixam ir à Missa, como habitualmente, enquanto que, confinados em casa, pela televisão, não deixam de ver o Senhor Patriarca, uma referência para os Católicos, em amena convivência, que configura aparente cumplicidade, num qualquer festejo político; vêm manifestantes, na longínqua cidade de Lisboa, deslocados em camionetas, “celebrar” o “dia do trabalhador”; “Há sempre, excepções; poderão aceder a uma “Tele-Missa”, pela TV ou pelo computador, rezar o Terço, mas foram afastados, de facto, pelo Estado, da forma mais incrível, do Cerne da Vida Católica. O que é afinal, de facto,  “Economia”, para muitos daqueles, na Hierarquia da Igreja,  a quem se exige o zelo pela saúde da Alma dos Fiéis?

A partir de segunda-feira, abrirão, e bem, muitos locais que estavam encerrados. Pergunto eu: e o Culto nas  Igrejas, obviamente que em segurança? Quem, da Hierarquia, interferiu, a tempo, junto do Estado, para que pudéssemos, nestes momentos de desalento espiritual, ter funerais religiosos, acompanhados, obviamente, dentro das regras de segurança sanitária? No dia 13 de Maio, que se aproxima, quem, da Hierarquia, exige, digo bem, exige, ao Estado, que quem quiser, possa ir a Fátima, no mínimo, com as mesmas condições de segurança dos “privilegiados” dos passados dias 25, e 1?

Qual será então o “motor” fundamental? O do dinheiro, ou o do Espírito? Tenho, para mim, que não funciona um, sem o outro. Sei que não sou apenas eu, quem sente extrema revolta, perante uma triste como que subserviência da Hierarquia Católica, face ao Estado, não defendendo, como lhe compete, os interesses legítimos dos Fiéis. Não ignoro o princípio da separação entre a Igreja, e o Estado. Mas alguém tem que defender, a completa “higiene da Alma”!

Há de facto, cada vez mais, que fazer como Cristo: amar a todos por igual, mas, com uma vigorosa firmeza espiritual. Essa é a questão. Uma Missa, talvez seja mais necessária para muita gente, do que qualquer evento que movimente dinheiro e/ou interesses de grupo. Principalmente nestes momentos amargos, em que os portugueses estão confinados em casa, muitas vezes em sofrimento, e com uma enorme incerteza quanto ao seu futuro, e o das suas famílias!

Convenhamos que, por muito que alguns o critiquem, o Chefe da Igreja Católica, toca, neste caso, na ferida, nem que seja pela expressão usada: “esta economia, mata”! Deus permita que apenas fira, já que a Igreja, essa, já provou ser imortal!