Na fábula de Pedro e o Lobo, o jovem mente sobre a presença do lobo até que ninguém mais acredita nele, mesmo quando o perigo é real. Assim como Pedro, parte da sociedade hoje usa conceitos sérios como racismo, sexismo, xenofobia, discriminação, violência doméstica, homofobia e feminismo como armas de retórica vazia. Repetem essas acusações como se fossem verdades absolutas, ecoando a frase “uma mentira dita muitas vezes torna-se verdade”, cunhada por um mestre da propaganda que sabia bem o poder destrutivo da manipulação. Esse mesmo mestre teria encontrado nas redes sociais e media o cenário ideal para a sua estratégia de manipulação.

Numa era onde o ódio se espalha com velocidade atroz, e onde indivíduos se tornam autómatos, repetindo palavras sem questionar a veracidade, disseminam desinformação e manipulam massas, como ferramenta perfeita para isolar e dividir, transformando sentimentos em armas e contextos em meros joguetes semânticos. A crença de que “se eu sinto, eu falo”, sem responsabilidade ou reflexão, seria música para os ouvidos de alguém que saiba exatamente como transformar emoções em propaganda.

Ao ver a justiça ser substituída por julgamentos sumários, sem direito à defesa, e a verdade ser distorcida para atender a interesses egoístas, reconheço com clareza: esses mestres do sentimento influenciado, que destilam ódio e condenam sem provas, espelham exatamente as táticas outrora valorizadas e que durante anos tentámos combater.

Será que é assim que se querem igualar? Nisto espelham as vossas palavras e atitudes? Transformam causas nobres como o combate à discriminação racial, de género, de idade, o sexismo, o feminismo, os estereótipos em ferramentas de censura e cancelamento, anulando o discernimento e o pensamento crítico. Como zombies, reagem em grupo, fulminados por uma onda de ódio dirigido, usando os conceitos em vão.

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Em suma, a instrumentalização de conceitos como racismo, feminismo, homofobia, entre outros, para fins de censura, cancelamento ou ganho pessoal, não apenas desvaloriza a luta real dessas causas, como também prejudica a sociedade como um todo. É necessário um esforço coletivo para resgatar a seriedade desses debates e garantir que as vozes das verdadeiras vítimas sejam ouvidas e respeitadas, ao mesmo tempo em que se preserva o direito ao diálogo aberto e fundamentado, sem “assassinatos de caráter” em redes ou televisão nacional.

A linha entre liberdade de expressão e crime, ainda, é um campo complexo e muitas vezes mal interpretado, especialmente nas redes sociais, onde a informação se dissemina rapidamente e a responsabilidade é diluída, permitindo a quem “diz o que sente” uma impunidade exatamente igual aos que eles tanto criticam.

A censura foi vencida graças à luta de tantos. Não a ressuscitem sob uma capa de pretenso altruísmo com tiques de superioridade moral e demagogia. Desvirtualizam ações de “acordar” a sociedade para questões sérias com leviandade no uso dos termos.

Eu, feminista, me confesso com vergonha alheia: isto não é ativismo, é uma nova forma de manipulação, que sufoca o pensamento crítico e a objetividade. Conhecimento é poder!

Aos “Pedros” rogo: Informem-se (mais?) e responsabilizem-se pelo que dizem, sem querer, constantemente culpabilizar o Outro e nele colocar o ónus por tamanha falta de noção e deturpação de bandeiras (vãs) que representam.