O Campeonato Europeu de futebol já começou! As equipas prepararam-se nas últimas semanas de forma a otimizar o seu desempenho e chegar à final. Mas, na realidade, é o culminar de anos de trabalho, de preparação meticulosa, para que tudo corra bem durante o torneio.

A preparação para uma grande competição começa sempre com uma avaliação médica, cumprindo não só requisitos legais, mas também no sentido de avaliar a aptidão do atleta para o exercício e identificar alguma situação que possa estar a prejudicar a performance. No contexto da pandemia Covid-19, esta avaliação é ainda mais importante em atletas que recuperaram de doença moderada a grave.

Esta avaliação consiste num questionário de antecedentes de saúde do atleta e da família, exames de cardiologia (como eletrocardiograma, ecocardiograma ou outros que possam ser identificados como necessários) e análises sanguíneas, devendo ser feita por um médico com especialização em Medicina Desportiva.

Para obter uma boa performance, é inevitável falar do treino. O treino bem planeado e orientado é fundamental para a melhoria individual do desempenho e, nos desportos coletivos, também do desempenho da equipa. Mas, não menos importante, é o repouso e também as técnicas de recuperação. Em competições com calendários “congestionados”, isto é, com jogos com poucos dias de intervalo, é fundamental usar técnicas de recuperação. Isto permite não só melhorar o rendimento do atleta no treino/jogo seguinte, como também pode ser importante na prevenção de lesões. Podem ser usadas técnicas como a crioterapia (imersão em água fria), massagem, alongamentos, uso de roupa compressiva, entre outros.

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São também muito importantes para a recuperação, uma hidratação e alimentação adequadas. Para cada momento, antes, durante e após o treino/jogo, existem estratégias bem definidas para potenciar o rendimento e a recuperação. Antes do esforço é fundamental haver uma ingestão de hidratos de carbono (presentes na massa, arroz, pão, etc), que são o principal combustível do nosso corpo. Não se deve comer muito “em cima da hora” e devem evitar-se refeições abundantes e ricas em gorduras e fibras, pois pode causar desconforto abdominal durante o exercício.

A ingestão de água ou bebidas isotónicas (com hidratos de carbono e eletrólitos como o sódio e o cloro) também é importante, em particular em condições meteorológicas que os nossos atletas vão encontrar este verão no Campeonato Europeu ou nos Jogos Olímpicos em Tóquio. As temperaturas altas e humidade elevada criam um desafio adicional, pois dificultam a regulação da temperatura durante o esforço e aumentam a perda de água e eletrólitos no suor. Isto pode levar a um “sobreaquecimento” do atleta e à desidratação e terá impacto na sua performance e saúde. Assim, a hidratação deve ser feita antes, durante e após o esforço. Dependendo da duração do exercício pode também ser necessário a ingestão de hidratos de carbono durante o esforço, sobretudo em atividades que duram mais de uma hora. Um simples bochechar de uma bebida rica em hidratos de carbono (“mouth rinse”) pode também ajudar. A ingestão de hidratos de carbono pode ser feita através de bebidas, géis, barras, etc. O atleta deve sempre experimentar previamente este tipo de produtos em treino, para ver como se sente e se não lhe causa dor abdominal ou diarreia. Nunca se deve experimentar no dia de jogo/prova um alimento ou produto novo ao qual não se está habituado.

A nutrição e hidratação no pós-esforço (idealmente durante a primeira hora) já é feita a pensar na recuperação do atleta para um próximo estímulo (treino ou competição) e pode ser descrita com os “3 Rs”: reabastecer (com a ingestão de hidratos de carbono), reidratar (com a ingestão de água e eletrólitos) e reparar os tecidos (com ingestão de proteínas). Estas “regras” aplicam-se quer a atletas de nível recreativo, quer de alto rendimento.

O acompanhamento por um nutricionista com especialização em Nutrição no Desporto pode ajudar com todas estas questões e individualizar a dieta para as necessidades de cada atleta.

Para um bom rendimento é necessário dormir na quantidade certa e com qualidade. Um adulto deve dormir um mínimo de 7-9 horas e ter uma eficiência de sono de 85%, isto é, estar a dormir pelo menos 85% do tempo em que está deitado. Dormir menos de 7 horas está associado a um maior risco de lesão em atletas. Os jogos/treinos em horário tardio, viagens longas e diferenças de fuso horário superiores a três horas (“jet lag”) podem perturbar o sono do atleta. Existem algumas estratégias para melhorar a qualidade do sono, tais como: ter um horário regular para acordar e deitar; evitar o consumo de bebidas com cafeína ou álcool nas horas anteriores; evitar usar equipamentos eletrónicos (como telemóveis, “tablet” ou ver TV) antes de deitar e realizar técnicas de relaxamento para adormecer mais facilmente.

Por vezes, apesar de estarem instituídos programas para prevenção de lesões, estas podem ocorrer e ter implicação no rendimento e na disponibilidade para treinar/jogar. Um correto diagnóstico é fundamental para se delinear o tratamento e fazer uma previsão do tempo de recuperação. Perante uma nova queixa deverá existir uma avaliação médica e poderão ser pedidos exames complementares, como uma radiografia, ecografia ou ressonância magnética. O plano de reabilitação pode incluir fisioterapia, medicação, o uso de produtos de apoio (como “palmilhas”), entre outras modalidades terapêuticas.

Para melhorar o rendimento de uma equipa ou atleta, o papel do treinador é fundamental. Mas também existe outra “equipa por detrás da equipa”, que trata não só da saúde, mas também da performance: a equipa de Medicina Desportiva. Este grupo multidisciplinar pode ser constituído por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, podologistas, fisiologistas do exercício, etc.

Esta equipa pode ajudar qualquer atleta, seja de alto rendimento ou nível recreativo, mais jovem ou mais sénior, pois todos têm o mesmo objetivo. Querem melhorar o seu desempenho desportivo e otimizar a sua saúde. Querem ser mais rápidos, chegar mais alto e ser mais fortes!