Fahrenheit 451 de Ray Bradbury publicado em 1953 é uma novela distópica, um marco no género da ficção científica. Um marco porque abandona o estado onírico em que o género até então se baseava e passa para uma análise crítica da sociedade do seu tempo. Escrito no período pós Segunda Guerra Mundial, em plena guerra fria, não deixa de descrever o pânico do seu tempo com a possibilidade de uma nova guerra. Uma guerra nuclear.
Farenheit 451 é uma história de difícil localização no tempo, mas poderemos remetê-la algures entre 2300 e 2400, para uma altura em que o protagonista Guy Montag refere já terem vencido duas guerras atómicas que se iniciaram em 2022, não deixando de ser curioso que o autor situe a primeira dessas guerras para 2022, ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia. Numa primeira abordagem, a obra de Ray Bradbury poderia parecer uma tentativa de relato de um mundo dominado pela ditadura soviética, ou a perseguição nos EUA a tudo o que “cheirasse” a comunismo – a “Caça às Bruxas” de Joe McCarthy. Porém, nada na obra nos indica que haja uma ideologia para confrontar, ou uma divisão na sociedade como acontece em 1984 de George Orwel , ou Nós de Yevgney Zamyatin. Enquanto nestes últimos a sociedade distópica é uma sociedade totalitária, marcial, fortemente controladora dos cidadãos e das suas mentes, no livro de Ray Bradbury a sociedade é distópica porque é centrada no prazer. É uma sociedade hedonista, em que o controlo do politicamente correto é feito num estado de embriaguez por produtos televisivos, uma sociedade que começou a despontar nos anos cinquenta e que que atingiu o clímax nos nossos dias com as redes sociais, “reality shows”, concursos, e como veremos mais adiante, com a cultura Woke.
Quando no texto, o comandante chefe dos bombeiros, o capitão Beatty explica ao protagonista por que motivo os livros devem ser queimados e porque foram os bombeiros chamados, numa era em que não havia incêndios, a desempenhar a “nobre” tarefa de queimar os livros. Para o capitão Beatty, os livros não agradam a todos, e por isso, para que a sociedade se pacifique deve-se acabar com os focos de desconforto – gente da raça negra não gosta do livro Little Black Sambo então queime-se; gente branca não gosta A cabana do pai Tomaz, então queime-se. Nos dias de hoje, esta postura é repetidamente propalada no discurso higienizado do politicamente correto, no discurso de género, no revisionismo da história, no extremado discurso anti sexista, nas acusações de homofobia, na luta “anti-branquitude”. É, bem vistas as coisas, o que ouvimos no discurso da cultura Woke.
Quem são os Woke
A Lei de Pareto, também conhecida como o “Princípio 80/20”, é um conceito que sugere que muitas vezes a maioria dos efeitos resultam de um número bem menor de causas. O nome “Lei de Pareto” deriva do economista italiano Vilfredo Pareto, que originalmente observou uma distribuição desigual de riqueza com 20% da população a controlar 80% desta. Este princípio foi posteriormente aplicado noutros contextos com pequenas oscilações. Na sociologia e nos movimentos sociais este princípio pode também ser observado, resultando dele que uma pequena percentagem da população possa ter um efeito na sociedade muito superior ao que a sua representação faria supor. No ocidente, os activistas Woke, ainda que em número reduzido têm a capacidade de condicionar a sociedade sem que esta tenha a mesma lucidez que a manifestada pela criança na história de Hans Christian Andersen.
O termo Woke surgiu na cultura afro-americana em inícios do século XX e teve em finais do século um “up-grade” que resultou na actual situação. Envolto em meias verdades, cristalizadas num delírio onírico, empolando a vitimização, extrapolando a vitimização efetiva de uns poucos, a par da culpabilização dos que nunca agrediram, só e apenas porque nunca foram vítimas, esta narrativa delirante, porque assente em verdades muito, muito parciais e defendida por uma elite iluminada com zelo e devoção religiosa, fica completamente impermeável à razão, optando pela negação sempre que algum dos seus dogmas é posto em causa. Argumentar com um Woke é a melhor definição de solipsismo que alguma vez poderemos encontrar.
De onde vêm estas pessoas, quem são e o que defendem? Na obra A Religião Woke de Jean-François Braunstein, na A Insanidade das Massas e Guerra ao Ocidente de Douglas Murray, ou na Mancha Humana de Philip Roth encontramos muitas respostas a estas questões.
Sabe-se que os movimentos antirracistas da actualidade tiveram a sua origem no esclavagismo dos EUA, uma forma de organização social que se manteve desde a proclamação da independência em 04/07/1776 até à ratificação da 13.ª emenda da Constituição em 1865, altura em que a escravatura foi abolida. Uma emenda constitucional que resultou da necessidade de mão de obra de uma indústria dos estados do norte em franco crescimento e cujos interesses colidiam com os “direitos” dos “donos” dessa mão de obra. A aprovação da 13.ª emenda embora historicamente marque a abolição do regime esclavagista nos EUA, a segregação racial continuou primeiro pelas leis de Jim Crow, abolidas após os movimentos de direitos cívicos nas décadas de 50 e 60, para depois continuarem inculcada no superego coletivo de uns, enquanto detentores de direito à agressão e outros, enquanto vítimas ou testemunhas. A questão racial nos EUA nunca foi devidamente resolvida e os movimentos surgidos em finais do século XX inícios do seguinte, são paradigma disso. O movimento #BlackLivesMatter, fundado por três afro-americanas Patrisse Cullors, Alicia Garza e Opal Tometi em 2013, surgiu em reação ao assassinato de Trayvon Martin e à absolvição do seu putativo perpetrador. Era na origem um movimento inspirado na figura de Malcom X e nas lutas pelos direitos civis. O seu objectivo era o da denúncia da brutalidade policial, da discriminação racial e a da desigualdade socioeconómica. Em 25 de Maio de 2020 o assassinato de George Floyd durante uma acção policial captada pelas redes sociais levou ao ressurgimento desse movimento e à criação de outros, igualmente movimentos de protesto nas redes sociais, de que são exemplo o #GeorgeFloyd e o #ICantBreath.
Anos antes outro movimento importante para a compreensão da ideologia Woke tinha surgido em reacção ao drama social da discriminação e agressões sexuais. Tarana Burke, uma ativista social norte-americana em 2006 popularizou a frase “Me Too”. Mais tarde, em 2017 atriz Alyssa Milano, popularizou esta frase num Hashtag no Twitter após uma série de acusações de agressão sexual contra o produtor cinematográfico Harvey Weinstein.
Todos estes movimentos sociais no início incidiam a sua acção na revindicação de uma justiça nas relações socio-económicas. Eram movimentos de denuncia, muitas vezes abusivas, mas de injustiças aos mais variados níveis. Se assim se iniciaram, rapidamente a contestação deixou a exclusividade dos temas sociais e contaminou toda a sociedade. Se de início eram as vítimas que exigiam legitimamente respeito e igualdade, rapidamente se passou de uma defesa das vítimas para um ataque a tudo o que não era vítima. Entrou-se num mundo de culpabilização, onde os muitos injustamente acusados em vez de se defenderem assumiam-se como snowflakes – frágeis como flocos de neve -, e aceitavam expiar culpas de outros, algumas com séculos de história. Era um mundo securitário onde todos os que não são vítimas, são culpados, e tudo se garante desde que se submetam à “ditadura da igualdade e da responsabilização histórica”. É o mundo dos alertas diários, o mundo do confinamento, o mundo hedonista dos prazeres e do virtual, um mundo com medo do presente e pânico do futuro, o mundo de Fahrenheit 451.
Como foi possível evoluir de uma situação de injustiça para outra onde os valores se invertem? Haverá uma conspiração contra o ocidente, como defende Douglas Murray ou apenas um aproveitamento das suas fragilidades? Não sei por que se entrou numa vertigem onde tanta culpa têm os militantes alucinados da esquerda libertária, como os que não têm a coragem de dizer, “O Rei vai nu”. Para compreender-mos melhor esta alucinação temos de ter um “olhar” critico sobre os três princípios que determinam as posições Woke e a que pomposamente designam por “teorias”.
“Teoria crítica da raça”
É eventualmente o conceito mais antigo do movimento. Alicerçado nos movimentos raciais acima descritos, rapidamente evoluiu de uma posição de defesa das vítimas de discriminação, para outra de acusação e condenação de tudo o que não é negro, mas também, de tudo o que se possa relacionar com o homem branco. Evoluiu da defesa dos ofendidos para uma doutrina que dá pelo nome de “teoria crítica da raça”.
O homem branco é o inimigo mesmo que este se descreva como não racista e cabisbaixo, com sentimentos de culpa, reconheça que os de raça negra foram vítimas em muitos momento da história. Não tem perdão possível! A luta dos negros passou de uma luta contra a discriminação para outra em que se condena tudo o que não é negro. Ser-se branco é crime, assim como é crime tudo o faça recordar a opressão do homem branco. Criaram assim o conceito de “branquitude” onde os novos xenófobos condenam todos os indícios e resquícios dessa opressão: o conceito de individualismo e a sua interligação à liberdade, as formas de organização social baseadas na família nuclear, a utilização pela ciência do método científico, a primazia da cultura greco-romana, a tradição judaico cristã, a ética protestante do trabalho, o respeito pela autoridade e pelo trabalho, o ideal de progresso da sociedade, a religião cristã, o espírito de competição, o pensamento racional, a procura da resposta certa, o racismo intrínseco de disciplinas como a matemática e a biologia, a responsabilidade em se ser pontual, ser-se bem educado, entre muitas outras. São todas características civilizacionais atribuídas ao homem branco e como tal manifestações da sua “branquitude”.
Inevitavelmente estes conceitos permearam os meios universitários, tendo encontrado apoio nos alunos e em alguns docentes que engajaram neste léxico por puro oportunismo. Como diz Philip Roth, este é um mundo onde a incapacidade se assume como um privilégio, um mundo onde a leitura e interpretação dos clássicos não é difícil pela sua complexidade, mas apenas por culpa desses autores.
Os de raça negra alinharam neste paradoxo, obviamente impulsionados por motivos históricos, mas o espantoso foi o apoio que estas ideias colheram junto dos caucasianos que parecem encontrar uma “paz de espírito” na expiação de crimes cometidos há séculos. E se julgávamos que estas ideias ficavam restritas a uns poucos na comunidade estudantil das ciências sociais, rapidamente a realidade nos desmentiu quando estes conceitos alastraram a toda a uma comunidade escolar onde nem a classe docente nem as ciências exatas escaparam. A culpa do homem de hoje por ações que ocorreram há séculos, é um caminho de justicialismo que uma vez posto em marcha nos leva longe. Por que não levar a revolta contra os Sapiens sapiens que há 40.000 anos, que vindos de África invadiram a Eurásia e dizimaram todas as outras espécies de hominídeos existentes? Por que não recuperar os genes dos Neandertais que persistem no nosso genoma e corrigir essa injustiça histórica? E, por que não ir mais atrás erradicar o Tiktaalik, animal do meio aquático que viveu há cerca de 375 milhões de anos e que evoluiu para anfíbio e com essa “injustiça infame” deu origem ao reino animal terrestre cuja evolução terminou nos Sapiens sapiens, os quais agora ameaçam extinguir a vida marinha? Por que não culpar o LUCA (Last Universal Common Ancestor), o primeiro organismo vivo e que acabou extinto na linha evolutiva da sua descendência, e no planeta é o único responsável pelas injustiças de hoje? Por que não ir mais atrás e na linha das ideias que nos ligam ao mundo inorgânico, um mundo que bem vistas as coisas, é de todos o mais equitativo? Por que não regredir até ao big-bang onde, se excluirmos a inflação dos primeiros minutos, tudo começou da forma mais equitativa em que as nossas partículas alguma vez estiveram? Porquê ficar pela raça ou pelo género? O mundo da injustiça e desigualdade é tão mais vasto… Sempre que houve evolução, houve algo que ficou para trás, nunca houve evolução sem injustiça.
“Teoria de género”
A “teoria do género” de uma forma genérica defende que os caracteres sexuais e o corpo são irrelevantes. Há género, e o género não resulta do corpo nem dos seus caracteres sexuais. À nascença nunca poderemos dizer qual é o género de uma criança só pelos caracteres sexuais que apresenta. Temos de esperar que o género se assuma e então, em consciência, essa pessoa indique o género com que se identifica. Para estes “prosélitos” o corpo é só o invólucro de uma consciência que sobre ele tem supremacia. É um conceito na linha de Trofim Lysenco que via a consciência (coletiva, no seu caso) com a capacidade de controlar o fenótipo, e que consequências tão nefastas teve na URSS. Nega-se a biologia? Claro que sim, mas apela-se à “teoria crítica da raça” uma vez que a biologia não é uma ciência exata mas apenas uma manifestação de “branquitude”.
Dado ser a consciência de cada um que a determinar o género, também há lugar para um grande número de indecisos. Há assim os que não tomaram uma decisão e têm uma identidade flutuante, os não-binários que se recusam a ser incluídos nos estereótipos do género, os que a todo o momento têm os dois géneros e os que vão alterando o género consoante condições que podem ser tão prosaicas como a extensão da fila para a casa de banho.
Mas como pôde o ocidente enveredar por esta loucura? Ao certo não sabemos, mas ela não difere muito de uma outra realidade, a “realidade virtual”. Consequência ou não do mundo virtual, a “teoria de género” é algo que os Woke não exploram devidamente. Se a escolha é ditada por uma consciência dissociada do organismo (ideia tão absurda que até me custa escrevê-la) e, se esperamos que uma consciência “madura” decida o género, por que não também a espécie? Bem vistas as coisas há quem se identifique com animais, com plantas, com materiais inorgânicos! Por que não reconhecer também a esses um direito de escolha? Bem vistas as coisas, faz todo o sentido, uma vez que há espécies como as lesmas e as estrelas-do-mar que não têm sexo “atribuído à nascença”. São um pouco como os não-binários ou os de identidade flutuante.
“Teoria da Intersessionalidade”
Esta é a terceira formulação em que o Wokismo assenta. Tal como as outras duas, parte de pressupostos com alguma razoabilidade para depois evoluir para um mundo Kafkiano.
Dizem os Woke que numa pessoa podem coexistir vários factores de exclusão. Uma mulher negra é socialmente sempre mais desprotegida que uma branca ou um negro. Dizem os proponentes desta teoria que estas condicionantes negativas apresentam interconexões e se potenciam no sentido do resultado final ser superior ao somatório das partes. Parece haver alguma lógica nisto. Agora afirmar que a presença destas desvantagens deve ser tomada como vantagem perante quem as não possuam, é pressuposto completamente descabido. Dizem os defensores da “intersessionalidade” que para um dado cargo o mérito não pode ser um critério de escolha porque este resulta sempre das condições em que o mesmo foi obtido. Para os desta linha de pensamento, o mérito é um factor negativo. Não interessa se para um dado cargo existe alguém com mais mérito, pela “teoria crítica da raça” se é negro (a melhor das cores) tem vantagem, a que se acrescenta, ser mulher, LGBTQ+, obesa, ambientalista, ativista climático, GINK (green inclination, no kids), etc. Os intersessionalistas argumentam que as minorias dos excluídos não só devem protegidas como favorecidas activamente porque se são desfavorecidas é porque outros as oprimiram e tiraram proveito disso. É trocar o mérito pela sua ausência numa sociedade que só consegue funcionar porque os Wokes vivem num mundo virtual que ainda não entrou em choque com a realidade porque outros há que continuam a garantir-lhes as necessidades mínimas.
Os Wokes a ciência e a cultura trans.
É aqui que estes prosélitos entram no clímax do perigo. Se alguém quer sentir-se culpado por agressões de há centenas de anos, ou olhar-se ao espelho e achar que corpo e consciência são independentes, são considerações que só me fazem sorrir. Agora, assistir ao ataque que esses sequazes fazem à cultura, a entrada e adesão das suas ideias no sistema educativo e no desenho dos programas, assistir à complacência dos docentes universitários, os guardiões da nossa cultura, ver como de uma posição de defesa das vítimas se remete para o ostracismo todos os desalinhados e os que não concordam com esta nova “cultura”, isso deixa-me … Para mim, sempre foi difícil entender como é possível negar-se o óbvio. Mas é possível e todos os não alinhados são “reciclados” compulsivamente. O “spook” de Philip Roth já aí está.
Dizem os Wokes que a ciência ocidental assenta no conhecimento do homem branco e por isso está repleta de injustiças. A matemática permitiu contar os escravos, é por isso culpada de racismo. O ensino da matemática deve então passar a pautar-se por o de uma matemática antirracista. Não há preocupação com a verdade, o resultado certo é uma manifestação de uma matemática racista. A matemática deixa de ser uma ciência e passa a ser uma religião com crentes, eleitos e prosélitos. Seguem o “princípio de Assante” – a objetividade é apenas a subjetividade coletiva. Olham para ciência como uma manifestação dos privilégios do homem branco e criaram o #ScienceMustFall cuja designação é suficientemente explicita. A biologia é outro exemplo onde o conhecimento ficou contaminado pela epistemologia do ponto de vista, havendo uma biologia boa, a ginocêntrica, e uma má, a masculina, uma ciência falsa, politizada, patriarcal, viril e colonial.
Claro que a ciência é apenas uma narrativa, uma forma de descrever a realidade, podendo por isso em qualquer altura ser negada pela evolução do conhecimento. Uma ciência permite sempre o contraditório – Karl Popper. Na “ciência Woke” não há lugar para o contraditório. Todas as afirmações são dogmas aceites como tal, mesmo que a realidade os contradiga. Há sempre a possibilidade de encontrarem respaldo num mundo virtual, um mundo de onde nunca deviam ter saído.
Para os Woke a epistemologia está contaminada pelos pontos de vista. Nesta nova forma de relação com o conhecimento este será sempre privilegiado se vier de uma mulher, negra, trans e obesa, a melhor das combinações “intersessionais”. E não pense que esta forma circular de pensamento está restrita a alguns casos esporádicos.
Na Europa muitos são os países que têm aprovado legislação alinhadas com a “teoria de género” e a “teoria crítica da raça”. Em Portugal foi recentemente aprovada legislação para “proteção da liberdade de género” denunciada por José Ribeiro e Castro em “Uma bebedeira de extremismo e de loucura”, publicado no Observador a 24 Janeiro.
Só que em Portugal, os nossos deputados, tirando os do BE e a “tontinha do PS” que pinta as unhas durante o plenário, não creio que intuam alguma consistência e veracidade no que aprovaram, mas para todos os efeitos, aprovaram-nas porque são medidas que ornamentam um estado securitário e colocam o cidadão cada vez mais dependente da benevolência dos governantes.
Noutras paragens a agressão ao mundo e cultura ocidental foi ainda mais longe. O “governo Woke da Nova-Zelândia” entendeu por bem introduzir a magia e bruxaria tradicional Maori como disciplina de ensino nas universidades, não nas disciplinas de antropologia onde faria todo o sentido, mas a par da biologia e genética, para que os alunos tenham uma abertura para outras formas de descrever o mundo. É como se a nossa “deputada das unhas, viesse a propor que os saberes do Padre Fontes fossem ensinados nas escolas de Medicina a par das disciplinas de farmacologia e clínica.
Tal como no romance Fahrenheit 451, no mundo actual é possível reconhecer uma sociedade sujeita a tantas causas fraturantes capazes de provocar a destruição da cultura e do legado dos antepassados que creio que o mundo distópico de Ray Bradbury pode estar, não ao virar da esquina, mas à nossa porta, se é que já não entrou e se instalou no nosso superego.