No passado dia 6 de Abril tiveram lugar, mais uma vez, as Caminhadas pela Vida, realizadas em 12 cidades portuguesas: Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Guarda, Lamego, Lisboa, Porto e Viseu. Foi notória a adesão do episcopado nacional, bem como a indiferença da comunicação social que, na sua maioria, ignorou as doze manifestações pró-vida, numa atitude censória contrária à liberdade de expressão, supostamente conquistada no 25 de Abril de 1974, há quase cinquenta anos.
As Caminhadas pela Vida não são uma novidade, pois se realizam anualmente em cada vez em mais cidades de Portugal continental e insular: no ano passado ocorreram em dez cidades, tendo contado com a participação de 27 mil pessoas. São, como é apanágio das organizações que as promovem, nomeadamente a Federação Portuguesa pela Vida (FPV) e a Associação de Defesa e Apoio à Vida (ADAV), manifestações de carácter popular e familiar, que congregam, em todo o país, milhares de pessoas de todas as condições sociais, etnias e religiões. Não têm qualquer carácter partidário, porque estão abertas a todos, sem se deixarem apropriar por nenhuma ideologia, ou partido político. Bem o disse o Jornal da Madeira: “Caminharam por todas as vidas humanas. Caminharam para defender todos os seres humanos, principalmente, os mais fracos e os mais vulneráveis. Caminharam para defender a vida desde o momento da conceção até à morte natural” (JM, 10-4-24).
Embora estas manifestações cívicas não sejam confessionais, cada vez mais Bispos apoiam esta iniciativa. Não é de estranhar, pois a Igreja católica é a instituição que, a nível nacional e mundial, mais promove a vida e a dignidade dos seres humanos, não apenas ao nível dos princípios, mas também através de uma extensíssima rede de instituições de carácter social – escolas, creches, dispensários, hospitais, centros de dia, clínicas, etc. – sobretudo para os mais necessitados.
Este ano, não foi excepção o apoio do episcopado português às Caminhadas pela Vida, embora seja insuficiente a mobilização das paróquias e movimentos eclesiais.
Como assinalou o Patriarca de Lisboa, “a vida é o principal caminho de verdade, a principal via para chegarmos até Deus”. D. Rui Valério assinalou que “a vida é o grande dom que Deus criou e ofereceu ao mundo e particularmente à humanidade”. Consciente da importância destas manifestações, o Patriarca de Lisboa convidou, “com grande veemência, a participar nesta caminhada”.
Também a diocese portucalense se associou às Caminhadas pela Vida, a convite do seu Bispo, D. Manuel Linda: “A nossa sociedade ocidental, que criou os direitos humanos, tão belos, tão evangélicos, infelizmente despreza a vida. Os que acreditamos na vida, quer católicos, quer outros homens e mulheres de boa vontade, somos chamados a dizer que não há valor nenhum superior ao valor da vida”.
O Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, convidou todos a participar na Caminhada pela Vida e lembrou que, em Março passado, a vida sofreu uma grave derrota: “Chegou-nos o eco de que num país europeu, a França, se procedeu à consignação constitucional do direito ao aborto. De facto, é um retrocesso civilizacional e uma preocupação grave. Saibamos ser sim à vida, que Portugal responda neste sim à vida. Évora: levanta-te, participa, vai ao encontro e mostra a tua opção pela vida”.
Para o Arcebispo de Braga, defender a vida “é dever de todos”, de um modo particular dos cristãos, “defender sempre a vida e promover a dignidade de todos os seres humanos”. Segundo D. José Cordeiro, “participar na Caminhada pela Vida é, por isso, um gesto que demonstra, antes de mais, gratidão por este dom que Deus nos dá e é, sobretudo, um alerta para que todos se sintam comprometidos em erradicar na nossa sociedade tudo aquilo que representa um atentado à vida e à dignidade dos filhos de Deus”.
Por sua vez, o Bispo de Viseu, D. António Luciano, recordou que a “vida é um dom precioso”, que se deve estimar, valorizar e dignificar: “A vida do nosso semelhante deve ser respeitada (…). Nós devemos colaborar, ajudando a dignificar a sua vida e a respeitá-la, a vivê-la em plenitude desde a concepção e até à morte natural. Que sejamos todos a favor da vida!”.
Tendo em conta que são recorrentes os ataques contra a vida humana no seu início e termo natural, pelo aborto e a eutanásia, respectivamente, também o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro Ramos, que gravou a sua mensagem na Vigília Pascal, quando os cristãos, recordando a ressurreição de Cristo, celebram a “vitória da vida”, apelou ao respeito pelos mais vulneráveis: “A vida tem sentido, desde o momento da conceção e até à morte natural. Nós queremos caminhar pela vida, em todas as suas dimensões, e queremos caminhar pela vida sobretudo apoiando os mais frágeis.”
Não são manifestações contra ninguém, mas pela vida, desde a concepção e até à morte natural: é por este motivo que são acções contra o aborto e contra a eutanásia, porque não se pode defender coerentemente a vida humana sem lutar contra as suas principais ameaças.
É bom que se diga e repita que o movimento pela vida não tem conotações partidárias. Que assim é, prova-se pelo facto de o Partido Comunista Português ser contra a eutanásia. Pelo contrário, no PSD, apesar de ser um partido mais à direita, o seu anterior presidente, Rui Rio, foi um acérrimo partidário do aborto e da eutanásia, cuja lei foi recentemente promulgada por outro antigo presidente do mesmo partido, que agora o é da República portuguesa, não obstante o preceito constitucional que consagra, de forma inequívoca, a inviolabilidade da vida humana (Artº 24º). No entanto, na medida em que essa lei não foi aprovada em referendo nacional, a nova Assembleia da República pode revogar essa norma inconstitucional, pois tem, pelo menos, a mesma legitimidade política e democrática que a legislatura que despenalizou o homicídio a pedido da vítima.
Não obstante a dimensão nacional do dia de luta pela vida, a comunicação social quase não referiu este acontecimento, embora nenhuma outra causa política ou social seja capaz de mobilizar doze manifestações simultâneas, em que participaram cerca de trinta mil pessoas de todas as condições sociais, étnicas e religiosas. Este seu silêncio explica, em parte, a substituição dos media pelas redes sociais e o desinteresse dos jovens, que participam massivamente nestas caminhadas, pela comunicação social tradicional.
Com excepção dos media ligados à Igreja católica – Agência Ecclesia, Rádio Renascença, etc. – apenas o Público noticiou que cerca de meio milhar de pessoas marcharam, no Porto, pela vida. Mas, não obstante este ensurdecedor silêncio, há quem não ignore o “povo, que caminha por um Portugal livre e liberto da ideologia da morte” (JM, 10-4-24). Como dizia o poeta Manuel Alegre, há sempre alguém que resiste!