É sabido que o partido que tiver os funcionários públicos e reformados do seu lado, corre o risco de se tornar hegemónico na cena política nacional. Foi com base neste princípio que Cavaco Silva construiu as suas maiorias absolutas. O rendimento deste eleitorado está totalmente dependente do Orçamento do Estado, por isso, estas pessoas fazem pender o seu voto para o partido que lhe garanta as melhores condições de vida. Não se pode censurar um funcionário publico que viu a sua carreia descongelada ou melhorada por votar no partido que lhe deu esse benefício, mas podemos censurá-lo se votar no seu carcereiro.

No tempo de José Sócrates, várias carreiras profissionais da função pública foram congeladas ou reestruturadas, com o objetivo de travar o aumento da despesa. Foi por isso que em 2009 o PS perdeu a maioria absoluta. Mas por que motivo isto aconteceu? Estaria José Sócrates chateado com os funcionários públicos? É claro que não. Tomemos como exemplo os professores. Até ao primeiro governo de Sócrates, todos os professores progrediam automaticamente na carreira. Esta regra foi introduzida  pelos governos de Cavaco Silva. Apesar da cara de poucos amigos que normalmente apresenta, não podemos subestimar a capacidade de Cavaco para agradar ao eleitorado. Mas seria Cavaco um populista irresponsável, que pôs as contas públicas numa trajetória de insustentabilidade? Podemos questionar a justiça inerente ao facto de todos os professores chegarem ao topo da carreira, mas seguramente que Cavaco Silva não foi irresponsável. Quando José Sócrates começou a  aplicar as medidas de austeridade, um dos argumentos do PS foi o de que Cavaco Silva era o pai do défice. Algo totalmente falso.

Se Cavaco Silva não foi irresponsável e se José Sócrates não estava chateado com os professores, o que terá originado essas medidas impopulares? A resposta é bastante simples. Quando Cavaco introduziu as regras de progressão na função pública, a economia portuguesa crescia a um ritmo notável. Por este motivo essa medida seria sustentável. Com uma economia maior, seria perfeitamente possível pagar melhor aos funcionários públicos e reformados. O problema esteve no facto de Guterres ter iniciado um período de letargia económica que dura até aos dias de hoje. Sócrates, Passos Coelho e António Costa, lidaram com uma economia anémica, que não gerou recursos suficientes para pagar melhor aos funcionários públicos e reformados.

A narrativa da esquerda durante o tempo da Troica, faria com que Passos Coelho ficasse com ónus desta situação. Sem margem orçamental, António Costa financiou a reposição dos cortes na função pública e nos reformados com a deterioração dos servições públicos e com mais um enorme aumento de impostos.

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As estruturas sindicais estão alinhadas com a ideia de um estado gigantesco, mas não por motivos ideológicos, isso pouco lhes interessa. Os sindicatos sabem perfeitamente que quanto maior for o número de funcionários públicos, mais reforçado sairá o seu poder e o poder dos partidos que lhe estão inerentes. Deste 2015 que o número de trabalhadores do estado não tem parado de crescer. Mesmo que tenhamos cada vez menos alunos e que os serviços estejam cada vez mais informatizados. Os sindicatos enganam os seus associados, ao perpassarem a ideia de que quantos mais funcionários públicos melhor. Qualquer pessoa bem informada sabe que quanto mais trabalhadores o Estado tiver, maior será a dificuldade em melhorar as condições laborais dos mesmos.

De 2015 para cá os portugueses que dependem do Orçamento do Estado convenceram-se de que a esquerda defendia os seus interesses. É esta a floresta de enganos em que essa gente está perdida. Sem um forte e sustentado crescimento económico, que possa garantir uma maior arrecadação fiscal, sem que isso implique um aumento de impostos, os funcionários públicos e reformados irão continuar a marcar passo. Mesmo que se deixem ludibriar pelas ilusões do PS, elas de nada servirão na hora de pagarem a suas contas.

Em 2015, poucos dias depois de tomar posse, Mário Centeno afirmou que os portugueses que ganhavam mais de 2000€, pertenciam a uma classe privilegiada. Estas declarações mostraram a total falta de ambição que o PS tem para o país. Em 2015 esse era o salário mínimo no Luxemburgo. Para que os portugueses tenham a noção da situação de pobreza em que estão, segundo o PS uma pessoa privilegiada em Portugal ganha o salário mínimo no Luxemburgo. Há cerca de dois anos, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, oferecia a um investigador um salário inferior ao de uma empregada de limpeza num qualquer país do centro da Europa. Isto acontece porque a economia portuguesa não cresce. Qualquer pessoa minimamente instruída sabe que os salários não aumentam por decreto. Para que um país tenha um bom nível salarial, tem de fazer reformas estruturais que conduzam a um persistente crescimento económico. Enquanto as pessoas que dependem do estado não se convencerem desta realidade, vão continuar a ser vítimas das suas escolhas eleitorais.

A esquerda portuguesa já deu provas suficientes, de que não tem a mínima ideia do que é preciso fazer para que economia portuguesa melhore de forma substancial. Por este motivo resta-lhes a mentir de forma escandalosa às suas maiores vítimas. Os pobres, os funcionários públicos e os reformados vão continuar a ouvir da esquerda falsas juras de amor. Irão continuar a assistir ao lançamento de novos programas de apoio às famílias mais pobres, ao anúncio de aumento dos salários da função pública e do rendimento dos reformados. Nos momentos de maior aperto, verão o PS a agitar o fantasma da austeridade da Troica. Mas no fim do dia terão as mãos cheias de coisa nenhuma ou na melhor das hipóteses terão um voucher.

Tal como na obra de Gil Vicente a Floresta de Enganos, também aqui não se sabe muito bem quem é o enganado e quem é o enganador.