A profissão de médico veterinário, subestimada em termos de risco, tem vários perigos diários que podem comprometer a saúde física dos profissionais. Estes riscos ocupacionais, que abrangem desde mordeduras de animais até exposição a radiações e agentes químicos, tornam necessário a criação de um regulamento de segurança.

Primeiramente, é importante reconhecer os riscos físicos que os profissionais de saúde veterinária enfrentam no contato com animais, sobretudo os de grande porte, o que pode resultar em lesões graves, como mordeduras, arranhões e acidentes com agulhas ou instrumentos cortantes.

A própria manipulação destes animais, quer durante exames físicos ou intervenções cirúrgicas, requer posturas muitas vezes inadequadas que motivam lesões músculo-esqueléticas, como lombalgias e cervicalgias, afetando diretamente a qualidade de vida destes trabalhadores.

Além disso, há o perigo constante de riscos biológicos na forma de doenças zoonóticas, transmissíveis entre animais e humanos. A manipulação de animais doentes ou a falta de equipamento de proteção individual adequado pode transformar um exame de rotina num episódio de contágio, com consequências graves para o profissional. Estes riscos são ainda mais acentuados nas áreas rurais, onde os veterinários muitas vezes lidam com grandes rebanhos, aumentando a probabilidade de exposição a patógenos.

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Outro fator alarmante são os riscos químicos. Durante cirurgias, os anestésicos inalados libertados pelos animais em recuperação permanecem no ar, expondo os profissionais a potenciais efeitos adversos. Além disso, os medicamentos veterinários, como antibióticos e citostáticos, podem ter efeitos mutagénicos ou teratogénicos, contribuindo para um ambiente de trabalho perigoso se as devidas precauções não existirem.

Adicionalmente, a ausência de regulamentação específica em Portugal para a profissão torna a situação ainda mais preocupante. Se na medicina humana os equipamentos de proteção individual e as normas de segurança estão bem estabelecidos, na saúde veterinária, estas mesmas práticas são frequentemente negligenciadas, uma vez que há locais de trabalho que não dispõem de sistemas adequados para a contenção de produtos químicos ou de mecanismos ergonómicos, como mesas de altura ajustável, expondo os profissionais a lesões crónicas e cumulativas ao longo da carreira.

No entanto, os riscos físicos e biológicos não são os únicos desafios. O impacto psicossocial na saúde mental dos veterinários é uma realidade preocupante. Estudos científicos revelam que os médicos veterinários apresentam níveis significativamente elevados de burnout, com uma prevalência de depressão. Estes factos mostram a urgência de se implementar políticas de apoio psicológico no ambiente de trabalho, além de melhores condições laborais que ajudem a mitigar o impacto emocional associado a esta profissão.

Portanto, a regulamentação da profissão de médico veterinário não pode ser adiada por mais tempo. O setor veterinário precisa de um conjunto de normas que assegure a correta utilização de equipamentos de proteção individual ou campanhas de consciencialização sobre a importância de uma adequada proteção contra riscos químicos e biológicos. Estas medidas ajudariam a diminuir a taxa de acidentes de trabalho, promoveriam um ambiente mais seguro e saudável e aumentariam a satisfação dos profissionais.

Em síntese, o reconhecimento da profissão de médico veterinário como profissão de alto risco é apenas o primeiro passo. A urgência de um regulamento específico e eficaz para garantir a sua segurança deve ser uma prioridade nas políticas de saúde ocupacional. É inaceitável que estes profissionais, cuja dedicação ao bem-estar animal e à saúde pública é inquestionável, continuem a trabalhar em condições perigosas.