Nascemos em Portugal entre os anos 80, 90 e 2000, factor que não pudemos, nem queríamos controlar. Uns já não são tão jovens, mas independentemente da década, todos sofreram com a crónica falta de oportunidades. Como poderíamos sequer querer ter nascido noutro local, quando este cantinho à beira-mar plantado se revela tão bonito, tão histórico e tão nosso? Não queríamos, não queremos. Se Portugal sempre foi um país de esperança, não pode deixar de ser um país de oportunidades, onde podemos escolher e onde o mérito é reconhecido.
Infelizmente cada vez menos somos donos do nosso destino, e quando damos por nós, estamos por essa Europa fora, a lutar por realizar aquilo que sempre sonhámos. Por aprazível e indispensável que se revele a liberdade de circulação, esta deve ser opcional, e não um pressuposto praticamente obrigatório se ambicionamos mais.
Infelizmente, mais de 40 anos de voto (in)útil que empossaram governos PS/PSD, mais uns aliados do costume, nunca tomaram medidas para que nascer em Portugal, não fosse sinónimo de nascer preso, numa gaiola dourada por fora, bafienta por dentro, chamada “Estado”. Um estado excessivamente intrusivo e burocrático, no qual tropeçamos e vemos tropeçar os nossos projectos.
Desenrascamos então, no estrangeiro. Diz o artigo 2º da Lei de bases do sistema educativo, por declinação da tal sagrada Constituição, que todos os portugueses têm direito à educação e à cultura e que o Estado deve promover uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso a sucessos escolares. No percurso escolar obrigatório a única igualdade que existe é a da morada, não permitindo que as famílias escolham o melhor para as suas crianças e jovens. No ensino o obrigatório não é apenas um percurso de 12 anos, é onde somos obrigados a fazer esse caminho. E os estudantes universitários sabem igualmente que é falacioso falar-se em igualdade de oportunidades no acesso a sucessos escolares: Pois mesmo aos que necessitam, o Estado “oferece” bolsas de rendimentos “se”. E o se, em si mesmo já é discriminatório, visto que contempla uma série de critérios alheios aos estudantes. Mesmo assim, se passarmos no rigoroso escrutínio deparamo-nos com formulários e papelada infindável, para dar ao Estado informação que o Estado já tem. Com tantos “se” e a falta de opções, uma vez mais, Desenrascamos: deixando os sonhos em stand by, cancelando-os ou emigrando.
Em 2020 o Reino Unido foi o destino preferencial dos portugueses para estudar. Este país, tem um sistema de financiamento directo ao aluno, e não às instituições como acontece em Portugal, sendo económica e socialmente mais vantajoso, garantindo uma justa igualdade de oportunidades. Este é um exemplo de medida liberal para a educação e que está comprovado: funciona.
Liberdade de escolha e responsabilidade, aquilo que deve definir todas as medidas liberais.
Mas e se sonharmos com o nosso próprio negócio? Nesse caso, o nosso empreendedorismo será penalizado com mais burocracias e uma panóplia de taxas e taxinhas, sendo que se quisermos aumentar os salários aos funcionários, feitas as contas, com o sistema actual, pagamos mais ao Estado que ao funcionário. Numa perspectiva inversa existem, portanto, poucas empresas, pouca concorrência e os patrões não conseguem aumentar salários. Os jovens vêem-se agarrados a um emprego, sem possibilidade de arriscar, de se mobilizarem no mercado, com medo de perder o “pouco” que já têm: O “luxo” de ter emprego.
Mas desenrascamos. Arriscamos e empreendemos. Ou não e estabilizamos naquele emprego que era suposto ser transitório, “mas não paga mal”. É o que temos. É o que nos é dado.
E no meio disto tudo, ansiedade e depressão. E um SNS com falta de psicólogos, quando os recém-formados em psicologia têm falta de emprego.
Na ausência de recursos económicos, ir ao privado não é opção para quem não trabalha para o Estado, pois este não contempla a ADSE ou um similar, para todos os seus cidadãos. Desenrascamos, com um victan. Não conseguimos ter casa própria nem alugar por culpa de leis rígidas. Desenrascamos coabitando com colegas.
Não temos liberdade de constituir família, de estudar, nem de investir ou trabalhar. Como alguém definia, insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar coisas diferentes. Por muito difícil que pareça agora, está nas nossas mãos, jovens, mudar. Fazer uma revolução cultural, assente em ideias liberais, para deixarmos de ser “os rasca”, os “à rasca” e “os desenrasca” e sermos os que mudaram algo, os que evoluíram e fizeram progredir. Sem paternalismos, mas igualmente sem extremismos. A História já nos mostrou que os extremos, “Não, obrigada”. Para que não tenhamos de desenrascar mais nada e tenhamos o futuro que desejamos e merecemos.