Os conservadores dizem que a esquerda falhou, clamam pela família tradicional, lamentam a ausência de um líder consensual, vangloriam-se da sua pureza ideológica, apontam o dedo àqueles que são apanhados nas circunstâncias da miséria causada pelo sistema socialista perpetuado neste Portugal polarizado à esquerda.

No entanto, esta direita tem feito muito pouco para além de (tentar) levar os culpados a julgamento. O centro direita apagou-se e rendeu-se ao sistema, sem oposição, sem propostas e sem soluções com a agravante de ter entregue de bandeja as causas sociais à esquerda.

A esquerda, por sua vez, apropriou-se da palavra “liberdade” e deu-lhe o significado que desejou, comummente não aplicável a quem não concorda com os seus ideais. Vendeu-nos uma ideia dogmática, mas hipócrita, de serem os defensores da democracia e das causas sociais. Acenam-nos com a utopia da igualdade, e diabolizam a equidade.

Falam-nos de um Sistema Nacional de Saúde único e da escola pública, mas são clientes de um qualquer seguro de saúde que lhes permite a ida a todos os prestadores de serviços, bem como frequentaram e inscrevem os seus filhos em colégios privados. Perpetuam um sistema desigual de falta de liberdade, enquanto enchem o peito para falar sobre ela.

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Esquerda e Direita lutam e argumentam sobre o passado. Diria, mesmo, que vivem no passado. Os seus intervenientes enchem-se de si próprios, aproveitando as suas próprias personas políticas para construírem uma identidade baseada em supostos valores que ostentam como se de clubismo se tratasse.

As duas equipas discutem qual foi o mais sangrento regime ditatorial, quem governou pior, quem tem o direito à palavra e quem deve ficar na sombra. E isto vai acontecendo enquanto Portugal vai sendo (des)governado ao sabor da maré.

No meio de tudo, ocorre-me dizer que ninguém parece muito preocupado com problemas reais.

Somos um país pobre, com um problema de falta de produtividade, entre vários factores, os especialistas apontam a elevada carga fiscal e o nível salarial de partida. Parece-me que isto não tem sido relevante para a esquerda, que penaliza cada vez mais quem tenta criar emprego numa tentativa de tornar uma sociedade dependente por completo do paternalismo estatal que misericordiosamente atira umas migalhinhas em subsídios ao povo conformado que vê esta acção com satisfação.

Somos um país em que a sagrada Constituição declara o direito à habitação, mas existe um imposto sobre os imóveis.

Somos um país em que o povo já se habituou à estagnação, sem questionar.

Há a sensação de sufoco e de falta de perspectivas de futuro. De acordo com a minha visão, falta aos políticos perspectivas de futuro (genuínas), vivem da direita à esquerda de mágoas e vitórias de outrora, têm excesso de passado, excesso de discussões. Excesso de passado, é depressão. Vive-se uma depressão política colectiva.

Está na altura de dar (e não digo devolver, porque em Portugal nunca tivemos) o poder às pessoas. A liberdade de serem como quiserem, responsavelmente livres. Está na altura de abandonar as visões colectivistas e abraçar as diferenças que irão permitir que cada um seja melhor, mais feliz, mais produtivo.

Está na altura de desburocratizar Portugal e introduzir um modelo social nunca antes aplicado aqui, mas que tem trazido prosperidade a todos aqueles países que o têm aplicado.

Está na altura de abandonar o passado, guardando na memória as suas lições, mas não permitir mais que este continue a definir o medo que ainda temos da mudança e do progresso.

Chegou o momento de deixarmos de nos alinhar por baixo e ainda agradecer pelas pequenas migalhas que nos vão sendo atiradas.

O futuro não é conservador, nem é tampouco socialista. Estes foram os regimes do passado, que nos prenderam e continuam a prender social e economicamente. Não sendo regimes que nos tenham trazido boas memórias é inequívoco que não faz sentido aderir ao retrocesso de atribuir força a estas ideias.

O futuro é daqueles que o ouvem chegar. O futuro é liberal.