Sabemos que os provérbios são ensinamentos retirados de experiências de vida e que transmitem conhecimentos e sabedoria popular. Num exercício de curiosidade, revi alguns e apliquei-os às disciplinas da gestão e da liderança.

Por exemplo, o provérbio “amigos, amigos, negócios à parte” é uma recomendação muito sensata que assenta na ideia de que os amigos não serão os melhores colegas, parceiros ou sócios. De facto, os melhores parceiros e sócios deverão ser pessoas com quem já trabalhámos e com quem partilhamos a mesma cultura.

Também “a noite é boa conselheira” se aplica com muita sabedoria, transmitindo a ideia de que, em situações de conflito, não devemos reagir instantaneamente, mas antes ponderar bem o que está em jogo para tomar boas decisões e intervir com prudência.

De “a união faz a força” retira-se um bom ensinamento para a liderança de equipas que se pretende coesa, motivada e funcional. Uma boa comunicação sobre os objetivos da empresa é fundamental para garantir que todos os colaboradores sintam que fazem parte da equipa e que o seu contributo é valioso para os resultados.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O ditado “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura” recorda-nos que a paciência e a persistência são qualidades necessárias para atingir objetivos, tanto pessoais como profissionais.

A “cada cabeça sua sentença” é uma ideia que deve estar presente nos gestores (de empresas e de pessoas), por destacar que a diversidade de pontos de vista é muito mais enriquecedora do que apenas uma visão isolada, permitindo-nos ter soluções variadas, mais criativas e possivelmente mais eficazes.

O provérbio “casa de ferreiro, espeto de pau” alerta-nos para algo que frequentemente acontece com muitas empresas: desenvolver para os clientes um trabalho com um determinado nível de qualidade e não aplicar essa qualidade à sua própria empresa. A mesma ideia está subjacente no “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”, que se contesta claramente, uma vez que a teoria da liderança defende que o exemplo do líder cria uma determinada cultura e molda os comportamentos dos colaboradores. Portanto, o líder tem de fazer aquilo que afirma dever fazer-se.

Os portugueses, orgulhosos das suas qualidades de desenrascar e de resolver problemas à última hora, deveriam tomar também atenção à sabedoria popular que diz “depressa e bem não há quem” e que nos ensina que o trabalho de qualidade necessita de um maior investimento de tempo, especialmente em projetos que requerem talento e estratégia.

Em situações de crise, o “homem prevenido vale por dois” é particularmente importante, pois aconselha uma cultura de cautela e prevenção, desenvolvendo cenários alternativos para enfrentar as adversidades. Muito associado a este está o provérbio “mais vale prevenir do que remediar”, recordando-nos que a estratégia empresarial permite-nos identificar o percurso a trilhar para alcançar as metas pretendidas. A ausência de uma estratégia resulta, muitas vezes, em soluções que servem apenas para remediar situações económicas, relativas ao mercado, à concorrência e aos clientes e parceiros.

Ao pensar-se em estratégias, deve ter-se em consideração que “quem tudo quer tudo perde”. É imperativo definir prioridades. Este provérbio pode ainda ser aplicado nas negociações, com o pressuposto de que uma boa negociação é aquela que garante que todas as partes envolvidas ganham alguma coisa.

“No meio está a virtude” é um excelente princípio de vida que apela ao nosso bom senso e moderação, evitando posições e pensamentos mais extremistas. O mesmo nos ensina o ditado “nem oito nem oitenta”. É difícil gerir bem uma empresa ou liderar bem uma equipa com atitudes e comportamentos mais radicais. Afinal, ninguém tem interesse em trabalhar com pessoas difíceis.

A sabedoria popular presente em “quem semeia ventos, colhe tempestades” relembra-nos que o nosso investimento terá sempre algum resultado. Por isso, a nossa conduta deve pautar-se por disseminar bons princípios, integridade e retidão. Só assim criaremos um bom ambiente de trabalho e uma cultura de empresa que orgulha todos os colaboradores.

“O saber não ocupa lugar” inspira-nos a investir continuamente  em conhecimento e aprendizagem, excelentes recursos para nos edificarmos como seres humanos e nos desenvolvermos profissionalmente.

É, por fim, importante rodearmo-nos de pessoas exemplares que nos inspirem com o seu carácter e desempenho profissional – uma ideia assente no provérbio “junta-te aos bons, serás como eles, junta-te aos maus, serás pior do que eles”. Este é um excelente conselho que podemos retirar da sabedoria popular: o de que as pessoas se influenciam mutuamente no mesmo contexto.