Nos dias que correm os cães são parte integrante das nossas vidas. Quer tenhamos ou não, quer gostemos ou não, a probabilidade de sairmos de casa e encontrarmos um cão é muito elevada.
O cão, como animal domesticado que é, há muitos anos que detém uma capacidade intrínseca para nos entender e moldar-se às diferentes situações a que estamos sujeitos durante toda a nossa vida. São ases na arte de nos conhecer e nada lhes escapa – desde o nosso tom de voz, passando pelos nossos gestos e inclusivamente os odores que libertamos, através dos quais são capazes de aferir o nosso estado emocional.
Mas será que o contrário também se verifica? Estaremos, todos nós, devidamente preparados para conviver com os cães, conscientes das suas características específicas e dos seus comportamentos naturais?
A verdade é que, do ponto de vista de bem-estar dos cães, há ainda um longo caminho a percorrer para coabitarmos de forma harmoniosa com eles. Urge que a sociedade aprofunde o seu conhecimento sobre estes fantásticos animais.
Nesta era de pós-modernidade em que vivemos, com vários padrões de respeito e liberdade instituídos, um cão não pode representar apenas essa simples palavra de três letras. O cão, tal como todas as outras espécies, tem características e comportamentos específicos que devem ser, em primeiro lugar, conhecidos, de seguida entendidos e, por último, respeitados. Entender – sob a forma de compreender as diferentes maneiras sobre como expressam os seus comportamentos naturais – é o elixir que permitirá diminuir drasticamente situações potencialmente nocivas, tanto para eles como para nós.
São vários os casos em que situações desconfortáveis podem ser evitadas. Um momento importante, determinante na forma como nos relacionamos com eles, é saber como devemos interagir. Por exemplo, na rua (ou em qualquer outro lado) não é correto acariciar ou até mesmo tocar sem pedir a autorização dos donos, tal como devemos sempre abordá-los de forma tranquila, sem lhes impor a nossa presença.
Torna-se ainda mais crítico quando falamos da interação entre cães e crianças. Sendo estas últimas muito propensas à imprevisibilidade no que toca a movimentos e tendo em conta a sua ingenuidade, acresce o risco de se gerar um mal-entendido entre a criança e o animal. Neste caso, será sempre extremamente importante a supervisão dos pais.
Por outro lado, há vários sinais dados pelos cães que não exigem uma extrema atenção da nossa parte. Ao contrário do que muitos possam pensar, o ato de rosnar não se trata de um ato de pré-agressão, mas sim de um aviso que nos é transmitido pelo animal. Um aviso que se pode dever a motivos vários, mas que apenas tem um significado: um óbvio desconforto que deve ser liminarmente respeitado.
Enquanto seres humanos, é perfeitamente normal que a nossa própria perspetiva do que nos rodeia seja a que está definida por padrão, aquela que tendemos naturalmente a utilizar. Contudo, uma boa parte dos inconvenientes que resultam destas interações desajustadas poderão ser evitados caso nos esforcemos por abraçar com maior frequência a perspetiva dos nossos companheiros caninos.
Estando há muito ultrapassados os tempos em que um cão era visto somente como um animal de companhia, é tempo de fazermos um maior esforço formativo e educacional para os conseguirmos conhecer, entender e respeitar, retribuindo-lhes de forma justa o carinho e a amizade que nos têm vindo a oferecer ao longo de todos estes anos.